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Bia Haddad mostra ao Brasil do futebol a versão tenística do 'saber sofrer'
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Classificada para as quartas de final de Roland Garros, Beatriz Haddad Maia começa a furar a bolha do tênis, então convém, apenas por um momento, escrever em uma linguagem que esta nação futebolística vai entender: o que a tenista de 27 anos fez nesta segunda-feira, ao vencer um jogo de 3h51min, foi mostrar a versão tenística de "saber sofrer" - uma capacidade que só os grandes possuem nesta modalidade.
No tênis, não se trata de jogar na retranca, esperando uma bola para encaixar aquele contra-ataque que vai decidir o jogo. Ou de se defender contra um time mais forte ou com um homem a mais. O tênis não permite que você faça um ponto e apenas anule o adversário durante o resto do embate. É preciso buscar o jogo o tempo inteiro, e foi isso, entre outras coisas, que Bia Haddad Maia fez contra a espanhola Sorribes Tormo na Quadra Suzanne Lenglen nesta segunda.
No tênis, saber sofrer também é lidar com suas próprias falhas, sem desistir, sem deixar a cabeça "entregar" o jogo. Tecnicamente falando, a jornada desta segunda não foi nada espetacular para Bia. Entre os muitos altos e baixos, a brasileira cometeu falhas de escolha e execução de jogadas. Somou, ao longo de três sets, 65 erros não forçados. Uma quantidade que mexe com a cabeça de uma pessoa normal. É duro tentar vencer um jogo de oitavas de slam assim. É quase impossível evitar que todos esses erros afetem a concentração e a capacidade de seguir lutando. Bia conseguiu. Bia soube sofrer.
E o que dizer das chances perdidas? Haddad Maia sacou três vezes para fechar o primeiro set. Abriu 5/2 e sofreu uma virada incrível. Perdeu um set que deveria ter vencido. Na segunda parcial, viu sua adversária abrir 3/0. Uma montanha para escalar. Bia não desistiu. Fez 6/3. Venceu um set que deveria ter perdido. Mais tarde, na reta final, sacou para o jogo em 5/4. Cometeu três erros e uma dupla falta. Mais uma chance perdida. Desânimo? Exaustão mental? Cansaço físico? Nada disso. Nada abalou a brasileira. Bia ficou. Bia soube sofrer.
"Acho que a chave foi me dar uma chance a mais. Não desistir e acreditar que, ainda que fosse um momento duro, um set abaixo e 3/0 e vantagem para ela, eu podia conseguir. Eu estava acreditando. Olhei para o meu time e disse 'ok, ela mudou o jogo, ela está jogando bem, mas posso conseguir. Vamos acreditar. Acho que mereci por causa disso", disse, em entrevista ao Tennis Channel (veja a conversa no tweet acima).
Uma característica que não brotou hoje na brasileira. Que vem de superar seguidas lesões sérias, além de uma suspensão por doping, e precisar encarar diversos "recomeços" na carreira. Uma força que, aliás, também se manifestou dois dias atrás, quando Bia deixou escapar uma vantagem de 4/1 no terceiro set e precisou salvar match point antes de derrotar Ekaterina Alexandrova na terceira rodada de Roland Garros. Sim, teve isso, e Bia resistiu. Bia soube sofrer.
Mais do que isso: Bia ensina ao Brasil da bola chutada que sofrer no tênis é mais do que uma opção tática ou a consequência de uma lesão de momento. Aqui, saber sofrer é para poucos. É algo raro no circuito, que estabelece a distância entre as prateleiras. E quem sabe sofrer pode ir muito longe.
Coisas que eu acho que acho:
- Altos e baixos em um slam costumam custar caro, mas Bia compensou atuações tecnicamente medianas (para o seu padrão) com força mental, coragem, coração e preparo físico. Nas quartas, contra Ons Jabeur, será preciso mais do lado técnico, e a própria Bia admitiu isso nas entrevistas pós-jogo. "Eu preciso melhorar meu tênis. Os últimos dois jogos foram muito mais na briga, então vou caprichar bastante amanhã no treino, para melhorar meu saque, melhorar a agressividade e vamos ver o que acontece."
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