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Casper Ruud é, mais uma vez, o campeão entre os mortais
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Ano passado, enquanto Rafael Nadal, Novak Djokovic e Carlos Alcaraz dividiam os holofotes, o favoritismo e a mesma parte da chave de Roland Garros, o norueguês Casper Ruud, número 8 do mundo na época, quieto e competente, alcançou a final. Era sua primeira vez em uma decisão de slam, e Nadal, seu ídolo, não lhe deu chances: 6/3, 6/3 e 6/0.
Alguns meses depois, Djokovic não disputou o US Open (não podia entrar no país porque escolheu não se vacinar contra covid-19), Rafael Nadal caiu nas oitavas de final e, enquanto Alcaraz jogava seguidas partidas de cinco sets (contra Cilic, Sinner e Tiafoe), Casper Ruud chegou lá novamente. Passou pelo perigoso Matteo Berrettini, depois pelo russo Karen Khachanov e, pronto, mais uma final de slam. Desta vez, Alcaraz triunfou por 6/4, 2/6, 7/6(1) e 6/3.
Resultados mais do que esperados. Nadal e Alcaraz estão um nível (ou mais) acima de Ruud. É o mesmo caso de Djokovic, que vai encontrar o norueguês na final deste domingo, em Roland Garros. Sim, Casper chegou lá mais uma vez. Derrubou Rune (que, por sua vez, superou Djokovic em Roma) nas quartas e passou por cima de Zverev na semi. Assim, pela terceira vez nos últimos cinco slams, Ruud, quieto e competente, estará em quadra no último domingo. E sim, será absolutamente normal se ele sair derrotado mais uma vez.
Casper, filho de tenista, tem um tênis acima da média. Uma direita capaz de gerar muito spin, uma velocidade de movimentação privilegiada, uma capacidade ótima defensiva, um belo saque e uma esquerda que, se não está entre as melhores do planeta, não é ruim. Mais: Ruud tem uma inteligência acima da média. Sabe construir pontos e jogar com bolas de alta porcentagem, e seu condicionamento lhe permite fazer isso por horas. É o tipo de tenista que cresce em melhor de cinco sets, quando pode trabalhar com menos urgência e tem mais tempo para interpretar e descobrir os pontos fracos do rival naquele dia específico.
Esse pacote invejável, contudo, não coloca Ruud no nível dos "imortais" como Federer, Nadal e Djokovic (e Alcaraz já pode ser incluído aqui, não pelo currículo mas por tudo que consegue fazer em quadra). E não há nada de errado nisso, a não ser na cabeça de quem não entende que o esporte é feito de todo tipo de grandeza. O Big 3 não seria tão festejado se, a cada slam, não houvesse 125 "coadjuvantes" dispostos a ocupar o mesmo espaço físico. E Ruud, em Roland Garros, foi o melhor deles. O campeão entre os mortais. Mais uma vez.
Coisas que eu acho que acho:
- Algumas semanas atrás, um apoiador do blog me perguntou se Ruud seria uma versão moderna de David Ferrer. A comparação é válida, sim, e no melhor dos sentidos. O espanhol era um grande tenista que não tinha armas para derrubar o Big 4/Big 3, mas tirou o máximo de seu tênis. Foi número 3 do mundo e disputou uma final de slam (perdeu para Nadal em RG/2013). Ganhou três Copas Davis e tem um vice do ATP Finals. Em suas principais passagens pelo top 10, ficou mais de seis anos na elite. Federer (17v e 0d), Djokovic (16v e 5d) e Nadal (26v e 6d) têm históricos amplamente favoráveis contra Ferrer, e não é motivo para desmerecer a carreira de um grandíssimo atleta.
- Ruud, 24 anos, vai completar dois anos seguidos no top 10 em setembro. Já tem três finais de slam, um vice de ATP Finals (Djokovic) e um vice de Masters 1000 (Alcaraz) no currículo. Já foi número 2 do mundo (esteve a uma vitória do topo durante o US Open do ano passado). Não derrotar Djokovic (4d), Nadal (2d) e Federer (1d), três dos maiores tenistas da história, seria motivo para desmerecer sua caminhada? Não vejo por quê.
- O mundo seria muito melhor se mais pessoas reconhecessem o devido valor dos Ferrers, Ruuds e tantos outros profissionais competentes, mas que não são os melhores ou os mais ricos de suas áreas (não só no tênis). Gente que faz o seu melhor todos os dias e extrai o máximo - ou quase isso - de seu potencial.
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