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A grama separa os melhores do resto, e é a vez de Alcaraz mostrar por quê

Carlos Alcaraz com o troféu do ATP 500 de Queen"s em 2023 - Reuters
Carlos Alcaraz com o troféu do ATP 500 de Queen's em 2023 Imagem: Reuters

Colunista do UOL

28/06/2023 04h00

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O atual número 1 do mundo, Carlos Alcaraz, conquistou seu primeiro título na grama neste último domingo, no tradicional ATP 500 de Queen's. Não foi lá a mais dura das chaves, é bom dizer, mas o espanhol de 20 anos bateu nomes perigosos na grama, como Grigor Dimitrov, Sebastian Korda e Alex de Minaur. É bom lembrar também que até a semana passada Carlitos não tinha no currículo sequer uma vitória sobre um top 30 nesse tipo de piso.

Antes de ir mais adiante, que fique claro: não acredito que a conquista no Queen's Club faça de Alcaraz grande favorito a Wimbledon. Este status pertence a Novak Djokovic, indiscutivelmente, e com certa folga (mais folga ainda do que nos nas últimas quatro edições do torneio, todas vencidas por ele). Contudo, convém destacar que Carlitos mostrou evolução na grama, fazendo ajustes que o seu jogo precisa para ser mais eficiente em um tipo de jogo que é bastante distinto do que ele pratica no saibro, por exemplo.

Aproveito o fio (veja abaixo) do jornalista Matthew Willis para ilustrar como isso acontece. Em Madri, onde foi campeão, Alcaraz devolvia o primeiro saque posicionado, em média, 4,8 metros atrás da linha de fundo. Na grama, em Queen's, diminuiu essa distância média para 1,4 metro.

Nos vídeos exibidos no fio, também é possível ver como Carlitos fez mais ajustes. Bloqueou mais devoluções e encurtou a preparação dos golpes, o que é necessário diante não só da distância menor, mas também da velocidade maior da bolinha no momento do contato (pelo atrito menor da grama em comparação com o saibro, a bola perde menos velocidade e ganha menos altura após o quique).

Não é exatamente uma revolução tática. Rafa Nadal, outro tenista conhecido por devolver saques bem longe da linha de fundo - especialmente no saibro - fez o mesmo na grama. Como o gráfico do fio mostra, em 2010, quando venceu Wimbledon pela segunda vez, Rafa devolvia o primeiro saque, em média, a menos de um metro da linha de fundo. No saibro, ficava perto de 5m atrás.

O bloqueio na devolução, como Willis aponta, pode ser extremamente eficiente contra rivais que têm um primeiro saque muito potente, mas que não são exatamente velozes na subida à rede e não se sentem confortáveis rebatendo bolas baixas de dentro da quadra. Matthew ilustra esse argumento com Alexander Zverev, mas o alemão não é o único. Logo, devolver mais perto da quadra é um recurso a mais que tenistas como Nadal e Alcaraz incorporam a seu tênis.

No fim das contas, é o que os grandes fazem. Evoluem. Nadal tornou-se um jogador melhor e mais completo para vencer em Wimbledon e seguiu crescendo como tenista mais de uma década depois de levantar o troféu em Londres. O mesmo pode ser dito de Djokovic, que teve de desbancar Federer e Nadal para chegar ao topo. Chegou a vez de Alcaraz mostrar o quanto pode evoluir. O título em Queen's e os ajustes feitos há mostram que ele e sua equipe sabem o que precisa ser feito. Resta saber onde está (e se há) o teto de Carlitos.

Coisas que eu acho que acho:

- A temporada de grama é tão curta e dá tão poucos pontos em comparação com o saibro e as quadras duras que muitos tenistas acreditam que o melhor é seguir jogando em outros pisos enquanto a elite está na grama, preparando-se para Wimbledon. As chaves ficam mais fracas, e essa turma pode conquistar pontinhos suando menos. Além disso, é sempre possível ir a Wimbledon torcendo por um sorteio favorável e, quem sabe, ganhar um joguinho ou outro.

- Vale lembrar que os perdedores de primeira rodada em Wimbledon levam para casa £55 mil, o que equivale a cerca de R$ 330 mil. Para quem acredita que não terá sucesso na grama de modo algum, um cheque gordo assim é até estímulo para quem pensa em aparecer em Wimbledon, fazer um joguinho só (e, quem sabe, também uma primeira rodada de duplas) e voltar para seu piso preferido logo depois.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: mashup de Never Gonna Give You Up (Rick Astley) e Smells Like Teen Spirit (Nirvana) que não consigo parar de ouvir desde que vi Dave Grohl dizer que são, basicamente, a mesma música.

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