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Wimbledon 2023: um megabalanço em 35 parágrafos

Às vésperas das finais, o momento é propício para fazer um balanço do que rolou de mais importante e interessante nos 12 dias do Torneio de Wimbledon. Quem surpreendeu? Quem decepcionou? Quem sai de Londres em alta? E em baixa? E os brasileiros, como foram? E as transmissões de TV? Quem acertou e errou? É disso (e um pouco mais) que o texto de hoje trata nos 35 parágrafos abaixo.

As surpresas

Entre os homens, as surpresas são fáceis de apontar: Christopher Eubanks foi o grande nome aqui, e vale apontar todo o contexto neste caso: Um jovem que até março era rotulado (com razão) como jogador de Challenger e considerando até uma segunda carreira - como comentarista de TV - e agora é top 40, campeão de ATP (foi campeão em Maiorca, também na grama) e quadrifinalista de Wimbledon, anotando vitórias sobre gente como Cameron Norrie e Stefanos Tsitsipas. E ainda levou Daniil Medvedev a cinco sets! O outro nome inquestionável é o do russo Roman Safiullin, que virou um jogo e bateu Bautista Agut em cinco sets na primeira rodada. Depois, aproveitou uma chave mais fraca (Moutet, Pella e Shapovalov lesionado) e foi parar nas quartas de final. Merece o carimbo "chance aproveitada". Com méritos, evidentemente.

Na chave feminina, o nome óbvio é Marketa Vondrousova, a vice-campeã de Roland Garros 2019 que começou o torneio como número 42 do mundo e se tornou a primeira finalista não cabeça de chave da Era Aberta (a partir de 1968) em Wimbledon. A surpresa é maior ainda não só por seu momento nada brilhante no circuito, mas porque até este ano Marketa somava mais derrotas do que vitórias no All England Club. E chegar à final depois de bater quatro cabeças (Kudermetova, Vekic, Bouzkova e Pegula), além de Svitolina, é um feito e tanto. A própria campanha de Svitolina, aliás, merece menção neste quesito porque a ucraniana precisou derrotar quatro campeãs de slam - inclusive a atual #1 do mundo - para chegar à semi (Venus, Kenin e Azarenka foram as outras).

As decepções

Taylor Fritz é o primeiro nome que me vem à cabeça, um pouco pela eliminação na segunda rodada, mas muito pela maneira: levando uma virada de Mikael Ymer na grama depois de abrir 2 sets a 1. É muito pouco para um top 10 que diz ter grandes pretensões no circuito. Também vale incluir aqui o já citado Bautista Agut, que não passou da estreia. No entanto, quem mais merece a menção - com estrelinhas douradas - é Sebastian Korda, que desfilou por aí cheio de soberba, dizendo-se candidato ao título e cheio de chances. Tombou fazendo uma partida burra, tentando bolas de baixa porcentagem o tempo inteiro, diante de um Jiri Vesely que foi presa fácil para Christopher O'Connell na segunda rodada.

Entre as mulheres, Maria Sakkari merece menção por mais uma queda em primeira rodada (já havia acontecido em Roland Garros). Não que perder para Kostyuk seja vergonhoso - longe disso - mas depois de fazer 6/0 no primeiro set torna as coisas um pouco mais doídas. Outro resultado inesperado foi a queda na estreia da vice-campeã de Roland Garros, Karolina Muchova. Em Wimbledon, a tcheca tombou diante da alemã Jule Niemeier.

Aqui vale mencionar ainda a desistência do Tsitsipar na chave de duplas mistas. Sim, até porque o casal Tsitsidosa se transformou em um dos assuntos mais comentados do tênis recentemente. Logo, quando Badosa perdeu na segunda rodada e se lesionou, isso impediu que ela e Stefanos jogassem a chave de duplas mistas. A expectativa, lamento dizer, não era pequena.

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Tropeços menos ou nada surpreendentes

Em circunstâncias normais, uma derrota de Félix Auger-Aliassime na grama diante de Michael Mmoh seria motivo para grande destaque. No momento atual do canadense, nem tanto. Às vezes limitado, às vezes incomodado por uma lesão de joelho, Félix faz uma temporada bem abaixo da crítica. Logo a queda em surpreendeu pouco e Wimbledon repercutiu bem menos. O mesmo vale para Denis Shapovalov, que não teve condições - também por lesão - de competir decentemente quando seu jogo contra Safiullin se alongou.

Aqui vale citar também Casper Ruud, o vice-campeão de Roland Garros que mal foi visto em quadras de grama antes de Wimbledon. O norueguês apareceu mais em shows do The Weeknd do que em torneios preparatórios e disse pra todo mundo ouvir que tinha alergia a grama. Logo, o tombo diante de Liam Broady na segunda rodada não foi nada espantoso. Assim como o WO por lesão após a vitória na primeira rodada de duplas.

Coco Gauff poderia ter entrado no quesito acima, mas ganha uma "promoção" para este tem graças a uma atenuante: sua derrota na estreia veio diante de Sofia Kenin, campeã de slam e que vinha do qualifying com certo ritmo e confiança. Venus Williams também caiu na estreia, mas diante de Svitolina, o que também não espanta a esta altura da carreira da multicampeã. Podia, no entanto, ter se despedido sem a ceninha de falta de esportividade no fim da partida, olhando feio e sem cumprimentar a árbitra.

Karolina Pliskova entra no motivo Casper Ruud: a fase é das piores, e sua adversária vinha do quali. É um revés feio, doído, mas que não surpreendeu nem causou estrago inesperado na chave.

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Quem mais sai em alta

Obviamente, quase todo mundo que chega à segunda semana de um slam sai em alta, de Eubanks a Safiullin, incluindo Lehecka, Dimitrov, Galán, Bublik e até Hurkacz, que perdeu um punhado de raras chances contra Djokovic. O mesmo vale para Bencic, Bouzkova, Tsurenko, Alexandrova e Andreeva (apesar da ceninha no fim do jogo contra Keys). No entanto, vale citar alguns casos não tão óbvios assim.

Matteo Berrettini, por exemplo, é uma dessas histórias. O vice-campeão de 2021 jogou pouco recentemente, por causa de lesão, e entrou na chave desacreditado e fora da lista de cabeças de chave. Em seu único torneio pré-Wimbledon na grama, saiu cabisbaixo depois de tomar 6/1 e 6/2 de Lorenzo Sonego. No entanto, o torneio começou, e Matteo encontrou uma forma de vencer. Passou pelo mesmo Sonego na estreia e ainda bateu os cabeças de chave De Minaur e Zverev. Caiu diante de Alcaraz, o que era esperado, mas mostrando sinais de que seu melhor tênis não está tão longe assim.

Stan Wawrinka, do alto de seus 38 anos, perdeu na terceira rodada para Djokovic, o que nada espanta, mas mostrou flashes de um tênis vibrante e corajoso, como nos seus melhores dias. Bateu dois nomes fortes e jovens como Ruusuvuori e Etcheverry. Nada mau para The Man.

Sofia Kenin deu passos importantes para retomar sua carreira, que teve todo tipo de contratempo nos últimos anos, incluindo briga com o pai/técnico, apendicite, lesões e covid. Em outubro, Sofia estava fora do top 300. Em janeiro, era #280. Sairá de Londres no top 100 pela primeira vez desde março do ano passado.

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As derrotas mais doídas

Beatriz Haddad Maia fazia sua estreia na Quadra Central e jogava contra Elena Rybakina, a atual campeã de Wimbledon, nas oitavas de final. Era a primeira vez da brasileira na segunda semana do torneio, e havia chances de ir mais longa. A lesão com 15 minutos de jogo arrasou os corações de todos que acompanhavam e torciam por Bia. Pior do que entrar em quadra e perder é entrar em quadra e não conseguir competir. Uma pena.

Andy Murray fez uma bela apresentação contra Stefanos Tsitsipas, levando o atual número 4 do mundo a cinco sets. Que o escocês consiga isso com um quadril de metal e 36 anos merece elogios, mas o revés machuca porque Andy sabe que teve chances e não aproveitou. E isso, no torneio grande onde ele acredita que seu jogo pode levá-lo mais longe, dói mais. Sobretudo aos 36, na reta final da carreira, sem saber quantas outras chances assim virão no caminho.

O mesmo vale para Dominic Thiem, eliminado pelo mesmo Tsitsipas na rodada anterior. O austríaco, campeão de slam e ex-número 3 do mundo, vem sofrendo no retorno ao tênis. Seu nível vem oscilando mais do que o desejável, e mesmo nos dias bons, os resultados não aparecem. Em Wimbledon, Dominic fez uma grande apresentação contra Tsitsipas e teve suas chances, mas tombou no tie-break do quinto set. Agora, soma 12 vitórias e 20 derrotas no ano.

Depois de perder a semifinal de Roland Garros quando sacou para o jogo no terceiro set, Aryna Sabalenka caiu na semi de Wimbledon depois de ter um set e uma quebra de vantagem. Desta vez, com um "agravante": a vitória valia para ela o posto de número 1 do mundo, que, portanto, seguirá com Iga Swiatek. Outro revés duro de digerir para uma Sabalenka que faz uma temporada excelente.

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Jessica Pegula teve uma das chaves mais carinhosas (obrigado, Bruna Esmeraldo) possíveis para finalmente chegar a uma final de slam. Nas quartas, porém, abriu 4/1 e tomou uma virada de Vondrousova no terceiro set. Vai machucar por algum tempo. Afinal, quantas pessoas têm a chance de alcançar uma semi jogando contra Davis, Bucsa, Cocciaretto, Tsurenko e Vondrousova? Dava para chegar à final sem enfrentar nenhuma top 40.

E os brasileiros?

Bia Haddad Maia concentrou as atenções e foi quem mais se destacou. Sua campanha terminou com gosto amargo, infelizmente, mas a paulista, depois de duas atuações com altos e baixos (vitórias sobre Putintseva e Cristian), fez uma apresentação muito boa contra Cirstea e chegou às oitavas com moral.

Do lado masculino, Thiago Monteiro fez o que se esperava - o que, infelizmente, não era muito, considerando que o cearense não fez lá uma grande preparação na grama (até uma semana antes, estava jogando Challenger no saibro). No fim, ainda tirou um set de Eubanks, o que não foi nada mau, e embolsou 55 mil libras, que também é bem razoável para quem joga uma partida só nas simples.

Nas duplas, Luisa Stefani e Caroline Garcia foram até as quartas de final, contando com uma boa vitória sobre a forte parceria de Townsend e Fernandez na segunda rodada. A derrota para Hsieh e Strycova não chega a ser decepcionante, mas não foi lá uma grande partida da brasileira.

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Ainda do lado feminino, Ingrid Martins, que entrou como alternate ao lado de Marozava, alcançou as oitavas numa chave acessível. Dava até para ter ido mais longe. O jogo contra Kalashnikova e Shymanovich era ganhável.

Na chave masculina, Demoliner e Middelkoop perderam na estreia para Mektic e Pavic, resultado mais do que normal; Matos e Cabral caíram na segunda rodada, também diante dos croatas, o que não surpreende; e Melo e Peers, cabeças 16, foram até as oitavas e perderam para Griekspoor e Stevens. Monteiro e Cecchinato, que entraram como alternates, perderam na estreia para Hijikata e Kubler. Nada absurdo aqui tampouco.

Sobre a cobertura de TV

Na comparação direta entre SporTV e ESPN, minha opinião como espectador é que o canal da Globo set levou vantagem nos momentos mais importantes para o público brasileiro: as partidas de Bia Haddad Maia. O canal fez campanha anunciando que estaria em todos jogos dela (só faltou cantarem o hino do Grêmio com o nome da tenista) e entregou bem, sempre com três pessoas competentes nas transmissões.

No pacote completo, ainda vejo a ESPN com superior porque inclui o Pelas Quadras e mais tempo de tênis no ar, com gente interessada em entregar bons produtos. Dito isto, repito: por algum motivo, o canal não escalou seu principal narrador da modalidade - Fernando Nardini - em nenhum (!) jogo de Bia Haddad. A impressão que passa para o espectador (meu caso) é que tratavam as partidas como "apenas mais um jogo", o que não era o caso. Bia vinha de semifinal em Roland Garros e havia muita expectativa, o que o SporTV parece ter entendido melhor.

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O canal da Disney pode até argumentar que tem uma equipe grande e profissionais competentes, o que é verdade, mas ainda falta algo no tratamento ao tênis. Algo que existe no futebol. Ninguém vê, por exemplo, Paulo Andrade narrando Accrington Stanley x Grimsby Town no mesmo dia que tem City x United, certo? A escala podia ter o mesmo carinho com o fã de tênis. Não adianta o tio Mickey gastar uma fortuna comprando os direitos de tantos torneios se os sobrinhos brasileiros dele não derem mais atenção à coisa.

Para deixar mais claro: comparo SporTV e ESPN sem considerar o Star+ porque este é um serviço separado, oferecido apenas por streaming. Nisso, o grupo Disney leva evidente vantagem porque não tem concorrência (com justiça, pois pagou para isso - chororô e fala em monopólio é ignorância).

Aproveitando o embalo: já passou da hora de o Star+ adotar uma interface mais apropriada para esportes ao vivo. É inaceitável que, nos dias de hoje, o espectador leve um minuto inteiro para trocar de canal/quadra durante um torneio ao vivo (na TV a cabo, leva menos de um segundo). E mais: não custaria seguir oferecendo até o fim do torneio os sinais originais das quadras (sem narração ou com a narração em inglês) ao mesmo tempo em que disponibiliza os sinais da ESPN brasileira, né? A ideia do streaming, afinal, é essa: dar mais opções a quem paga.

As melhores partidas que eu vi até as semifinais

Jabeur x Sabalenka: três sets de altíssimo nível e muita pancadaria - inclusive da tunisiana - com margens mínimas para deslizes. Partida mais do que digna de uma semifinal de slam. Leva estrelinhas douradas.

Svitolina x Azarenka: jogão de alto nível, ainda que com altos e baixos de ambas, e que teria sido ainda melhor não fosse a estupidez que é o match tie-break de terceiro set (uma invenção ainda mais besta que o match tie-break de quinto set nos slams, com tanta coisa em jogo).

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Swiatek x Bencic: jogão que testou a número 1 do mundo. Iga precisou salvar dois match points antes de triunfar.

Tsitsipas x Thiem: dois nomes grandes em uma primeira rodada e numa quadra externa e menor. Tênis de alto nível com um ambiente sensacional.

Tsitsipas x Murray: duelo de estilos distintos na Quadra Central, com alto nível do começo ao fim, e margens mínimas para vacilos.

Eubanks x Tsitsipas: inegável que o grego entregou entretenimento de qualidade nesta edição de Wimbledon, até quando deixou a desejar tecnicamente. A linda virada de Eubanks, empurrado por uma torcida vibrante, valeu o tempo investido.

Não, a listinha não está em ordem de preferência, embora Sabalenka x Jabeur seja mesmo o número 1 para mim. E não, eu não vi Rune x Fokina nem o interminável tie-break entre Bogdan e Tsurenko, então estes e outros não entram para a relação. Discorda? Faz sua lista e me manda. Tô ali no Twitter, no Instagram e no Threads.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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