Saque e Voleio

Saque e Voleio

Siga nas redes
OpiniãoEsporte

Uma conquista para marcar época e o possível começo da Era Alcaraz

O adversário era Novak Djokovic, um dos maiores tenistas da história - possivelmente, o mais completo (até agora?). Um heptacampeão de Wimbledon obcecado por recordes e que via na sua frente o 24º slam, que o igualaria a Margaret Court, a maior vencedora da história do tênis. Um gênio que sonhava em fechar o Grand Slam, vencendo os quatro maiores torneios do mundo na mesma temporada. Uma fortaleza mental que havia vencido os últimos 15 tie-breaks que jogou em torneios do Grand Slam. Que buscava voltar ao posto de número 1. E o cenário era a catedral do tênis: a incomparável Quadra Central, onde o veterano sérvio não perdia há 10 anos.

O parágrafo acima deve dar uma dimensão do feito de Carlos Alcaraz, 20 anos, novo campeão de Wimbledon. Saiu atrás no placar (em 79 jogos, Djokovic só havia perdido um jogo de virada em Wimbledon); quebrou a série de tie-breaks do sérvio; segurou a reação do rival que ganhou o quarto set e teve um break point no começo do quinto; e fechou a partida com um último game brilhante. Encaixou todos os primeiros saques, buscou os pontos, agrediu e foi preciso na execução onde outros grandes - como Federer e Nadal - falharam.

Carlitos era o número 1 do mundo com méritos, mas também com a ressalva de que Djokovic não disputou o US Open e os Masters 1000 da América do Norte porque não quis se vacinar contra covid-19, portanto deixou muitos pontos na mesa. Era um número 1 de talento, sim, mas no maior duelo com Nole, nas semifinais de Roland Garros, travou de cãibras após dois sets. Logo, Djokovic, campeão de Wimbledon, Australian Open e Roland Garros, ainda era o cara a ser batido. Não é mais.

A final deste domingo foi daquelas que marcam época. Que dão um recado. Como Rafael Nadal fez em 2008, destronando seu maior rival em Wimbledon e decretando o fim da Era Federer. Alguns meses depois, Rafa desbancou Roger do topo do ranking, onde Federer estava desde 2004. Desta vez, foi Alcaraz quem deu o recado. Encarou Djokovic, imbatível na grama de SW19 desde 2018, e derrubou o campeão. Mostrou suas armas, superou as até então impenetráveis defesas do veterano e fincou sua bandeira no topo do ranking. E mais do que isso: avisou - sem dizer uma palavra - para todo mundo ouvir, alto e claro: o circuito, agora, tem outro cara a ser batido.

No tênis, as coisas mudam muito rápido. Um ano atrás, Rafael Nadal era o recordista de slams, tinha vencido em Melbourne e Paris e mantinha vivo o sonho do Grand Slam. Lesionou-se, afastou-se e praticamente agendou sua aposentadoria para 2024. Até ontem, muita gente esperava que Nole fechasse o Grand Slam este ano. Não fechará. Há todo tipo de incertezas no esporte, evidentemente. Porém, esta final de Wimbledon, por todo o contexto e seu significado (volte ao primeiro parágrafo para conferir), pode muito bem ter marcado o começo da Era Alcaraz.

Impossível prever carreiras, resultados e a direção que um esporte toma. Carlitos pode se lesionar amanhã, e tudo vai mudar. No entanto, com o que se viu dele em quadra até hoje e o que se sabe sobre sua estrutura de trabalho fora das "pistas" (boa família, ambição, disposição para trabalhar, técnico brilhante e pé-no-chão), o mais provável é que Alcaraz siga evoluindo como tenista. E se o Alcaraz de hoje, com 20 anos, foi capaz de bater um dos maiores da história em uma partida como a deste domingo, é assustador imaginar o que ele pode vir a ser como atleta.

Coisas que eu acho que acho:

Continua após a publicidade


- Uma declaração de Djokovic na coletiva deste domingo, citando que o atual número 1 tem elementos de Rafa, Roger e dele mesmo, Nole, diz tudo que é preciso sobre quem Alcaraz é e ainda pode vir a ser:

"Acho que ele tem, basicamente, o melhor dos três mundos. Ele tem resiliência mental e muita maturidade para alguém de 20 anos. É impressionante. Ele tem essa mentalidade de touro espanhol e a competitividade e o espírito de luta e a defesa incrível que vimos com Rafa ao longo dos anos. E acho que ele tem um backhand deslizando que tem semelhanças com o meu backhand. Sim, backhands de duas mãos, defesa, conseguir se adaptar. Acho que foi meu ponto forte por muitos anos. Ele também tem isso. Nunca joguei conta um tenista como ele, para ser honesto. Roger e Rafa têm seus próprios pontos fortes e fracos. Carlos é um jogador muito completo. Capacidades incríveis de se adaptar que acho que são chave para longevidade e uma carreira de sucesso em todas as superfícies."

- Para pensar: é um rapaz de 20 anos descrito desta maneira por um dos maiores tenistas da história.

- Um dos debates que acompanhei na última semana foi sobre se o Djokovic de hoje, de 2023, era a melhor versão de toda a carreira do sérvio. Mantendo toda sua técnica e aliando tudo isso à experiência de quem viveu e ganhou muito. E se esta for mesmo a melhor versão de um dos maiores da história, o que dizer do nível de Carlos Alcaraz?

.

Continua após a publicidade

Quer saber mais? Conheça o programa de financiamento coletivo do Saque e Voleio e torne-se um apoiador. Com pelo menos R$ 15 mensais, apoiadores têm acesso a conteúdo exclusivo, como podcast semanal, lives restritas a apoiadores, áudios exclusivos e de entrevistas coletivas pelo mundo, além de ingresso em grupo de bate-papo no Telegram, participação no Circuito dos Palpitões e promoções.

Acompanhe o Saque e Voleio no Twitter, no Facebook e no Instagram.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes