Saque e Voleio

Saque e Voleio

Siga nas redes
OpiniãoEsporte

US Open mostra um Felipe Meligeni mais maduro e empolgante

Antes de mais nada, um aviso: sou fã assumido da família Meligeni. Torci por Fernando em seus tempos de jogador e, com o tempo, conheci Paula, a irmã, e Flavio, o cunhado, pais de Carol e Felipe, os tenistas. São pessoas educadas e honestas, que buscaram seu espaço com trabalho, sem procurar atalhos aqui e ali. Aprendi a admirar todos eles.

Dito isto, fico bastante à vontade para falar sobre algo que sempre me incomodou vendo o atual número 3 do Brasil em quadra: em boa parte do tempo, Felipe sempre foi um resmungão. Depois de cada ponto, falava, gesticulava, resmungava. Reclamava do tempo, da quadra, da bola, do quique, mas sobretudo de si mesmo. Do que fez, do que deveria ter feito, do que não estava dando certo, etc, mesmo quando sua atuação não era (tão) ruim.

Para não misturar as coisas: Felipe nunca foi um tenista de atrapalhar o jogo, catimbar, reclamar dos adversários ou dos árbitros. Não falo de educação (que é problema de outros brasileiros, infelizmente). Suas reclamações eram quase sempre voltadas para si mesmo. Costumo chamar esse tipo de jogador de "maluco do bem". Não agride ninguém. É até divertido de ouvir para quem está na beira da quadra. O maior prejudicado com essa postura é o próprio tenista. Gasta energia demais falando sozinho e tem menos tempo para encontrar uma lucidez que permita mudar a dinâmica de um jogo.

Pois esse Felipe não apareceu nem nos momentos decisivos do quali, quando precisou salvar match point diante de Federico Coria, nem nesta terça-feira, em sua estreia na chave principal de um slam, contra James Duckworth. Partidas importantes, daquelas que quebram barreiras, e que mostraram um Meligeni mais equilibrado mentalmente. Mais maduro mesmo.

Tecnicamente, a atuação desta terça-feira não foi soberba. Felipe não é um top 30-50, e não por acaso. Ainda mostra as oscilações normais para um atleta que é 168 do ranking, tem potencial para crescer no esporte e está buscando seu caminho entre erros e acertos. Normal. Sacou muito bem durante a maior parte do jogo, mas esteve mal no começo do tie-break, o que poderia ter custado muito caro. Mais tarde, quase deixou escapar uma vantagem valiosa no terceiro set.

Tática e mentalmente, contudo, Meligeni mostra ter dado alguns passos à frente neste US Open. Contra Duckworth, manteve a compostura mesmo quando as coisas não iam tão bem. Insistiu em um plano de jogo que se provou inteligente e eficiente a longo prazo. E não, não resmungou, esbravejou ou reclamou de si mesmo. Manteve a cabeça no jogo e, principalmente, não deixou que o rival visse sinais de fraqueza - o que costuma acontecer quando um atleta fala demais durante os pontos.

Em vez disso, Felipe deixou esse papel para Duckworth, que não escondeu suas frustrações e deixou evidente, pra todo mundo ver, que o jogo caminhava de um modo favorável ao brasileiro. A cada reclamação do australiano, um reforço e um incentivo ao campineiro. Era Duckworth o mais frágil nesse quesito, e Felipe, desta vez com o papel mais lúcido do roteiro, fez o seu. No segundo set, foi buscar o tie-break quando o oponente lhe abriu uma porta. No terceiro, salvou break points e não deixou que o duelo ganhasse tons dramáticos.

Postura de gente grande, madura. Que seja o início de um novo momento, um trampolim para novos saltos de um novo e empolgante Meligeni.

Continua após a publicidade

Coisas que eu acho que acho:

- Uns 10-12 anos atrás, lembro de ter ido a uma Copa Guga, em Florianópolis, quando Felipe e Carol ainda eram juvenis. Bati um papo com Fernando, que também estava por lá, e ele me falava sobre os sobrinhos e de como Felipe, ainda com seus 12 anos (posso estar errado por um par de anos aqui, admito), jogava de boné para trás, com cabelo comprido e trejeitos dos tempos que o tio competia. O Felipe de hoje é bem diferente, e não me lembra tanto o tio em quadra. A raça, porém, está lá. A vontade de ganhar, idem, e isso conquista qualquer torcida. Não por acaso, havia tantos brasileiros vibrando junto com o garotão no match point. Foi muito legal de ver.


- Som de hoje no meu Kuba Disco: Your Side of Town, faixa nova de The Killers.

Continua após a publicidade

.

Quer saber mais? Conheça o programa de financiamento coletivo do Saque e Voleio e torne-se um apoiador. Com pelo menos R$ 15 mensais, apoiadores têm acesso a conteúdo exclusivo, como podcast semanal, lives restritas a apoiadores, áudios exclusivos e de entrevistas coletivas pelo mundo, além de ingresso em grupo de bate-papo no Telegram, participação no Circuito dos Palpitões e promoções.

Acompanhe o Saque e Voleio no Twitter, no Facebook e no Instagram.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes