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Alcaraz encanta público e 'corrige' debate sobre o entretenimento no tênis

Já faz algum tempo, e não é segredo nenhum. As partidas de Carlos Alcaraz são as que têm mais valor de entretenimento no tênis de hoje. Às vezes, contudo, fica ainda mais claro porque têm as maiores quadras do planeta como testemunhas. Foi o caso do jogo de ontem, quando o espanhol de 20 anos enfrentou o sul-africano Lloyd Harris no Estádio Arthur Ashe, na segunda rodada do US Open.

Superior ao adversário do fundo de quadra, o atual número 1 do mundo viu Harris começar a apostar em variações. O sul-africano, afinal, precisava mudar algo na partida. Tentou o que podia de diferente: curtinhas, subidas à rede, bolas mais agressivas do fundo de quadra, etc. Nada disso funcionou consistentemente. E mais: a variação deu a Alcaraz a chance de mostrar o que faz de mais encantador: sua capacidade de improviso e, consequentemente, de dar espetáculo.

Carlitos fez de tudo. Alcançou curtinha e deu lob. Alcançou curtinha e deu outra curta. Subiu à rede. Smashou. Voleou. Defendeu bolas indefensáveis. Fez passadas incríveis. Uma dúzia de jogadas que o clipe oficial de highlights do US Open (veja abaixo), montado por inteligência artificial e programado para não durar mais de três minutos, foi incapaz de registrar e mostrar à altura (uma dessas infelicidades da modernidade, que tende a padronizar tudo em nome da quantidade sobre a qualidade).

Alcaraz encantou o público, e a galera no Estádio Arthur Ashe se divertiu como em raras ocasiões em um jogo tão desequilibrado. E mais do que isso: Alcaraz se divertiu ao divertir a torcida. É, aliás, uma das características que fazem o jovem espanhol tão especial. Além de exibir um nível estratosférico de tênis, Carlitos consegue reconhecer e apreciar esses momentos enquanto eles acontecem.

Sorri, grita, pula, acena para o público, chama a torcida para curtir aquele instante em parceria. Alcaraz espanta. Encanta. Apaixona mesmo.

Coisas que eu acho que acho:

- Vejo um ponto negativo e (mais um) positivo nisso: às vezes, Alcaraz se diverte demais, se encanta demais com sua própria capacidade - sobretudo quando parece ter o jogo sob controle - e perde o roteiro da partida. Aconteceu ontem, quando Harris aproveitou um desses instantes e abriu 4/2 no terceiro set.

- O outro elemento positivo? Alcaraz tem o poder de colocar no rumo certo o eterno debate sobre o tênis e sua capacidade de conquistar e reter fãs ao se aproximar do público. Quando Kyrgios faz e fala que atrai público e faz o fã se conectar com ele (o que é verdade), isso, mesmo que indiretamente, fortalece o equivocado discurso de que o tênis precisa ter mais "personalidades" que quebrem raquetes, argumentem com árbitros, batam boca com espectadores e outras canalhices a mais.

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- Não, nenhuma dessas atitudes teatrais atrairia público se Kyrgios não fosse um jogador talentosíssimo, e o tênis está cheio de exemplos de atletas bocudos e mal-educados que não têm tantos fãs (ou nenhum) porque, no fundo, não são craques. Portanto, quando Alcaraz conquista fãs e entretém espectadores, também prova que é possível fazê-lo sem desrespeitar rivais, oficiais e torcedores. O tênis ganha muito, mas o debate também.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: Pompei MMXXIII, nova versão do maior sucesso dos britânicos do Bastille. Detalhe: gravada em parceria com o gigante Hans Zimmer.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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