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EUA têm três homens nas quartas do US Open, e todos são azarões, mas e daí?

Trata-se, inegavelmente, de um grande US Open para os tenistas da casa. Na chave masculina, dois top 10 - Taylor Fritz e Frances Tiafoe - estão nas quartas de final, além do jovem-sensação Ben Shelton, de 20 anos, que disparou saques na casa dos 230 km/h (o mais rápido deles registrou bateu 239 km/h no radar oficial). Na feminina, são duas entre as oito finalistas: Coco Gauff, campeã do recente WTA 1000 de Cincinnati e série candidata a levantar o troféu em Nova York, e Madison Keys, que vem de uma vitória de peso sobre Jessica Pegula, outra tenista dos EUA, eliminada junto com a ascendente Peyton Stearns (21 anos, #59 do mundo) nas oitavas.

E ainda há boas chances para os tenistas da casa na chave de duplas femininas, com Coco/Pegula; Jennifer Brady, parceira de Luisa Stefani; Bernarda Pera, que atua ao lado da polonesa Magda Linette; e Taylor Townsend, que faz dupla com a canadense Leylah Fernandez. Nas duplas masculinas, estão nas quartas Lammons/Withrow; Robert Galloway (joga com Olivetti); Rajeev Ram (Salisbury) e Austin Krajicek (Dodig). Nas mistas, Pegula/Krajicek e Townsend/Shelton estão nas quartas enquanto escrevo este parágrafo.

Deu para entender a dimensão da diversidade de opções, certo? No entanto, nas minhas conversas com fãs sobre o tênis dos EUA, a pergunta que mais escuto é: "Por que eles não têm mais um campeão de slam?" E sim, a questão é feita em tom de crítica e voltada sempre para o masculino porque, mesmo se ignorarmos o histórico de Serena, "eles" tiveram Sofia Kenin e Sloane Stephens ganhando slams recentemente, além de Coco Gauff em uma final em Roland Garros.

É uma pergunta que possivelmente vai continuar sendo feita porque Tiafoe, Fritz e Shelton, todos do mesmo lado da chave deste US Open, são azarões. O outro nome nessa metade da chave? Novak Djokovic. Não preciso ir muito longe para explicar as chances de cada um, certo? E sim, Djokovic também é a resposta para a pipocante pergunta, pelo menos parcialmente.

A outra parte da resposta tem três nomes: Roger Federer, Rafael Nadal e Andy Murray. Os quatro, juntos, são responsáveis por todo tipo de anomalia estatística do tênis nos últimos 20 anos. Tirando um Del Potro aqui, um Wawrinka ali e outra mais dúzia de exceções e circunstâncias especiais (como a conquista de Thiem, quando Nadal e Federer não jogaram, e Djokovic foi desclassificado em NY). O Big Four (e depois Big Three ou Big Two) dominou o tênis e acumulou números tão insanos que fez o resto do mundo parecer um grupo de pessoas comuns.

Dito isto, lembremos que Andy Roddick foi o último número 1 pré-Big Four. Seus contemporâneos Mardy Fish e James Blake foram top 10. John Isner e Jack Sock, mais tarde, também. Hoje, Fritz e Tiafoe estão nesse grupo. Não tenho aqui procuração nem especial interesse para defender a USTA, mas não me parece uma sequência ruim no cenário do tênis de hoje, que é muito mais eurocêntrico do que na época de Sampras e Agassi - e Roddick pegou o fim desse momento.

E mais: vale lembrar que a federação americana começou um projeto liderado por José Higueras, contratado em 2008, para preparar melhor seus tenistas. Na época, havia a crença de que tenistas americanos focavam demais seus esforços em saque e forehand e golpes mais retos, mais propícios para quadras duras. Com o circuito usando condições cada vez mais lentas de jogo (piso, bolas, etc.),
Higueras queria que os tenistas americanos aprendessem a jogar no saibro para que se desenvolvessem com os conceitos de construção de pontos, sabendo o que fazer em ralis e trocas mais longas.

Léo Azevedo, atual treinador de Luisa Stefani, trabalhou na USTA nesse período e atuou junto a vários jovens que estão ou estiveram na elite, como o próprio Tiafoe, Cici Bellis, Donald Young, Sebastian Korda, Claire Liu e Amanda Anisimova (Jennifer Brady, que joga duplas com Stefani neste US Open, também passou pela USTA nessa época). Nada é por acaso. E cedo ou tarde esse campeão de slam vai aparecer.

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Coisas que eu acho que acho:

- Em 2005, os EUA também tiveram três homens nas quartas: Agassi, Blake e Ginepri. O campeão do torneio? Roger Federer.

- Trabalhos bem feitos nem sempre geram campeões, mesmo que os investimentos sejam gigantes. As questões feitas para a milionária USTA também cabem para a FFT (França), a LTA (Grã-Bretanha) e a Tennis Australia. Todas faturam muito com os slams. Mas o que fazer quando uma geração é dominada por quatro gênios, com histórias tão diferentes e sem tanto aporte financeiro?

- Correndo o risco de soar redundante: é raso avaliar um trabalho apenas por uma dos extremos (no caso, a ponta do ranking). No tênis, um esporte individual com tantas variáveis que não podem ser totalmente controladas, mais ainda.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: para ficar no tema do post, Born to Run, do Boss. Na versão original, de 1975.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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