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Slam juvenil não garante nada, mas sinais são positivos para João Fonseca

Filip Peliwo. Canadense. Campeão de Wimbledon e do US Open como juvenil em 2012. Nunca esteve entre os 150 melhores do mundo.

Oliver Anderson. Australiano. Campeão do Australian Open de 2016. Em 2017, foi suspenso por manipulação de resultados. Desistiu da carreira por causa de lesões e hoje é técnico.

Shintaro Mochizuki. Japonês. Campeão de Wimbledon em 2019. Teve seu melhor ranking este ano: #192 do mundo. Ainda não venceu um jogo em nível ATP. Fez nove jogos e perdeu todos.

Tiago Fernandes. Brasileiro. Campeão do Australian Open de 2010. Também foi número 1 do mundo como juvenil. Teve problemas com lesões e expectativas. Encerrou a carreira em 2014, com 21 anos, e hoje trabalha na empresa da família, no ramo da construção civil.

Quatro exemplos recentes de uma lista enorme e que ilustra, sem margem para dúvidas: títulos de slam como juvenil não são garantia de sucesso imediato (ou não) no tênis profissional. Por isso, uma conquista como a de João Fonseca, 17 anos, agora campeão do US Open juvenil, precisa ser vista com certa cautela. Comemorada, sim, e com justiça, mas com a sabedoria de que ninguém tem a ambição de obter sucesso apenas como juvenil e, diante disso, ainda há muito a ser feito.

Evidentemente, não há como prever com 100% de precisão quais e quantos desses garotos com menos de 18 anos vão brilhar na elite do tênis profissional. Há, porém, alguns sinais que dão um bom indicativo do que pode vir a acontecer e, no caso de Fonseca, são indícios positivos. Vejamos alguns:

1. Não é uma conquista isolada. Fonseca levou o time do Brasil ao título da Copa Davis juvenil no ano passado, alcançou as quartas de final nos quatro slams de 2023 e fez uma bela apresentação na chave principal do Rio Open deste ano. Tampouco foi uma chave fraca que ele encontrou ou uma semana mágica que viveu em Nova York.

2. Potência. Na maioria dos jogos de Fonseca nos slams deste ano, era o brasileiro quem batia mais forte na bola e, no tênis de hoje, quem consegue fazer a bola andar como o brasileiro, leva vantagem. Não é garantia de sucesso. É preciso controlar a potência, e a verdade é que Fonseca cometeu muitos erros não forçados em quase todos seus jogos, mas, na transição para o tênis profissional, é preferível ter alguém assim. É mais fácil ensinar um tenista como Fonseca a "domar" seu jogo do que fazer um empurrador de bola, que gosta de jogar colado na grade, encontrar a potência de um João.

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3. Personalidade. Todos que têm contato mais próximo com João dizem que se trata de um bom garoto, de uma família que cultiva bons valores e que tem um técnico que trabalha muito e aparece pouco (combinação nada comum no meio). Fonseca também parece ter o tênis como prioridade e não é o tipo que perde o foco com "distrações" adolescentes. Caráter faz diferença na carreira de qualquer atleta, mas é ainda mais importante neste período da carreira de um tenista.

4. Orientação. Um grande atleta não se faz apenas dentro da arena de jogo. O extra quadra é tão ou mais importante, e a família de Fonseca entende isso. Para ensinar o garoto a lidar com entrevistas coletivas, exclusivas e todo tipo de demanda de imprensa e publicidade, foi contratada a ex-assessora de imprensa de Gustavo Kuerten, Diana Gabanyi, que também é chefe de comunicação do Rio Open. Não há pessoa melhor no país para a função.

Com tudo isso em mente, repito: é impossível cravar, hoje, se João Fonseca será um grande profissional, se vai alcançar o top 100, 50, 10 ou se tornar número 1 do mundo. Contudo, os sinais que a jovem carreira de João Fonseca apresenta até agora - negrito e itálico em "até agora", por favor - são muito positivos.


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Coisas que eu acho que acho:

- Fonseca somou 53 erros não forçados nas quartas de final e 62 na final. É o tipo de número que não se sustenta no profissional, onde os tenistas são mais rápidos, se defendem melhor e sacam com mais potência. A margem para vencer agredindo tanto e errando tanto é minúscula.

- Ainda assim, repito: é preferível formar um juvenil que gere potência na bola e erre muito do que um devolvedor que só joga com top spin e espera erros dos rivais. Zverev e Rublev, por exemplo, eram o tipo de juvenil "estourador" de bola e estão entre os melhores do mundo há alguns anos porque conseguiram "domar" e dosar sua potência, aprendendo a usá-la com inteligência.

- Se tem uma coisa que João Fonseca está acostumado a fazer é comemorar título. O carioca, afinal, é flamenguista.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: My Hero, dos Foo Fighters, porque vi a linda apresentação no The Town e deixei rolando em repeat aqui em casa hoje.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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