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US Open 2023: um megabalanço em 34 parágrafos

No sábado, Coco Gauff superou a pancadaria de Aryna Sabalenka e se tornou a 12ª campeã adolescente da história do US Open. Mais tarde, João Fonseca conquistou o terceiro título de slam juvenil em simples do tênis brasileiro. No domingo, Novak Djokovic deu mais uma demonstração de sua capacidade de vencer mesmo quando as coisas saem do roteiro que ele havia planejado.

O US Open, contudo, teve muito mais do que dois dias de emoções. Aconteceu muita coisa, e chegou a hora de fazer aquele resumão, lembrando dos destaques, das decepções, das polêmicas e muito mais. É disto que trata este balanço nos próximos 34 parágrafos. Role a página e aproveite (ou não).

Primeiro, sobre Djokovic: além do que já escrevi no post de segunda-feira, muito se falou sobre a chave fraca que o sérvio pegou até a final. Sim, foi um caminho simples até se considerarmos o momento atual do tênis, já que havia outros nomes na chave que poderiam ter dado mais trabalho. Dito isto, ele só foi campeão depois de derrotar o número 3 do mundo. Alcaraz teria dado mais trabalho? Possivelmente, mas não é problema do veterano se Carlitos não chegou lá. Não cabe discussão sobre isso.

Sobre a polêmica comemoração de Djokovic, desligando o telefone na cara de Shelton, já dei minha opinião.

Ainda sobre Djokovic: difícil acreditar que essa contagem pare em 24 slams. É também muito provável que o sérvio ultrapasse as 400 semanas como número 1. Números assustadores e que não param de crescer. A obstinação de Nole é das maiores da história do esporte. Não só do tênis.

A homenagem a Kobe Bryant com a camisa número 24 deu um toque a mais de brilho no já especial feito de Djokovic. Ponto para o sérvio aqui, que poderia muito bem ter mantido todos holofotes em si mesmo - o que seria justo - mas aproveitou a ocasião para lembrar de outro gênio do esporte.

Coco também teve lá uma chave bem menos complicada do que poderia, mas vale o mesmo raciocínio aqui: não é problema da americana se Iga Swiatek caiu diante de Jelena Ostapenko, que chegou nas quartas e mandou a bola em todos os lugares, menos dentro na quadra. E ressalte-se: Coco mostrou que ainda hoje é possível ganhar um slam com pernas e porcentagem, como Wozniacki fez um dia. Não precisa ser o tenista mais agressivo do mundo ou ter o saque mais potente para levantar um troféu e/ou brigar no topo do ranking.

Sabalenka fez um bom torneio e venceu uma semifinal quase perdida, o que tem seus méritos. Fecha uma temporada de slam com quatro semifinais, um título e um vice, além da merecida posição de número 1 do mundo. Ainda assim, deve estar com um gosto amargo na boca porque poderia ter feito mais. Em Roland Garros, esteve vencendo Muchova na semi por 5/2 no terceiro set. Em Wimbledon, teve um set e uma quebra de vantagem sobre Jabeur. Agora, em Nova York, venceu o primeiro set da final e teve dois break points para abrir uma quebra no segundo set quando Gauff parecia perdida em quadra. Sabalenka errou tudo, colocou Coco no jogo e pagou um preço caríssimo por aquele início pavoroso de segundo set.

Daniil Medvedev sai do US Open com uma brilhante atuação na sexta-feira, na vitória sobre Alcaraz, que serve de lição para o resto do circuito. Se o russo, que tomou duas surras do espanhol (Indian Wells e Wimbledon), encontrou uma forma de derrotá-lo, outros também podem. E sim, Daniil poderia ter feito melhor algumas coisas na final (como os saques no primeiro set ou as devoluções diante do saque-e-voleio de Nole em todo o jogo), mas mesmo assim esteve a uma paralela (aquele set point no segundo set!) de dar à partida um cenário completamente diferente? Ganharia? Difícil dizer. Há um montão de condicionais nessa equação. Porém, Nole teria que ralar muito mais.

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Coisas dos EUA: Medvedev ficou hospedado em um hotel que não tinha ESPN, então falou abertamente que estava recorrendo a sinais piratas para ver alguns jogos deste US Open. Meio que constrangida, a ESPN instalou um dispsitivo no hotel do russo depois dessa entrevista.

A história que mais me comoveu neste US Open foi o título de duplas de Gabriela Dabrowski e Erin Routliffe. Primeiro porque Gaby, dispensada por Luisa Stefani após apenas seis torneios, teve que encontrar uma nova parceira no meio da temporada, o que nunca é fácil. Depois porque dói no ego de um duplista ser dispensado por um parceiro. E mais: a campanha em NY foi comovente, incluindo um triunfo espetacular sobre Townsend e Fernandez, que venciam o match tie-break por 7/2, e uma final igualmente nervosa. No fim, Gaby saiu de parceira rejeitada para campeã de slam em três meses. Uma história de cinema para ela e Routliffe, de 28 anos, que nunca tinha sido top 20 nem feito uma semi de slam no currículo.

Luisa também fez uma bela campanha em Nova York, ainda que com seu saque ameaçado em muitos momentos e carregada pela solidez de fundo de quadra de Jennifer Brady, sua parceira da vez. No primeiro jogo em que a americana foi pressionada, precisando lidar com uma Siegemund ágil e movimentando-se muito junto à rede, ela e Stefani foram superadas. De todo modo, foi muito bacana ver Luisa de volta e vencendo no Estádio Louis Armstrong, o mesmo onde, dois anos atrás, ela saiu em uma cadeira de rodas.

Ben Shelton foi a grande surpresa da chave masculina, "furando" o quadrante dos decepcionantes Holger Rune e Casper Ruud e alcançando as semifinais. Disparou saques a 239 km/h, gritou, chamou a galera, ganhou de gente como Tommy Paul e Frances Tiafoe (uma chave molezinha para semi de slam, é bom que se diga) e gerou o imenso hype da imprensa americana. Contudo, nem todo mundo gostou do jeito ousado e ambicioso de Shelton. Djokovic "retribuiu" a comemoração, desligando o telefone do garotão, enquanto Tommy Paul saiu curtindo os posts com a celebração de Nole.

Carlos Alcaraz, o outro semifinalista derrotado, até que fez um bom torneio, mas esperava-se mais, sobretudo depois das vitórias fáceis sobre Medvedev em Indian Wells e Wimbledon. Desta vez, contra um russo mais bem preparado e mais consistente, Alcaraz sucumbiu. Mostrou-se inseguro no segundo set e pagou o preço por muitas escolhas erradas diante de um Medvedev que errou muito pouco. Faz parte do processo de amadurecimento de Alcaraz evoluir nas tomadas de decisão.

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Já que o assunto são "decisões", como Juan Carlos Ferrero fala durante as partidas, não? O que seria de Alcaraz sem o técnico na beira da quadra, ditando saques e pontos o tempo inteiro? Longe de sugerir que Carlitos seria um tenista mediano, mas quem aprovou essa regra de coaching tão permissiva precisa lidar com o fato de que, de agora em diante, os fãs de tênis vão questionar a capacidade de decisão até dos melhores do planeta. E a dupla Alcaraz-Ferrero é o melhor exemplo disso.

Brad Gilbert, que juntou-se a Pere Riba, técnico de Coco, durante o US Open, foi outro que falou um bocado, mas também mostrou pouca variedade. Do que deu para ouvir na TV, sobretudo nas transmissões do feed mundial (Star+), a maior parte era pedindo para que Coco fosse "física" e levantasse a bola. Gilbert se repetiu tanto que Mary Carillo, narradora do feed mundial, fazia piada do treinador com frequência. Ainda sim, Brad sai em alta porque, no frigir dos ovos, para a maioria das pessoas o que importa é quem sai a foto ao lado da campeã.

Iga Swiatek também deixou a desejar e também perdeu a liderança do ranking. A polonesa apostou em um plano de jogo mega agressivo contra Ostapenko, mas não estava preparada mentalmente para os altos e baixos que esse estilo de jogo costuma trazer. A letã, acostumada com essa vida, perdeu o primeiro set, mas atropelou a ex-número 1 nos dois seguintes. Um jogo que deixa todos imaginando por onde andava a Iga cheia de recursos, que não experimentou slices, spins altos ou qualquer tipo de variação na partida. Só tentou espancar a bolinha e quando perdeu confiança, viu seu torneio ir ladeira abaixo.

Casper Ruud e Holger Rune fizeram o que se esperava deles no US Open: nada. Chegaram sem vencer no pré-US Open e, no caso de Rune, ainda desembarcou reclamando que iria estrear na Quadra 5. Caiu na estreia e encerrou a parceria com o técnico Patrick Mouratoglou, que não teve um US Open memorável. Ruud ainda venceu um joguinho, mas perdeu logo depois. Os dois deixaram aberta a janela por onde entrou Shelton, que alcançou as semifinais.

Stefanos Tsitsipas decepcionou em mais um slam este ano, tombando diante do suíço Dominic Stricker, que tem seu potencial, evidentemente, mas ainda não é um tenista do nível do grego - em um dia normal. E mais: Stricker não só venceu como estava tranquilão cantando Whitney Houston pouco antes de fechar o jogo (veja abaixo). Segundo o Eurosport, Tsitsipas desfez a parceria com Mark Philippoussis e voltará a ser treinado pelo pai.

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Alexander Zverev deu mais um passo à frente e já se mostra em um nível bem perto do que exibia quando se lesionou, no ano passado. Os triunfos sobre Dimitrov e Sinner foram ótimas amostras do poder do alemão. Alcaraz, contudo, mostrou-se um rival muito forte, sobretudo porque Zverev vinha de dois duelos que cobraram seu preço fisicamente.

Um dos momentos mais comoventes do torneio foi a declaração de Laura Siegemund, intensamente vaiada durante a partida contra Coco Gauff porque estava tomando muito tempo entre os pontos. "Eles me trataram como se eu fosse uma pessoa ruim." ... "Eu tenho 35 anos, por que jogo tênis? Fiz um bom dinheiro, provavelmente não vou alcançar mais meus melhor ranking, não em simples. Eu jogo pelas pessoas. Jogo pelo esforço. Ainda posso jogar. Meu corpo está me dando a chance de jogar um pouco mais. E sei que há fãs que apreciam a luta, não desistir e um bom esporte." ... "Eles e trataram mal. Como se eu fosse uma trapaceira. Como se eu estivesse adotando maneiras sorrateiras de ganhar a partida." É, de fato, para se pensar.

John Isner fez seu último jogo da carreira, e acabou eliminado com uma derrota num match tie-break. Típico, não?

Jack Sock e Coco Vandeweghe, dois americanos que vinham sem resultados relevantes nas simples nos últimos anos, também anunciaram aposentadoria. Ambos fora de forma. Sock jogou duplas com Isner e perdeu na primeira rodada. Vandeweghe tentou o quali de simples e venceu apenas dois games. Na chave de duplas, ao lado de Kenin, também perdeu na estreia.

Ainda sobre datas marcantes: Djokovic conquistou seu 24º slam em simples redondos 50 anos depois do 24º slam de Margaret Court, que triunfou por último no US Open de 1973. Como disse um amigo que prefere permanecer anônimo, seria interessante ver uma conversa entre Court e Djokovic sobre vários aspectos da sociedade de hoje, não? Hum...

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Laslo Djere provavelmente jogou os dois sets mais espantosos do torneio (e de sua vida) neste US Open. No entanto, em melhor de cinco e contra seu compatriota mais famoso, faltou algo para uma zebra memorável. Compreensível.

Quem sai em alta: a On, fabricante de material esportivo que só tem três patrocinados. Um deles é Ben Shelton, o semifinalista. Outro é o brasileiro João Fonseca, o campeão entre os juvenis. Roger Federer, acionista, sorriu em algum lugar.

Quem sai em baixa: além dos já citados Rune, Ruud, Mouratoglou e Tsitsipas, Maria Sakkari, com outra queda precoce em um slam; e Venus Williams, que não se mostrou competitiva e ainda apareceu na coletiva admitindo que aceitou um wild card para o torneio mesmo treinando pouco. O atropelo (6/1 e 6/1) diante de Greet Minnen foi doído até para quem só assistiu.

Ainda sobre veteranas, vale destacar a bela apresentação de Caroline Wozniacki, que eliminou a perigosa Jennifer Brady e levou Coco Gauff a três sets. Teve até uma quebra de vantagem na parcial decisiva. Caro hoje é mãe de dois filhos e chegou para o torneio em grande forma física. Não pediu wild card só para aparecer. Pena que só voltará a competir no ano que vem.

O duelo entre Coco e Muchova, válido pelas semifinais, ficou interrompido por quase 50 minutos porque alguns espectadores fizeram um protesto contra o uso combustíveis fósseis. Um deles colou seus pés no chão, e as autoridades tiveram o devido cuidado para retirá-lo do Estádio Arthur Ashe. Sem julgar ninguém, vale lembrar que cola não está na lista de itens proibidos no complexo do US Open, onde não é permitido entrar com raquetes de tênis.

Um torcedor foi expulso do Ashe por cantar o hino nazista "Deutschland über alles". Ele foi denunciado por Alexander Zverev. Ponto para o tenista alemão aqui.

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Ostapenko também praticamente expulsou um torcedor de quadra. Um cidadão que torcia pela americana Bernarda Pera começou a se exaltar. Jelena reclamou, o árbitro de cadeira pediu que ele se retirasse, e a letã protagonizou a cena abaixo enquanto ele deixava a quadra.

Não dá para dizer que Beatriz Haddad Maia decepcionou com a derrota para Taylor Townsend na segunda rodada - até porque já havia vencido um jogo duro contra Sloane Stephens na estreia, mas certamente a paulista deixou a desejar. Podia ter feito mais, e ela mesma admitiu isso depois do jogo.

Bia fez uma bela campanha nas duplas. Não fosse um dia esquecível de Victoria Azarenka, sua parceira, havia uma boa chance de alcançar a final, já que a semi seria contra Luisa Stefani e Jennifer Brady, uma parceria que se mostrou bem mais derrotável do que Siegemund e Zvonareva.

Entre os homens brasileiros, vale lembrar que Felipe Meligeni furou o quali e venceu na primeira rodada da chave principal. Foi seu primeiro triunfo em um slam. Caiu em seguida, lesionado, diante de Sebastián Báez. Mostrou mais maturidade e gastou muito menos energia resmungando entre os pontos. É uma evolução necessária.

O destaque brasileiro acabou mesmo sendo João Fonseca, que terminou vencendo a final de virada. Foi uma campanha bem ao estilo do carioca: batendo na bola e somando muitos erros não forçados (53 nas quartas de final e 62 na decisão), mas sempre com a coragem de buscar o jogo. Deu certo. Agora é campeão de slam, número 1 do mundo juvenil e chega a hora de passar full time ao tênis profissional (embora Fonseca ainda considere a hipótese de jogar por uma faculdade nos EUA).

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Fonseca já está na Dinamarca, onde estará junto com a equipe brasileira na Copa Davis. De lá, encontrou um tempo para dar uma coletiva online para cerca de 20 jornalistas. Ponto para o tenista, sua família e a assessoria. Timing, no esporte, é tudo. E quem se fez disponível para a imprensa ganha exposição e, consequentemente, se valoriza. É uma fórmula simples, mas que muitos tenistas brasileiros ainda desconhecem.

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