'Aposentado', Clezar empilha troféus e fatura mais do que como profissional
Ele precisou se afastar do tênis para passar por cirurgias nos dois pés, começou a trabalhar no mercado financeiro e, mais tarde, voltou às quadras, mas não no circuito mundial. Hoje, "aposentado" do esporte aos 30 anos de idade, ganha mais dinheiro do que em suas últimas temporadas como profissional. O protagonista desta história nada comum é Guilherme Clezar, que entra em quadra nas horas vagas e nos fins de semana e, ainda assim, ganha torneios com premiação em dinheiro, compete sob menos pressão e pode se gabar de ter uma conta bancária mais saudável.
O gaúcho começou a enfrentar problemas físicos em 2020, quando ainda era um dos 300 melhores do mundo (seu melhor ranking foi o 153º lugar, que ocupou em 2015). No ano seguinte, seguir no circuito ficou insustentável. Clezar foi diagnosticado com Síndrome de Haglund, uma saliência no osso que fica raspando no tendão.
"Eu jogava uma partida e tudo bem. Jogava duas, começava a sentir muita dor. Na terceira, eu quase não conseguia andar. Operei os dois pés", contou naquele ano, quando conversamos sobre os rumos de sua vida. Clezar teria que ficar pelo menos seis meses sem disputar uma partida. Enquanto se recuperava, fez a prova para obter a licença como assessor de investimentos e passou com mais de 90%. Pouco depois, assumiu uma posição no escritório Origem Invest.
O tempo passou, e o tênis voltou a fazer parte de sua vida. Clezar voltou a treinar e a jogar eventos pequenos - a maioria dentro do próprio Rio Grande do Sul - que distribuíam prêmio em dinheiro. Competições popularmente chamadas no meio do tênis de "torneios de grana", que não dão pontos para o ranking mundial, mas que contam com bons tenistas da região e alguns que estiveram no circuito - caso de Clezar.
O gaúcho voltou a jogar, ganhar e, de repente, estava "varrendo" esse tipo de torneio, ganhando boas premiações e jogando apenas nos fins de semana. Recentemente, ganhou R$ 12 mil ao conquistar um título em Uruguaiana (RS). Conversamos brevemente depois desse evento, e Clezar se divertiu ao comparar o momento atual com seus últimos anos de ATP.
"Fazendo uma conta de padeiro, jogando profissional eu estava mais ou menos empatando por causa dos custos: treinador, viagem, comida, etc. Eu calculo que deveria estar ganhando entre US$ 25 mil e US$ 50 mil por ano e gastando US$ 40 mil mais ou menos", disse Clezar.
De fato, em 2019, no último ano em que disputou um calendário completo, o gaúcho faturou US$ 38.411. Em 2020, já incomodado por lesões nos dois pés, embolsou apenas US$ 14.459. Hoje, a premiação que embolsa por evento é bem menor, mas os gastos para competir quase que inexistem.
"Pela relevância que eu tive - um pouco - no circuito, não gasto nada nunca. São sempre todos os gastos inclusos: passagem, comida, hotel, tenho tudo incluso. E, na média, devo ganhar uns R$ 5-6 mil por mês. Tem mês que eu jogo um, tem mês que eu jogo dois [torneios]. Na média, bota aí uns R$ 7 mil limpos por mês", destacou o tenista que tem no currículo vitórias contra o atual top 10 Stefanos Tsitsipas, o ex-top 10 Diego Schwartzman e os ex-top 20 Pablo Cuevas e Cristián Garín.
Pouco depois, fez as contas na ponta do lápis. Até a última semana de outubro, só com o tênis, Clezar faturou R$ 64 mil líquidos. Nada mau para quem passou os últimos anos de profissional fazendo contas todas as semanas e suando para terminar as temporadas no azul.
O gaúcho só fez questão de ressaltar que tudo isso só é possível atualmente por causa dos anos de vivência e do que aprendeu enquanto disputava o circuito mundial contra os melhores do mundo.
"Apesar de hoje eu estar talvez ganhando mais financeiramente que nos últimos anos de carreira, todos os benefícios dos torneios que ganho são devido aos meus anos de tênis. No trabalho no escritório, ainda mais. O tênis me ensinou valores, me ensinou a ser competitivo, me abriu as mais diversas portas, algumas que eu jamais imaginaria. Do que sou hoje, devo tudo ao tênis."
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