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'Mortal' em Melbourne: Djokovic vive papel contrário na derrota para Sinner

Sexta à tarde, semifinal de Australian Open, Rod Laver Arena. Primeiro set. Jannik Sinner enfrenta um dos melhores sacadores do torneio. O terceiro na lista de aces disparados no torneio. Reconhecido amplamente como dono do melhor segundo serviço entre a elite do circuito.

O italiano joga nove pontos no primeiro saque do oponente. Coloca todas as bolas em jogo. Ganha a maioria desses pontos (cinco). Com o grande segundo serviço do adversário, são 12 pontos disputados. Duas duplas faltas. Dos 10 restantes, Sinner coloca nove bolas em jogo. Ganha a maioria (cinco).

O sacador em questão é Novak Djokovic. Decacampeão do Australian Open, maior campeão de slams em simples da história do tênis masculino, favorito a mais um título em Melbourne. E vinha sacando bem no torneio. Disparou 17 aces nas oitavas de final, contra Adrian Mannarino. Mais 20 nas quartas, diante de Taylor Fritz.

Nesta sexta-feira, a história foi outra. Sinner foi um paredão para os saques de Djokovic. Leu bem. Devolveu bem. Em muitas ocasiões, impediu que o sérvio tomasse a ofensiva já na terceira bola do rali. O vídeo acima tem bons exemplos. Logo no 30/40 do segundo game, Jannik devolve um ótimo saque e, ao mesmo tempo, dificulta o ataque do sérvio. Na quarta bola, o italiano já está equilibrado e pronto para começar um rali em boa posição.

O mesmo acontece com o número 1 sacando em 1/1 e 15/40 no segundo set (na marca de 1'45" do vídeo). Djokovic faz um ótimo saque no meio e dá um passo para dentro da quadra, esperando para atacar. A devolução de Sinner sai mais funda do que o veterano esperava, e Nole erra a esquerda, cedendo mais uma quebra. Mesmo quando Nole elevou o nível de seu serviço, o que aconteceu a partir do segundo set, as devoluções de Sinner apareceram para causar problemas aqui e ali.

A outra face desse duelo teve papéis invertidos. Djokovic, dono da melhor devolução do planeta, não conseguiu um break point sequer em quatro sets contra Sinner. Foi a primeira vez que isso aconteceu em sua carreira em uma partida completa de slam (!). Nole ganhou apenas dez pontos nos games de saque do italiano somando as duas primeiras parciais. Seu golpe mais letal - aquele que abre o caminho para pressionar rivais e quebrar os melhores saques do circuito - lhe falhou nesta sexta. E mesmo quando funcionou (veja em 3'54" do vídeo acima), Sinner respondeu à altura.

Por 3h22min, em uma sexta-feira ensolarada, Djokovic viveu na pele o outro lado da história. Foi um mero mortal em Melbourne.

Coisas que eu acho que acho:

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- No total da partida, incluindo dois sets razoáveis, Djokovic venceu apenas 27% dos pontos no saque de Sinner. Número baixíssimo para seus padrões. Sua média no circuito mundial, segundo o site da ATP, é de 54,5%. Nas fases anteriores deste mesmo Australian Open, Nole teve 40% (contra Przmic na primeira rodada), 30% (segunda rodada, Popyrin) 38% (terceira rodada, Etcheverry) 57% (oitavas, Mannarino) e 40% (quartas, Fritz).

- Djokovic abre sua entrevista coletiva dando parabéns a Sinner por "uma grande partida e um grande torneio até agora", mas imediatamente depois afirma que ficou chocado com seu próprio nível e que "foi uma das piores partidas de grand slam que já jogou." Sim, Nole já fez apresentações muito superiores, mas bastante do que ele não conseguiu fazer nesta sexta tem a ver com os méritos de Sinner.

- Se cometeu mais erros não forçados do que gostaria, é porque Sinner estava sólido nas trocas de bola, executando golpes fundos e potentes, minimizando o poder de fogo de Djokovic, que arriscou mais do que o habitual e, portanto, errou mais.

- Se Nole não conseguiu impor seu saque desde o começo do jogo, muito disso aconteceu porque Sinner conectava uma devolução após a outra, sempre com bolas fundas, frequentemente anulando o serviço do sérvio e forçando o veterano a fazer uma terceira bola conservadora, iniciando o rali em posição neutra.

- Se Djokovic não teve tanto sucesso e não conseguiu usar curtinhas com mais frequência, é porque Sinner não se deixou empurrar para trás nos ralis. Foi sólido, manteve sua posição, evitando colocar-se na defensiva e atacando antes sempre que podia.

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- Se a devolução de Djokovic não fez mais, o saque de Sinner tem seus méritos. O italiano variou bem e jogou melhor os pontos mais importantes. Sim, Jannik Sinner tem muito mérito.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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