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O show tem que continuar, mas a que custo? Qual é o limite?

Felizmente, Carlos Alcaraz venceu a primeira semifinal masculina de Wimbledon. Escrevo assim não por alguma preferência pelo espanhol, mas porque uma vitória de Daniil Medvedev teria dado uma repercussão muito maior ao episódio que quase terminou com sua desclassificação ainda no primeiro set do jogo. Isso, sim, teria sido muito ruim para o tênis e, direta ou indiretamente, para a final de Wimbledon deste domingo.

Para quem não estava vendo ao vivo (ou não entendeu porque a ESPN cortou para o intervalo e não mostrou o incidente no momento em que ele aconteceu), a sequência de eventos foi a seguinte: ainda no primeiro set, a árbitra de cadeira, Eva Asderaki-Moore, uma das oficiais mais respeitadas do tênis, marcou um not up, ou seja, dois quiques da bola na quadra de Medvedev, e deu o ponto a Alcaraz. O russo ficou revoltado e desferiu um punhado de palavras nada educadas.

O microfone não captou o som, mas parece que Medvedev falou "fuck you" três vezes para a árbitra, encerrando a frase com um "bitch". Se pela TV é impossível ter segurança sobre o que foi dito, dá para ter certeza de que Asderaki-Moore ouviu algo grave porque imediatamente pediu a presença de um supervisor na quadra. E isso só acontece quando um árbitro de cadeira considera fortemente a chance de desclassificar um atleta (mas só pode fazê-lo com anuência de um supervisor). E "desclassificar" no tênis significa encerrar a partida ali, naquele momento.

O supervisor compareceu, Asderaki-Moore desceu da cadeira, e houve um pequeno debate sobre o que fazer. No fim das contas, a árbitra voltou para a cadeira, aplicou apenas uma advertência por conduta antiesportiva, e a partida continuou como se nada tivesse acontecido.

Não faz muito tempo, o também russo Andrey Rublev foi desclassificado do ATP de Dubai por ofender um juiz de linha em russo. O placar mostrava 6/5 no terceiro set para Alexander Bublik quando isso aconteceu. E é muito mais fácil para um supervisor encerrar um jogo em Dubai, com 6/5 no terceiro set, do que decretar o fim de uma semifinal de Wimbledon ainda na primeira parcial. Há muito mais gente vendo. Os contratos de TV são milionários. A repercussão é infinitamente maior. É o tipo de decisão vista, revista e analisada com pente fino por todo o planeta. É mais fácil deixar o jogo seguir.

"O show tem que continuar". É o que dizem, afinal. Mas até quando? A que preço? Wimbledon estabelece um precedente perigoso. Quando um torneio, sobretudo o mais tradicional e respeitado dos eventos, permite que um atleta - qualquer atleta - desfira esse tipo de ofensa a um árbitro, abre-se uma caixa de pandora tenística. Tudo pode acontecer e, daqui em diante, quando alguém, em qualquer lugar do planeta, for desclassificado, lembrarão de Medvedev e desta semifinal no All England Club. A partir de agora, qual será o limite para tenistas mimados que não aceitarem decisões contrárias? A que outros tipos de agressão árbitros precisarão se sujeitar para manter seus empregos?

Coisas que eu acho que acho:

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- Medvedev não convenceu muitos na coletiva quando disse que falou algo em russo, "mas não acima do limite". O tenista não entrou em detalhes sobre a suposta frase em seu idioma natal.

- Difícil dizer se houve dois quiques ou não. Nem o replay em câmera lenta é conclusivo. Medvedev disse que não sabe, mas na hora achou que a bola quicou uma vez só. O lance é um dos mais difíceis para árbitros de cadeira, já que o ângulo de visão, de cima para baixo, não é dos melhores. De qualquer modo, com Asderaki-Moore certa ou errada, o comportamento de Daniil é injustificável.

- Deve ser duro para uma árbitra do nível e com o currículo de Asderaki-Moore ouvir de um supervisor que tais xingamentos não são suficientes para uma desclassificação. Deve ser igualmente difícil trabalhar durante mais três sets com isenção após um incidente assim. A árbitra grega foi brilhante.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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