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10 pensamentos e/ou pesadelos sobre Carlos Alcaraz

Novak Djokovic venceu quatro games em dois sets; teve seu saque quebrado cinco vezes em três sets e precisou salvar quatro break points em outro game; perdeu um tie-break, o que não acontece com frequência em slams; e, mesmo quando conseguiu uma quebra, só o fez por seguidos erros não forçados do adversário. Resumindo? O maior campeão de slams em simples da história do tênis masculino foi amplamente dominado em uma final de Wimbledon.

A apresentação de Carlos Alcaraz na Quadra Central foi soberba do início ao fim, desde a quebra de saque em um game inicial que durou 14 minutos e viu várias das armas do espanhol em execução (houve winners de devolução de direita e de esquerda, passada na corrida, subida à rede com slice na cruzada, slice rasante com o rival subindo à rede e um pouco mais) até um tie-break quase perfeito que reforçou sua força mental e sua capacidade de elevar seu nível de tênis nas horas mais tensas - já, já, volto ao assunto.

Sim, também houve um inexplicável game de saque com três match points perdidos e cinco erros não forçados, o que só serviu para destacar que: 1) Carlos Alcaraz é humano; e 2) nem três match points perdidos com seguidos erros em uma final de Wimbledon e diante de Novak Djokovic abalaram a capacidade do jovem de 21 anos de: 2.1) acreditar que seria possível voltar a jogar seu melhor tênis no tie-break; e 2.2) fazer, de fato, um tie-break brilhante.

No pós-jogo, Alcaraz destacou que soube administrar melhor o pré-jogo e o início do duelo em comparação à final do ano passado. Em 2023, era sua primeira final de Wimbledon, e Djokovic não perdia na Quadra Central desde a final de 2013 (para Andy Murray). Alcaraz perdeu aquele primeiro set por 6/1. Hoje, um ano mais maduro e já conhecendo certas situações, foi colossalmente superior. Disparou na frente com um 6/2 e repetiu o placar no segundo set. Não é ciência exata, mas como vai estar Alcaraz daqui a um ano se continuar crescendo como pessoa, atleta e tenista?

Evidentemente, Djokovic não teve a preparação ideal para Wimbledon por conta da cirurgia. Mesmo que tenha mostrado uma ótima movimentação durante todo o torneio e não tenha sentido dores, faltou tempo para os treinos e o preparo físico costumeiros. Só ele é capaz de dizer o quão melhor poderia estar na final se as condições tivessem sido diferentes (ou se uma chave um pouco mais dura tivesse lhe testado mais antes da decisão). Dito isto, nada tira o brilho de Alcaraz ou esconde o quanto o espanhol evoluiu. Nole foi bem no pós-jogo e teve a decência de não culpar nem o joelho nem a falta de preparação pela derrota. Em vez disso, fez sua autocrítica e destacou não estar no nível de Alcaraz e Sinner atualmente.

Ano passado, escrevi que a final de Wimbledon de 2023, vencida por Carlitos em um nervoso quinto set, poderia ser vista no futuro como o começo da Era Alcaraz. É o tipo de coisa que só costumamos enxergar com clareza após alguns anos. Não acho que agora seja o momento de cravar coisa alguma. Nem o início da Era Alcaraz nem um declínio irreversível de Djokovic - teoria que os apocalípticos adoram. Os fatos, porém, nos lembram que o jovem espanhol de 21 anos venceu três dos últimos cinco slams, um número descomunal.

Naquele mesmo texto do ano passado, opinei que se o Alcaraz de 20 anos "foi capaz de bater um dos maiores da história em uma partida como a [daquele] domingo, é assustador imaginar o que ele pode vir a ser como atleta." Agora, um ano depois, vejo como espantosa a evolução do espanhol e sigo acreditando ser assombrosa a imagem mental de um futuro com um Alcaraz ainda melhor tecnicamente e mais experiente. Sonho ou pesadelo? Depende do seu tenista preferido.

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Uma das críticas que faço frequentemente à postura de Alcaraz é que o espanhol não tem tanta disciplina tática e, vez por outra, perde-se em partidas que estão (ou deveriam estar) sob seu controle porque tenta jogadas mais difíceis do que o necessário e dá pontos de graça aos oponentes. Se é tédio, soberba ou vício em adrenalina, não tenho como dizer. Talvez seja uma mistura dos três. Foi assim que Alcaraz perdeu no US Open (para Medvedev) e no Australian Open (para Zverev). Em Roland Garros e Wimbledon, houve menos disso, sobretudo nas fases decisivas. Outro sinal inequívoco de evolução.

Em Roland Garros, quando precisou disputar quintos sets na semi e na final, Alcaraz encontrou um nível que seus rivais (Sinner e Zverev, respectivamente) não conseguiram igualar. Em Wimbledon, fez o mesmo no tie-break do quarto set, quando esteve ameaçado por Tiafoe, e também no quarto set contra Humbert, diante do risco iminente de mais um quinto set. Na final, nem se fala. Nem o grande Djokovic chegou perto do patamar de Alcaraz. Uma sequência que fala muito sobre o potencial ainda pouco aproveitado - sim, ainda existe algo disso - por Carlitos.

Durante o terceiro set, peguei-me pensando se a atuação deste domingo seria a melhor de um tenista numa final de slam em muito tempo. Na hora, de cabeça, lembrei das finais de Roland Garros em 2008 (contra Federer) e 2020 (contra Djokovic), ambas dominadas por Nadal. E foi nesse momento que Alcaraz perdeu os três match points (40/0) com seu saque. Não, nunca teria acontecido com Nadal em um dia tão espetacular. Ainda assim, a Quadra Central viu uma das apresentações mais poderosas de um homem em uma final de slam nos últimos 25 anos (mas não, não vou fazer esse ranking).

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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