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Ausência de Wild na Davis não é surpresa para quem prestou atenção

O Brasil vai disputar a fase final da Copa Davis sem seu atual número 1, Thiago Wild, que não foi convocado pelo capitão Jaime Oncins. A ausência do paranaense, ainda que extremamente relevante como notícia, não chega a ser surpreendente. Em fevereiro, quando o Brasil derrotou a Suécia pela fase de Qualifiers da Copa Davis e garantiu um lugar na fase final da competição, o capitão Jaime Oncins mandou recados claros.

"A construção de um time não basta apenas ter bons jogadores, precisa ter pessoas de caráter e dispostas a alguns sacrifícios", postou em sua conta no Instagram.

"Tenho um orgulho muito grande deste time, todos os jogadores comprometidos, deixaram suas coisas de lado para estarem aqui, numa união muito grande e com um objetivo único que era vencer", foi a frase de Oncins que veio no comunicado enviado pela Confederação Brasileira de Tênis. Leia mais sobre Oncins e sua postura sobre a Copa Davis aqui.

Thiago Wild, que estava convocado para aquele confronto na Suécia, pediu dispensa por causa de um desconforto no pé. Na segunda-feira imediatamente seguinte àquele fim de semana, Wild estava na Argentina, pronto para jogar o ATP 250 de Córdoba. É óbvio que a sequência de eventos não caiu bem nem com Oncins nem com o resto do time.

Jogar um confronto de Copa Davis, como postou Oncins, exige alguns sacrifícios. Ir até a Europa competir em quadra dura indoor às vésperas da sequência sul-americana de saibro, que é importantíssima para brasileiros, está longe de ser o planejamento ideal para qualquer jogador do país. Há o tempo de viagem, as mudanças de fuso horário e os pisos diferentes, além do evidente desgaste físico e mental com a pressão de defender o Brasil.

Logo, quando um tenista importante para o time decide não ir - e o argumento da lesão é derrotado quando o mesmo atleta joga um torneio na semana seguinte - não pega bem com o resto da equipe. Não só com o capitão. O preço para WIld veio agora. A declaração de Oncins que veio junto com a convocação ajuda a explicar: "Como tive que fazer a convocação dois meses antes dos jogos, optei por manter o mesmo time que buscou a vitória num momento difícil do confronto. Tenho muita confiança nesses jogadores e todos vêm passando por bom momento."

Se momento por si só ditasse 100% da convocação, parece-me que Wild seria unanimidade. É o número 1 do Brasil, obteve vitórias grandes recentemente, e seu tênis tem um teto mais alto do que o de Monteiro. No entanto, quando Oncins menciona o "mesmo time que buscou a vitória num momento difícil", está selado o destino do paranaense, atual número 72 do mundo.

O Brasil vai a Bolonha jogar de 10 a 15 de setembro contra Itália, Bélgica e Holanda. Os convocados são Thiago Monteiro (#85), Felipe Meligeni (#144), Gustavo Heide (#178), João Fonseca (#218) e Rafael Matos (#39 nas duplas).

Coisas que eu acho que acho:

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- Procurei a assessoria de Wild e perguntei se ele via como retaliação sua ausência na equipe. A resposta foi política: "Não sei, sempre que posso gosto de defender o meu país. Estou indo para [os Jogos Olímpicos de] Paris defender o Brasil com a equipe, então só posso dizer que respeito as decisões e torço pelo time." Foi uma boa maneira de não alimentar ainda mais a questão.

- Entendo a postura de Oncins e repito: não me surpreende. Deixar Wild fora da fase final, o filet mignon da Davis, é uma maneira de recompensar quem se sacrificou e classificou o Brasil. Assim, Oncins também mantém a confiança dos jogadores, que veem seu esforço de fevereiro valer a pena agora.

- Por outro lado, quem perde mais é o Brasil, que vai jogar sem seu melhor atleta. Além disso, Oncins deixa claro que não será um capitão de perfil apaziguador. Fosse diferente, poderia ter conversado com Wild, acertado os ponteiros e, talvez - apenas talvez - tudo se resolvesse com um pedido de desculpas do paranaense ao resto da equipe. Pelo que apurei, nunca houve tal conversa.

- Não acho, porém, que Oncins será rancoroso ao ponto de manter Wild fora do time no ano que vem. Imagino que a ausência na fase final deste ano será punição suficiente para que o número 1 do Brasil entenda o recado e o tipo de comprometimento que o atual capitão exige.

- O que eu acho que vai acontecer? Consigo imaginar Oncins escalando Fonseca como segundo tenista logo de cara. Por algum motivo, Jaime tem mantido Felipe Meligeni fora das simples, e Gustavo Heide não convenceu em sua apresentação na Suécia, tanto que Oncins já tinha avisado que se aquele confronto fosse para o quinto jogo, Fonseca seria o escalado. Acho que o carioca será a grande aposta do capitão em Bolonha.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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