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Sobre formiguinhas e a vida no formigueiro

Era uma vez, caros leitores, uma floresta em algum lugar do Oeste. Nessa floresta, havia algumas dezenas de colônias de formigas. Em uma dessas colônias, uma bastante específica, as formiguinhas, unidas como formiguinhas devem ser, tinham como hábito coletar folhas e levá-las de volta para seus formigueiros.

E nessa colônia, como deve ser em toda colônia, havia formigas de diferentes tamanhos. Formigas jovens, formigas adultas, formigas veteranas e, dizem, até ex-formigas. E como deve ser em toda colônia, havia também uma formiga-rainha.

Formigas vivem em sociedade, e essas sociedades têm divisões de tarefas. Na colônia de nossa história, havia uma espécie de livre-arbítrio. Cada formiga podia levar de volta para o formigueiro a folha que quisesse. Não importava cor, textura nem tamanho. Bastava carregar uma folha por dia de volta para casa.

Em algumas épocas do ano, porém, era preciso trabalhar em conjunto. Todas formigas - das jovens às veteranas - tinham que buscar folhas da mesma cor. Às vezes, eram folhas verdes. Em outras, folhas vermelhas. Era uma determinação da formiga-rainha. E assim a colônia vivia em harmonia, obedecendo às leis do formigueiro.

Há quem diga que a formiga-rainha de nossa história foi eleita por unanimidade, mas isso é outra história, para outro livro. O que precisamos saber nesta parte da história é que as ordens da rainha-formiga jamais eram contestadas. Todas as formigas viviam felizes, em harmonia.

Um belo dia, uma das formigas de nossa colônia disse que não poderia carregar folhas da mesma cor do que o resto da colônia. A orientação, naquela temporada, era buscar folhas azuis. Esta formiga bem jovenzinha, porém, contou que, em um passeio longe de seu formigueiro, fez um acordo com outro animal para só carregar folhas brancas. O animal de nossa história não terá sua identidade revelada porque formigas-jornalistas também protegem suas fontes.

Não se confundam, leitores. Cada colônia de formiguinhas tem suas próprias regras. Em outras florestas, sob outras árvores, formiguinhas podem atuar em conjunto, e cada uma delas pode escolher a folha de sua preferência para ves..., quero dizer, carregar. Perdoem o narrador.

Nesta colônia do Oeste, porém, prevaleceu o impasse. Nossa formiguinha já não podia atuar em conjunto com as outras formiguinhas da colônia. Assim, teve de se afastar. Foi substituída por outra. Afinal, as ordens da formiga-rainha eram lei, e todas as outras formiguinhas - adultas, veteranas e até ex-formigas - cumpriam o que estava estabelecido. É assim que se vive em uma sociedade de formiguinhas.

Moral da história?

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Este não é o tipo de história que termina com lição ou moral. Na verdade, o relato deixa mais perguntas do que dúvidas.

Se havia uma determinação superior da formiga-rainha - e todas formigas, inclusive as veteranas e que melhor trabalham cumprem essa determinação - por que nossa formiguinha fez um acordo diferente, fora do formigueiro?

Será que nossa formiguinha, impedida de trabalhar em conjunto com as formiguinhas que falam seu idioma, pode mudar de colônia e passar a carregar folhas de outras cores? Se isso acontecer, quem será o responsável?

Se a formiga-rainha foi eleita por unanimidade, e todas formiguinhas - jovens, adultas, veteranas e até ex-formigas - cumprem tudo que é determinado e sem contestar, é porque está tudo certo no formigueiro. Logo, a outra formiguinha é que está errada. Ou não? De quem é a culpa?

Se a formiga-rainha atual, por algum motivo, precisar encerrar seu mandato, a próxima formiga-rainha manterá a atual constituição? Ou formará uma nova constituinte-formiga e mudará a legislação?

Aguardemos os próximos capítulos.

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Importante: esta história é completamente fictícia. Não há qualquer relato na agrociência sobre formigas fazendo acordos fora de seus formigueiros.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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