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O inevitável esgotamento de Carlos Alcaraz

Ele foi campeão de Roland Garros no começo de junho. No meio de julho, levantou a taça em Wimbledon. Antes do fim do mês já estava de volta ao saibro, competindo nos Jogos Olímpicos Paris 2024. Jogou com a perna direita enfaixada e, além de ir longe mais uma vez, alcançando a final e subindo ao pódio com a medalha de prata, competiu nas duplas, com a tensão de atuar ao lado de um de seus heróis e a pressão de saber que um dia ruim encerraria a trajetória olímpica de Rafael Nadal, um dos maiores da história do tênis.

Ainda que este parágrafo possa soar como um meme barato de 2010, cabem as perguntas: o que você, leitor, fazia aos 21 anos? Qual foi o máximo que conseguiu alcançar em dois meses de profissão? O quanto isso exigiu de seu corpo? E de sua mente?

A resposta, no caso de Alcaraz, foi dada em quadra. Em Cincinnati, levou uma virada de Gael Monfils e, pela primeira vez desde que chegou à elite do tênis, destruiu uma raquete. Nesta quinta-feira, na segunda rodada do US Open, mostrou-se perdido taticamente, sem força mental para sequer buscar soluções contra um competente, mas nada espetacular Botic Van de Zandschulp. E suas declarações na coletiva pós-jogo são mais uma evidência desse esgotamento físico, mas sobretudo mental do atual número 3 do mundo.

Sobre o esforço físico

"O calendário é muito duro. Joguei muitas partidas em Roland Garros, Wimbledon e nas Olimpíadas. Tirei alguns dias depois dos Jogos. Pensava que seria suficiente, mas não foi. Talvez tenha chegado aqui sem a energia que pensei que teria. Não quero colocar isso como desculpa, mas sou o tipo de jogador que precisa de mais dias de descanso antes de um grande torneio. Tenho que aprender com isto."

Sobre o desgaste mental

"Estava lutando comigo mesmo, na minha cabeça, durante a partida." ... "Hoje, estava jogando contra ele e contra mim mesmo, na minha cabeça. Emoções demais que não consegui controlar. Era como uma montanha russa. Às vezes, estava acima. Outras, abaixo. Não posso estar assim se quiser ganhar um torneio como este."

"Sinto que em vez de dar passos para a frente, andei para trás em relação ao mental. Não sei por quê. Vinha de um verão espetacular, dizendo que mentalmente havia dado passos adiante, mas chego a esta sequência, e caminho para trás. Mentalmente, não estou bem, não estou forte. Isto é um problema. Agora, não quero dizer nada. Quero falar com a minha equipe e ver que passos damos agora. Não pensei em toda a exigência tão em sequência e como isso poderia me afetar."

Não era difícil de prever uma queda de rendimento por parte de Alcaraz (vide este último parágrafo). O circuito cobra um preço alto. Viagem, hotel, treino, jogo, fisioterapia, hotel, treino, fisioterapia, hotel, jogo, fisioterapia... No meio de tudo isso, uma mente exigida ao máximo. Concentração nos treinos, foco no plano de jogo, raciocínio físico exigido a cada golpe, expectativa da torcida, expectativa própria, etc. Apenas ler a sequência que acabo de listar é capaz de despertar uma sensação amarga de ansiedade.

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No tênis, quanto mais se ganha, maior é a exigência, e não há tempo de descansar. O esgotamento de Alcaraz era tão previsível quando inevitável. A conta por jogar em altíssimo nível durante três grandes eventos praticamente em sequência chegou na noite desta quinta-feira, em Nova York, e Alcaraz não tinha mais de onde tirar para fazer esse PIX que não se paga com dinheiro.

Coisas que eu acho que acho:

- Esperar algo diferente de um jovem de 21 anos, não importa o quão exageradamente talentoso, é que seria um exagero.

- Se conseguir o devido tempo para descansar corpo e mente agora, a partir de já, Alcaraz pode até se recuperar para fazer um belo fim de temporada. Copa Davis, com finais na Espanha, e o ATP Finals, podem ser objetivos bastante plausíveis diante das circunstâncias.

- A última vez que vi um jovem tão talentoso e tão esgotado mentalmente dentro de uma quadra de tênis foi em 2008, nas semifinais do US Open. Naquele ano, Rafael Nadal vinha de ganhar Roland Garros, Wimbledon e os Jogos Olímpicos de Pequim. Assumiu ali o posto de #1 do mundo. Lutou bravamente em Nova York, mas parou nas semifinais diante de um Andy Murray que faria ali sua primeira final de slam. Rafa tinha 22 anos, um a mais do que Carlitos tem hoje.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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