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Em NY, Bia mostra nível mais alto do que quando fez semi em Roland Garros

Beatriz Haddad Maia ainda precisa de uma vitória no US Open para igualar a melhor campanha de sua carreira, quando alcançou as semifinais de Roland Garros, no ano passado. A matemática do ranking é fria. Não dá pontinhos de bônus por estilo nem quer saber a qualidade das adversárias que aparecem pela frente. No entanto, já dá para dizer que o nível de tênis mostrado pela brasileira este ano, em Nova York, é superior ao exibido em Paris.

Nesse tipo de análise, números não são absolutos. Circunstâncias distintas, adversárias diferentes e tudo mais. Ainda assim, dá para observar alguns pontos: ano passado, em Roland Garros, Bia precisou de 11 sets para chegar às quartas. Perdeu 45 games (quatro por set) nas quatro primeiras rodadas. Este ano, foram dez sets jogados. Bia cedeu apenas 26 games (2,6 por set). Uma diferença considerável, mesmo levando em conta que não foram as mesmas oponentes.

Não acho, porém, que os números sejam o mais relevante aqui. O que ficou bastante evidente nesta edição do US Open é que Bia jogou em um nível alto por mais tempo e com menos oscilações. Depois de um set inicial nada empolgante na estreia, contra Elina Avanesyan, Bia se impôs. Foi muito superior a Sara Sorribes Tormo (6/2 e 6/1) e a Anna Kalinskaya (6/3 e 6/1). Só voltou a perder um set diante de uma competentíssima Caroline Wozniacki (6/2, 3/6 e 6/3), que cometeu míseros cinco erros não forçados na segunda parcial desta segunda-feira. Bia venceu mostrando um belíssimo tênis.

Ano passado, a história foi bem diferente. Depois de atropelar Tatjana Maria na estreia (6/0 e 6/1), Bia avançou como uma montanha russa. Na segunda rodada, ganhou apertado de uma ainda desconhecida Diana Shnaider (6/2, 5/7 e 6/4). Na terceira, precisou salvar match point para bater Ekaterina Alexandrova (5/7, 6/4 e 7/5). Nas oitavas, viu a espanhola Sara Sorribes Tormo abrir 7/6 e 3/0 antes de virar e vencer em 3h51min por 6/7, 6/3 e 7/5. Ali, Bia jogou bem, mas por menos tempo. Ganhou na raça. Ou com o substantivo que ela prefere: resiliência.

A Bia deste US Open é mais - digamos - linear, no bom sentido da palavra. Encontra um bom nível de tênis e não tem os apagões que foram tão frequentes no primeiro semestre desta temporada. É uma Bia que joga no ataque, mas sem ser kamikaze (o que teria sido fatal contra Wozniacki). Uma Bia que mostra saber o que fazer em quadra. A Bia da convicção que escrevi alguns dias atrás.

Não ouso tentar prever o que vai acontecer nos próximos dias (este é um texto de análise, não de futurologia). Karolina Muchova, a oponente de Bia nas quartas, é uma tenista excelente em vários aspectos. Iga Swiatek e Jessica Pegula, potenciais adversárias em uma semifinal, também. A julgar pelo que fez até agora, é possível que Bia tenha suas chances, embora, nas casas de apostas, não seja favorita contra nenhuma das três. No entanto, mesmo que volte para casa sem ir à semi, há o que comemorar. Haddad Maia não só provou que pode voltar a uma semi de slam, mas também mostrou que já é uma tenista superior à de 2023. Não dá para pedir muito mais.

Coisas que eu acho que acho:

- Tanto Bia quanto seu técnico, Rafael Paciaroni, vêm falando o mesmo: ela é uma tenista com mais recursos do que no ano passado. Só que era isso também que criava uma expectativa maior sobre a brasileira, e ela não vinha lidando bem com isso. Leia aqui para entender melhor.

- Escrevi no Threads mais cedo e repito aqui: algo que sempre prego em análises é equilíbrio, e muita bobagem precipitada foi dita nos últimos meses, enquanto Bia teve sequências ruins e sofreu derrotas em jogos ganháveis. Será que agora, com ela nas quartas do US Open, ainda tem gente pedindo a cabeça do técnico? Dizendo que ela está decadente? Que já tinha alcançado seu auge? Não, Bia não virou a melhor tenista do mundo agora, mas essa campanha serve pra fazer muitas pessoas pensarem melhor antes de proferirem suas sentenças por aí.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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