Sobre João Fonseca, potencial e mais 5 bons sinais
Depois de meu último texto, citando alguns dos méritos de João Fonseca na Copa Davis, o leitor Eduardo Matzenbacher perguntou no Threads se "já podemos acreditar". "Depende", respondi. Acreditar no quê? "Ele tem potencial para top 10 ou ainda é muito cedo?" Rebati que sim, mas potencial é um conceito abstrato e um tanto subjetivo.
"Suscetível de existir ou acontecer, mas sem existência real; virtual." é uma das definições do dicionário Oxford. Em bom português do dia a dia, é o famoso "vai ser, mas pode ser que não." No caso de um atleta, é algo ainda mais difícil de medir. Na prática, potencial é o que achamos que alguém pode alcançar em algum momento. E mais na prática ainda, o que eu acho (ou acho que acho) pode ser radicalmente diferente do que pensa você ou qualquer outra pessoa.
Lembro bem que cinco anos atrás, quando Thiago Wild, campeão do US Open juvenil em 2018 e top 10 mundial em sua época, conquistou o ATP 250 de Santiago em 2019. Tornou-se o brasileiro mais jovem a vencer um torneio desse nível. A expectativa era alta. O top 100 estava muito perto, e o 50 parecia uma realidade nada distante. Falava-se em potencial para top 10. Hoje, cinco anos depois, Wild tem como melhor ranking o 58º posto, o que é excelente, mas ainda não chegou nem perto de confirmar o tal do "potencial".
O que ficou evidente ao longo desse tempo é que o paranaense, hoje com 24 anos e #96 do ranking, não tinha alguns aspectos de sua carreira bem organizados. O extraquadra, por exemplo, não colaborou. A acusação de violência doméstica, certamente, foi outro elemento negativo dessa equação. E, como todos sabemos, ser um tenista profissional exige muito mais do que bater bem numa bolinha amarela (e esta parte Wild sempre fez muito bem).
A ideia aqui não é comparar, mas, voltando a falar de Fonseca, o mais animador na tarefa de tentar medir seu potencial é ver que, além de mostrar precocidade no jogo e nos resultados dentro de quadra, o carioca parece ter o extraquadra bem organizado. Tanto na compreensão de sua carreira, ao lidar com resultados, expectativa e pressão, quanto na participação de seus pais, ainda muito próximos e evitando que o filho comece a "acreditar" na badalação excessiva que se lê em alguns lugares por aí. Veja abaixo cinco exemplos disso em declarações de Fonseca à revista Clay, em entrevista realizada durante o quali de Wimbledon:
1. Sobre pressão e expectativas
"Há muita pressão acerca das expectativas que estou gerando. Sou um cara de quem estão falando muito. Estão me observando nos torneios. A pressão que eu gosto é a pressão que pode estar sobre meus adversários. Eles sabem que sou um cara novo, mais jovem que o resto e jogando bem. Gosto que a partida tenha esse tipo de pressão. Tenho 18 anos e entendo que estou treinando, que sou um projeto. Estou em meus primeiros meses no circuito profissional e aprendi muito. Penso muito no futuro."
2. Sobre não ter a carreira gerida por uma grande empresa
"Pensamos muito em família sobre isso, falamos sobre a ideia de ter um agente, mas por enquanto estamos bem. Por enquanto, não vou ter um agente, não vou assinar com uma agência. Meus agentes são meus pais. Por enquanto, estamos vivendo o presente com calma, pensando bem porque é algo que dura uma carreira. São decisões importantes e por enquanto estamos esperando para encontrar o melhor caminho e acertar."
3. Sobre o que conversaria com Federer
"Federer é meu ídolo desde criança. Sempre gostei de ver seus jogos, seu estilo elegante, clássico, fácil. Ele é uma referência. Gostaria de ouvir suas histórias, saber o que acontece nos momentos difíceis. O que ele pensava do tênis quando tinha a minha idade. Ele é muito talentoso, mas muitas pessoas dizem que ele não era muito dedicado quando jovem. Gostaria de ouvir isso dele porque ele poderia ajudar e me ensinar muitas coisas. Se eu conversasse com ele, tentaria tirar o máximo disso."
4. Sobre como se vê em dezembro de 2025
"Eu me vejo disputando os slams. Não é um objetivo, muito menos uma obrigação na minha cabeça. É apenas o que quero. Tudo tem seu tempo, mas é aonde quero chegar e aonde acredito que tenho potencial para chegar."
5. Sobre Sinner e Alcaraz
"Vejo a rivalidade deles, e é onde quero estar. Às vezes penso "vou ter como meta o top 100, o top 50." Não. Vou olhar para eles. Quero ser como eles. Quero ganhar slams e outros torneios grandes. Alcaraz e Sinner servem como inspiração e motivação para seguir trabalhando cada vez mais duro."
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Quero receber"É difícil falar sobre isso, mas é aonde quero chegar. Não é algo que penso, será apenas uma consequência do meu trabalho."
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