Sobre Beatriz Haddad Maia, processos e clichês
"Agora a gente está numa fase que é o último degrau da carreira, que é ela ser top 10. E ela precisa do tempo dela para lidar com essa gestão de emoção. Mas se ela vai precisar de duas semanas ou um ano..."
A frase acima é de Rafael Paciaroni, e está publicada na última parte da entrevista publicada aqui no Saque e Voleio em abril do ano passado, ainda antes de Beatriz Haddad Maia alcançar as semifinais de Roland Garros. De lá para cá, como todo mundo sabe, a paulista de 28 anos teve seus altos e baixos. Foi campeã do WTA Elite Trophy, alcançou o top 10, caiu cedo em quatro slams seguidos, perdeu vários jogos em que cedeu pelo menos seis games seguidos, teve uma crise de confiança e ansiedade e, agora, fez quartas no US Open e jogou duas finais, conquistando o título do WTA 500 de Seul e voltando ao posto de #12 do mundo.
Durante a fase de alta e o pós-Roland Garros do ano passado, Bia era uma das melhores do mundo, e Paciaroni, um novo gênio, o técnico moderno, estudioso e vencedor que a seleção brasileira masculina de futebol precisava. Ou, pelo menos, foi o que li por aí. No primeiro semestre do ano passado, Bia era a "cabeça fraca", e tenista que já tinha alcançado seu auge e não conseguiria se sustentar na elite. Paciaroni merecia a guilhotina ou, na melhor das hipóteses, a companhia de um técnico mais experiente. Ou, pelo menos, foi o que li por aí.
É aí que os clichês entram. Paciaroni disse lá atrás que precisava respeitar o tempo de Bia. Ela, por sua vez, afirmou recentemente seguidas vezes que os treinos estavam sendo bons, e o trabalho fora das partidas oficiais estava sendo bem feito. É o tal do "respeitar o processo", outro clichezão.
Clichês não existem por acaso. Talvez sejam expressões banalizadas ao longo do tempo, o que é perigoso. Hoje em dia, infelizmente, "respeitar o processo" é algo repetido tanto por pessoas que sabem o que estão fazendo e têm a convicção de estarem no caminho certo quanto por quem trabalha mal ou por quem não sabe a direção a seguir e tenta ganhar tempo citando um suposto plano de longo prazo.
E sim, é difícil para quem está do "lado de fora" entender quem é quem ou separar os processos verdadeiros do charlatanismo. Todo bom charlatão, afinal, tem como sua maior qualidade apresentar-se como alguém sério, confiável e de sucesso "comprovado". Neste cenário, cursos de "acumuladores de milhas", técnicas de programação neurolinguística e cadeiras voadoras costuram uma teia traiçoeira.
Bia, Paciaroni e sua equipe tentaram se isolar das críticas. Digo "tentaram" por causa do discurso ao fim da Billie Jean King Cup, em São Paulo, quando Haddad Maia saiu em defesa de sua equipe mesmo quando ninguém ali na coletiva fez críticas ao trabalho (logo, os ataques de redes sociais chegaram até ela por algum meio). Independentemente disso, o "processo" continuou. O processo genuíno, do dia a dia. Bia, hoje, lida melhor com a 'gestão de emoção' que Paciaroni mencionava. Os resultados estão aí.
Coisas que eu acho que acho:
- Bia ainda tem seus altos e baixos (perdeu sete games seguidos na final contra Kasatkina), mas as vitórias voltaram. São 12 triunfos, com um título e um vice, nas últimas 14 partidas.
- A Bia de hoje é mais forte do que a do ano passado, e tudo indica que ela terá um desafio e tanto contra Sabalenka se alcançar as oitavas do WTA de Pequim. Pode ser a campanha que a paulista tanto vem buscando em um 1000. O timing não poderia ser melhor.
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