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Wada recorre e pede suspensão para Sinner. Mas o #1 não era protegido?

A Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) entrou com um recurso junto ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) pedindo uma suspensão do italiano Jannik Sinner por um a dois anos em um recente caso de doping.

Atual número 1 do mundo, Sinner testou positivo duas vezes para a substância proibida clostebol em março deste ano. O tenista, contudo, foi considerado sem culpa e sem negligência no caso e, por isso, não foi suspenso. Sua sentença apenas lhe tirou os pontos e prêmio em dinheiro conquistados no Masters 1000 de Indian Wells, quando foi realizado o primeiro dos dois testes.

A defesa de Sinner alegou que a substância entrou no sistema do atleta por contaminação via seu fisioterapeuta, que estava aplicando um spray para tratar um corte no dedo. Esse spray, que continha clostebol, teria sido usado de 5 a 13 de março, período em que o profissional fez massagens e tratamento fisioterapêutico em Sinner. Como a pele do tenista também tinha lesões, esse contato teria causado a contaminação.

A tese foi aceita pelo tribunal independente que julgou o caso, inclusive com três especialistas declarando que a quantidade de clostebol encontrada nas amostras de Sinner não era suficiente para causar melhora de desempenho atlético e, ao mesmo tempo, era compatível com uma ingestão acidental.

Com o recurso, a Wada mostra não estar satisfeita com a sentença de "sem culpa nem negligência". Em um comunicado, a agência informou que "está buscando um período de inelegibilidade de entre um e dois anos. A Wada não está buscando a desclassificação de nenhum resultado, a não ser o que já foi imposto pelo tribunal de primeira instância."

Não é todo dia que a Wada recorre de uma sentença aplicada a um tenista. Logo, esta apelação, pedindo uma punição mais severa ao número 1 do mundo, joga uma pá de areia sobre as muitas teorias que pipocaram por aí, alegando que Sinner teria sido protegido ou recebido tratamento diferente dos demais atletas.

O cenário mais comum, pelo menos no que diz respeito a casos de doping envolvendo tenistas, tem os atletas recorrendo ao TAS buscando punições mais brandas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Maria Sharapova e Simona Halep. Ambas conseguiram reduções em suas suspensões.

Aliás, é bom destacar que, historicamente, o TAS é generoso com tenistas e quase sempre reduz as suspensões impostas pelos tribunais independentes formados pela ITF, a Federação Internacional de Tênis. Será interessante acompanhar seu posicionamento agora, quando os papéis estão invertidos, e o recurso é contra um atleta.

Coisas que eu acho que acho:

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- Vale informar e derrubar algumas das teorias conspiratórias criadas e espalhadas por gente mal informada logo que o caso de Sinner veio à tona. Vejamos um par delas:

1) "A ATP protegeu Sinner como escondeu o caso de Agassi nos anos 1990" (ouvido de várias fontes diferentes)

Hoje, a ATP não se envolve em casos de doping. Os testes são feitos de acordo com protocolos da Wada; as amostras são analisadas por diversos laboratórios diferentes, ao redor do mundo (todos, porém, credenciados pela Wada); e os julgamentos são feitos por tribunais independentes formados caso a caso pela ITF. A ATP tem zero participação nisso tudo.

2) "A ATP e a ITIA deixam bem claro que a regra e a rigidez não são as mesmas para todos. Quem aqui em sã consciência tem alguma dúvida que se a mesma coisa acontecesse com um jogador sul-americano esse não seria punido de uma maneira exemplar?" (frase do capitão brasileiro na Copa Davis, Jaime Oncins, em sua conta no Instagram).

Bom, já expliquei sobre a ATP. A ITIA coordena o programa antidoping do tênis e participa dos processos como parte acusadora, mas não é ela quem julga os casos de doping. Sobre a questão contra sul-americanos, lembro que recentemente houve punições bem severas a Maria Sharapova (russa), Simona Halep (romena), Mikael Ymer (sueco) e Jenson Brooksby (americano). Duas ex-número 1 do mundo. Quatro atletas de países com tradição no tênis. Os dois últimos sequer testaram positivo (foram punidos por não estarem nos lugares informados para testes). São casos de extremo rigor, e nenhum deles envolveu um sul-americano. Acredito que podemos encerrar o assunto aqui.

- Que fique claro: a intenção aqui não é defender Sinner. Concordar ou não com a sentença é do jogo. Faz parte. Porém, para isso, é preciso ler sobre o caso, entender os porquês do processo e as justificativas dos especialistas ouvidos e de quem proferiu a sentença. Qualquer coisa fora disso beira fake news e irresponsabilidade.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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