Entrevistão com Laura Pigossi: mais agressividade em busca de grande salto
Se existe algo constante no eternamente inconstante tênis brasileiro, é a expectativa por bons resultados de Laura Pigossi em território nacional. Seja vestindo as cores do país ou simplesmente dentro das fronteiras verde-e-amarelas, a paulista de 30 anos aproveita como poucas os torneios no Brasil e na América do Sul. Um exemplo disto veio neste domingo, com a conquista do W75 de São Paulo, disputado no Clube Paineiras do Morumby.
A campanha não só coloca Laura mais perto do seu objetivo - aproximar-se das 100 primeiras do ranking para disputar o Australian Open sem precisar passar pelo qualifying - como confirma seu histórico na região. E foi durante o torneio que conversamos sobre um pouco de tudo. As derrotas doídas desta temporada, sobretudo em Roland Garros e nos Jogos Olímpicos; seu nível de tênis e a crença de que é possível ir mais longe no ranking [sua melhor posição até hoje foi o 100º lugar]; o feito e as dores de Paris 2024; as não-tão-pequenas vitórias de sua carreira; a paixão pelas duplas; e, claro, o amor incondicional por defender o Brasil.
Mais do que qualquer outra coisa, Laura, atual número 128 do mundo [Laura era a 144ª antes de o ranking computar seus pontos pelo título em São Paulo], destaca que seu salto de 2022, quando saiu de #212 para #126 do mundo em uma semana, ainda lhe custa. Foi como pular uma etapa de um processo que só agora Laura vive. Ela aposta que quando essa maturidade se juntar à maior agressividade que vem buscando juntamente com um saque mais eficiente, pode vir algo grande pela frente.
Alguém ousa duvidar de uma atleta que disputou os Jogos Olímpicos de Tóquio como número 189 do mundo nas duplas e terminou com a medalha de bronze? Eu é que não. Em todo caso, leia a entrevista na íntegra abaixo.
Vamos começar pela parte difícil? De Wimbledon pra cá, você não teve tanto resultado. O que que faltou? Como é que você tá vivendo esse momento que não é tão bom assim?
Exatamente em Wimbledon, eu tive uma lesão no cotovelo. Gastou bastante energia. Gastou bastante energia mentalmente, fisicamente, com dias bons, dias não tão bons, dias péssimos. Dois dias antes de competir, eu não conseguia estender o braço. Então é algo que eu venho tratando, venho trabalhando desde então. Ali, antes das Olimpíadas, eu tinha entrado num WTA 250, na chave principal de Palermo, e tive que me retirar porque... Você vai ficar jogando torneio antes das Olimpíadas? Talvez você não consiga jogar as Olimpíadas. Ou você vai tentar jogar a chave de um 250, onde você está jogando super bem, você vem de Roland Garros bem rodado. Então são decisões que, às vezes, as pessoas de fora não sabem. E que o atleta sofre muito. E, às vezes, os resultados não vêm, mas, na minha cabeça, agora, está tudo incrível. Porque eu tô saudável. Tô conseguindo desfrutar dentro da quadra. Eu consigo realmente curtir jogar tênis, que esses últimos dois meses foram bem difíceis, mentalmente, fisicamente, de realmente não saber o que vai ser o dia de amanhã. Então acho que esse é um ponto que mexeu bastante, que aconteceu. Mas, com certeza, estou fazendo várias mudanças também. Mudei de preparador físico, estou viajando com outro técnico. Então são coisas que precisam de uma adaptação e eu tenho que respeitar esse processo. Também não posso querer de uma hora pra outra sair dos 140 que eu estou agora e chegar nos 50. Ou posso (risos).
Pode.
A mulher que eu ganhei faz um mês acabou de fazer final de um 250. Na semana seguinte, ganhou um 250 e fez terceira rodada em Pequim. Eu ganhei dela, e ela na 2ª rodada [Laura fala da tcheca Rebecca Sramkova, que era #112 do mundo quando perdeu da brasileira, em junho, e agora é a #61 do ranking, depois de ser vice-campeã do WTA 250 de Monastir e campeã do WTA 250 de Hua Hin em semanas consecutivas). Por que não eu? Então acho que tenho que manter a positividade. O ranking sobe, o ranking desce, mas o nível e como você se sente, como você está mentalmente para aceitar essas coisas. E acho que a Bia [Haddad Maia] é um bom exemplo disso também. Ela não vinha tendo um ano que talvez todo mundo esperasse e, de repente, ali antes do US Open, ela faz final de um torneio [WTA 250 de Cleveland], quartas de final do US Open, e em Seul [um WTA 500] ela é campeã. Então eu acho que no tênis você não consegue estar o ano inteiro bem. É um calendário bastante bem desgastante, ano passado eu joguei 36 semanas, e a gente tem que aceitar que vai ter semana que a gente não vai estar no nosso 100%, e tá tudo bem. Mas se você estiver treinada, com nível, jogando com as meninas, pode fazer que nem a Bia ou que nem a Rebecca e, do nada, estar número 50 no mundo.
Você está treinando com quem agora? Quer dizer, viajando com que treinador?
Na academia tem vários técnicos.
No US Open, você estava com o [espanhol Albert] Portas, que eu lembro.
Nos Grand Slams, eu acabo indo bastante com ele. Aqui, eu estou com um outro da academia, que chama Dani, que já viajei várias semanas. Nas últimas duas semanas, na Europa, onde eu joguei com, dois torneios de 125, eu estava com o Germán Puentes, que é o meu técnico mesmo. Eu gosto de ir trocando de técnico. Não sou uma daquelas que consegue viajar um ano inteiro só com um técnico. Eu acho que se eles falam a mesma coisa de maneiras diferentes, no final eles têm a mesma linha, mas eu consigo pegar coisas diferentes de diferentes maneiras. Às vezes, a maneira como uma pessoa fala, o outro tá falando faz três meses pra você, e você entende melhor de outra maneira. Então é algo curioso e é algo que eu gosto.
Você fez 30 anos agora, em agosto, Já foi uma barreira no tênis lá, sei lá, uns 15, 20 anos atrás, quando a pessoa fazia 30 e falava-se em decadência, né? Acho que essa geração que veio com Federer, Nadal e Djokovic meio que quebrou isso. Mas não deixa de ser uma mudança de dígito e que, sei lá, pra pessoas normais até tem uma coisa, tem um peso. Como é que foi pra você?
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Quero receberCara, eu sempre falo que a minha idade de alma é mais jovem. Às vezes quando eu vou em um restaurante e quero pedir uma taça de vinho, pedem o meu RG. Eu falo "não é possível, quem tá pedindo meu RG? A semana passada não, faz dois, dias o fisio daqui me deu 24. Não sei o que tá acontecendo, acho que minha pele tá muito boa (risos). Mas não é algo que eu penso. Eu, de pequena, tive alguns problemas de saúde. Tive febre reumática, que também atrasou um pouco esse processo de amadurecimento. Então eu tento não pensar muito em "ah, 30 anos". São números. É mais como você se sente por dentro, a pessoa que você é e o que você ainda tem a aportar para o esporte, a aportar na sua carreira, o quanto você ainda quer fazer no tênis, então acho que isso é muito mais importante que um número.
O circuito não te cansou ainda?
Não, não (risos). Ainda não. Acho que quando um ainda tem objetivos pessoais, acho que isso é maior que as viagens. Mesmo porque acho que eu não sei não sei outra maneira de viver, né? Fiz isso a minha vida inteira (risos).
Conta um pouquinho desses objetivos pessoais. O que você planeja, almeja, o que você tem em mente?
Ah, eu quero poder entrar na chave dos Grand Slams pelo próprio ranking. Acho que esse é o primeiro. Entrar direto na chave dos Grand Slams. Eu tenho certeza que tenho nível pra estar jogando torneios maiores, senão eu não teria ganhado das meninas que estão lá nesse momento e que jogam lá todas as semanas do ano. Joguei com a Marta Kostyuk [então #20 do mundo] em Roland Garros e não ganhei por... Não ganhei por muito pouco [Laura esteve vencendo por 4/1 e teve dois break points para abrir 5/1 no terceiro set]. Então acho que o nível tá... Acho que também é mental, de amadurecer. Amadurecer este nível que eu tô no momento. Eu acho que, pra mim, tudo aconteceu muito rápido. Eu tava 300 no mundo, fui pras Olimpíadas, ganhei a medalha de bronze. Estando #300 de simples e #190 de dupla. "Putz, poderia estar jogando com a Lu [Luisa Stefani] em San Diego agora. E se eu ganho a medalha de bronze, eu posso estar lá também. Mas não, eu tenho que jogar um 25 mil em Vigo. Então, mentalmente você tem que se adaptar a essa realidade que você tá, mas que você sabe onde você pode chegar. E acho que nas simples também aconteceu a mesma coisa. Eu tava jogando torneio de 25 mil dólares na Colômbia, perdi nas quartas de final para uma menina que estava 300. Na semana seguinte, eu passo o quali, faço uma final e subo para #110. Então, todo esse processo de "estou 190, estou 180, agora estou 150..." Eu não passei por isso. Eu fui de 200 para 110 muito rápido e eu não vivi isso de jogar WTA todas as semanas e perder muito mais do que você ganha. Estava muito mais acostumada a jogar torneios menores, a sair de cabeça de chave número 2, o nível é um pouco mais baixo...
E você pode evoluir durante a semana também.
Exato. Você vai, às vezes, fazer quatro jogos cada semana. Na WTA, o nível que eu estava, se eu faço quatro jogos em três semanas, eu tô 30 do mundo. Então é algo que eu não entendia e que ainda me custou. Tipo, foi difícil pra mim este ano ainda. Eu joguei todos os torneios grandes e, muitas vezes, eu pegava na primeira rodada alguém que estava 50 do mundo num quali de WTA 1000. Eu ganhava, perdia... mas se eu ganhasse cinco jogos seguidos, estava fazendo o terceira rodada de um WTA 1000, e não estaria 110, estaria 50-60. Então acho que isso também foi algo que eu tive que me adaptar muito, e eu entendo que também preciso de um processo, mas como tudo acontece na minha vida, pode ser que na Austrália eu passe o quali, ou que eu entre na chave, e faça final. Na minha vida, acontece tudo assim (risos). Quando eu menos espero, acontece algum bom resultado. Então eu acho que é continuar trabalhando, continuar feliz jogando tênis e seguir nesse caminho.
Você sofreu duas derrotas que, olhando de fora, foram muito doídas. A pra Kostyuk, em Roland Garros, e a pra Yastremska nas Olimpíadas [Laura venceu o primeiro set e teve 5/4, com a adversária sacando, na segunda parcial].
Foram duas derrotas bastante doídas, vou ser bem sincera, mas... Pra mim, a da Yastremska foi mais doída pelo fato de ter sido nas Olimpíadas. Era algo que eu queria muito, eu esperava muito. Finalmente, pude curtir esse momento de saber que eu estava nas Olimpíadas. Então pra mim foi bem difícil, mas eu tento também não me apegar nessas sensações ruins porque é pior. Daí você vai jogar, você tá jogando super bem, você tá jogando no nível da menina que tá 20 do mundo, fez semifinal do Australian Open e joga muito bem. Então você também não quer ficar arrastando essas sensações pra uma próxima semana, sabe? Na minha cabeça o jogo contra a Marta foi muito doido. Eu saí da quadra sem entender o que tinha acontecido. Falei, "como pode ser?" Como eu perdi esse jogo?" E daí todo mundo falando da chuva [o jogo foi interrompido com o placar em 4/2 a favor de Pigossi no terceiro set]. Com certeza, afeta, mas a gente tem que estar preparado pra isso também, sabe? Com certeza, ela entrou de uma maneira diferente. Ela estava exausta, cansada, colocando gelo, não sabia nem onde estava no momento que o jogo parou. E ela voltou muito mais fresca, muito mais decidida, jogando tudo ou nada, mas mesmo assim eu tive chance, eu tive chance para fazer 5/2 [Laura teve dois game points e não converteu], então eu continuei jogando. É algo que eu também me parabenizo por isso, e pelo nível que eu joguei eu também não posso... Acho que no tênis você ganha e você perde, mas o que importa é o nível que você joga, e eu mostrei que eu realmente posso estar entre as melhores do mundo, então tentei tirar o positivo desse jogo, de Roland Garros e de toda aquela semana [Pigossi furou o quali sem perder sets antes de encarar Kostyuk na primeira rodada da chave principal].
Você falou na Olimpíada, no jogo da Yastremska, e foi uma segunda Olimpíada, uma sensação, imagino que diferente, porque você chega como medalhista olímpica, você classificou para as simples por méritos seus... Foi lá, ganhou o Pan... Como é a diferença de sensação de Tóquio pra Paris?
Pra mim, acho que o mais diferente foi eu ter voltado pra jogar simples e não jogar dupla. Eu acho que esse foi o grande diferencial, assim, pra mim, que realmente mostrava, estou aqui de novo, mas diferente, de uma maneira diferente. E mesmo quando eu perdi, eu tentava me lembrar de que... Cara, estar nas Olimpíadas já é um feito. Tem gente que vive só com o fato de "Ah, eu fui para as Olimpíadas!" Tem gente que vive disso, sabe? E eu consegui uma medalha olímpica e consegui ir para Paris. Duas Olimpíadas na minha carreira. Então eu tentava também me jogar para cima de que nem tudo tinha sido ruim. Que eu podia ter jogado melhor. Estava doendo, não estava 100%? Tentava tirar isso da minha cabeça e tentar ficar com o positivo, porque realmente só o fato de estar lá já é uma vitória, né? Mas a gente sempre quer mais, a gente sempre está buscando mais. Acho que os tenistas, nós somos sempre muito duros com nós mesmos, e às vezes a gente não para e fala "nossa, olha onde a gente tá, olha tudo que a gente fez, olha onde a gente saiu." Eu saí daqui jogando Interclubes com 7 anos, Paineiras contra Paulistano. E hoje eu tô aqui, cabeça de chave número 2 de um W75 mil, com uma medalha olímpica, duas olimpíadas e uma final de WTA 250. E ganhei um WTA 125. Sabe, você fala "caramba, eu também tenho que parar e falar, olha tudo que eu já fiz", sabe? E a gente às vezes só fica querendo mais, querendo mais... E mentalmente isso às vezes te traz pra baixo, então acho que tem que ser bem realista e grato também por tudo que a gente já fez e já abdicou pra poder estar aqui.
Muito tenista fala isso depois que aposenta, né? Tipo, devia ter parado e comemorado um pouquinho mais pequenas vitórias ou coisas aqui e ali. Eu lembro que eu fiz uma entrevista com o John McEnroe, e era uma entrevista dessas em que ele estava fazendo uma campanha de cerveja - era da Michelob - e o slogan era assim, pare para comemorar suas coisas, comemore com o Michelob. Usando a cerveja pra isso. Mas o McEnroe fala isso durante a entrevista. Que poxa, durante a carreira você fica tão focado no "ganhei o torneio, mas já tem que jogar semana que vem ali, já tem que jogar ali, e você não para pra comemorar, pra parar e pensar, putz, eu fiz um negócio legal aqui." E de repente você perde na semana seguinte, você já tá desanimado de novo, você já tá, putz, como é que eu perdi pra esse cara se eu ganhei semana passada?" e não tem essa pausa.
O tênis é um esporte bem difícil que nesse sentido de que a gente perde muito mais do que a gente ganha, e às vezes a gente não aproveita tanto, não curte tanto as pequenas vitórias, as vitórias que a gente tem porque no dia seguinte a gente já está competindo em outro lugar. Então, às vezes... Eu não faço tanto como eu gostaria, mas eu tento às vezes parar e refletir um pouco e vir para lugares como esse, como o Paineiras, e pensar de onde eu saí, de tudo que eu fiz, e eu estou aqui de uma maneira diferente, com 30 crianças vendo o meu jogo, querendo tirar foto e tipo, o que eu fiz pro tênis, sabe? E as pessoas que eu tô inspirando, que me inspiraram talvez quando eu era pequena, ou talvez num ginásio do Ibirapuera vendo o vôlei jogar, eu tô conseguindo fazer isso de uma maneira diferente no meu próprio esporte, sabe? Então isso pra mim também é muito especial.
Pra terminar a parte da Olimpíada, ficou um pinguinho de mágoa que seja de não ter podido "defender", assim, entre aspas, a medalha na dupla?
Acho que mágoa não, porque não é algo que eu conseguia... Como é que se diz? Não é algo que eu conseguia controlar. Mas com certeza se eu estivesse #50 do mundo ou #40 do mundo, e a gente pudesse jogar juntas numa Olimpíada depois de medalha de bronze nas Olimpíadas, ouro no Pan-Americano, parece que a gente fez o ciclo inteiro, sabe? E tava... Não sei, acho que era algo que eu tinha bastante ilusão, mas eu sabia que não ia depender de mim, por isso um dos meus objetivos foi me classificar no individual, porque eu realmente queria poder disputar e vivenciar as Olimpíadas pelos meus próprios esforços, sabe? Não entrar de última, como aconteceu em Tóquio, que foi incrível, foi maravilhoso, mas eu queria realmente falar "vou entrar e vou conseguir e vai depender de mim", sabe? Não vai depender de ninguém. Talvez se eu não tivesse feito isso e tivesse chegado na última hora, eu teria ficado fora e realmente isso ia... Acho que ia me doer muito mais do que perder um jogo contra a Yastremska, sabe? Então, é algo... Eu tô em paz quanto à decisão, acho que não era a minha decisão, mas com certeza vou trabalhar em dobro pra Los Angeles pra ver se a gente... Não sei, não falei, não cheguei a falar com a Lu ainda, mas quem sabe a gente consegue o repeteco dessa dupla.
Teve um momento na sua carreira que o seu ranking de duplas era melhor que o de simples, e eu tinha a impressão de que "uma hora a Laura vai parar de jogar simples e o seu ranking de duplas vai bombar." E eu lembro que depois da Olimpíada a gente conversou, e você falou que queria ter esse objetivo, que queria ser um atleta de simples. Você já descartou dupla totalmente? Você acha que daqui a 5 anos você pode parar e repensar?
Eu sou apaixonada por dupla. Acho que se você falar simples ou dupla, eu vou falar dupla.
Porque todo mundo sabe que você joga bem dupla, a sua energia passa pra parceira. E eu vejo hoje a Sara Errani com 40 anos jogando dupla, ganhando slam e ganhando Olimpíada, né?
E ganhando slam também, ganhou o US Open nas mistas.
E você teria mais uns dez anos pra jogar.
Eu não consigo coordenar ainda com a simples. Porque os torneios de dupla acabam domingo, e a simples, nos torneios grandes, onde eu quero jogar, com meu ranking, começa sábado. E agora, ainda que você assina na segunda-feira ou na terça-feira, você ganha uma rodada, depois você já tem que jogar quinta ou sexta, não consigo coordenar para jogar o próximo torneio. Então é algo... a minha meta, que eu tenho muito claro na minha cabeça, é que se eu conseguir estar #80 do mundo de simples, eu posso jogar dupla. Então me motiva mais para o individual conseguir fazer isso, sabe? Mas eu não vejo a hora. Esse ano eu joguei 4 torneios de dupla, fiz semifinal final de um WTA 125, outra final de WTA 125, que eu tive que me retirar porque eu torci o joelho, ganhei um W100 e ganhei um W75. Então é realmente algo que eu jogo com muito prazer. Sou apaixonada, mas que também por causa do cotovelo, às vezes eu tive alguns incômodos ou... Ali depois de Roland Garros eu tive uma virose muito forte. Então às vezes eu tive que abdicar mais pelo físico, mas a dupla sempre é algo que quando eu posso eu jogo e jogo com um sorriso de orelha a orelha.
Pra terminar, você está agora trabalhando com o Kagu [Carlos Almeida, novo empresário de Laura], a Lia [Benthien] está fazendo sua assessoria... Olhando de fora, me passa a impressão de que alguém está mais preocupada com a imagem do que em outros momentos da carreira. É isso? De onde vem essa vontade de, não sei, não sei se é aparecer mais ou fazer com que as pessoas te conheçam melhor?
Também. Acho que não só o fato de me conhecerem, mas o fato de conseguir ordenar um pouquinho mais a vida fora da quadra de tênis, fora do tênis. Comecei a trabalhar também com contadores pra gerenciar a minha carreira fora da quadra. Acho que isso é muito importante, te deixa também muito mais tranquila dentro da quadra quando você tem essa base muito forte fora. E também conseguem trabalhar um pouquinho mais a minha imagem, eu consigo aparecer mais. Eu sempre gostei muito de inspirar as crianças, as pessoas a jogarem tênis, a seguirem seu sonho, que tudo é trabalho. Sou uma pessoa que nunca tive um talento incrível desde pequena, sabe? Foi tudo trabalho, dedicação. Eu acho que as pessoas podem se inspirar muito com isso, sabe? O principal foi tentar aparecer mais também para conseguir isso. Acho que é uma das minhas metas de vida, poder trazer mais visibilidade para o tênis. E essa é uma das maneiras que eu consigo e também para a minha carreira. Eu acho que quanto mais visível você está, as coisas começam a acontecer. Às vezes você consegue um patrocínio aqui, um patrocínio ali. Te deixa um pouco mais tranquila, você consegue levar fisio em algum torneio. E a partir do momento que você consegue ter essa base melhor fora da quadra, sempre ajuda dentro da quadra.
Esse fim de temporada você tem feito sempre aqui na América do Sul, sempre com bons resultados. Ano passado você ganhou Buenos Aires. Ano retrasado você ainda estava um pouco atrás no ranking e ganhou Guaiaquil.
Guaiaquil foi o que me colocou dentro do Australian Open pela primeira vez.
Então... Sempre tem alguma coisa especial acontecendo aqui. Qual a sua expectativa para essa sequência agora?
Óbvio que eu quero poder entrar na chave do Australian Open direto, mas eu também entendo que com a mudança de pontos do ranking da WTA esse ano, eu sabia que ia ser um ano difícil. Mesmo que eu vá para a Argentina e ganhe o torneio da Argentina, eu vou somar 50 pontos a menos do que eu somei ano passado. E isso não só com esse torneio, mas com todos. o que eu ganhei na África do Sul [W50 de Pretoria], 50 pontos, ano passado eu teria ganhado 75. Então se você vai somando todos os torneios no final do ano, você tem uma diferença grande. Mesmo assim, eu amo jogar na América do Sul, eu sempre tenho bons resultados. Acho que também pelo fato de sentir que eu tô em casa. Eu sempre falo: esta parte do ano é a minha parte do ano. Eu tô em casa e aqui eu que mando (risos). Então, acho que me traz muito... muita paz de poder estar nessa parte do mundo, poder estar indo e voltando pra casa, Brasil, entre torneios. E acho que o fato de eu estar tão em paz, tão feliz, é o que faz me trazer bons resultados. Muitas vezes também minha família consegue me acompanhar nesses torneios. Acho que é uma paz de espírito que acaba dando resultado.
Eu não sei se você tem resposta pra isso, mas é um fato que você quando joga no Brasil ou pelo Brasil, parece outra Laura. Qual o porquê disso? Qual a origem disso?
Porque eu amo o Brasil (sorri, os olhos brilham). Eu amo representar a minha nação. Eu acho que quando eu tô jogando pelo Brasil, eu não tô jogando só por mim, Eu realmente visto a camisa e eu tô jogando pra 270 milhões de pessoas.
Você consegue processar isso sem deixar te pressionar muito?
Eu jogando a Billie Jean King Cup em abril, este ano, com 9 mil pessoas [ no ginásio do Ibirapuera]... Eu falava "são 9 mil e uma pessoas contra uma alemã do outro lado da quadra." Não tem como dar errado. Eu acho que a maneira como você vê... Eu vejo como uma oportunidade de estar fazendo o que eu mais amo, representando o meu país, as minhas cores. Sou bem patriota. Uma das tatuagens do meu braço aqui é "o teu futuro espelha essa grandeza." Então eu realmente me transformo, eu jogo por algo muito maior do que eu, e acho que é o que faz a diferença. Eu jogo por algo muito maior do que eu. Eu tô jogando pra uma nação inteira, sabe? Eu não posso me permitir estar cansada, não posso me permitir acordar em um mau dia, não posso me permitir não dar tudo de mim dentro daquela quadra. E acho que isso é o que faz eu jogar da maneira como eu jogo. É algo que eu tento, que eu busco, que eu tô trabalhando pra conseguir fazer na minha carreira pessoal, nos torneios que eu jogo cada semana, sabe? Mas é algo que... é uma chama dentro de mim.
Tem algo tecnicamente que você tá treinando mais ou que você quer melhorar mais do que o resto do jogo?
Sim. Essa transição do fundo da quadra pra rede. Eu acho que eu posso ser muito mais agressiva. Eu venho tentando. Hoje, por exemplo, foi um dia perfeito. Hoje eu consegui fazer isso o jogo inteiro. Mas quando você muda de nível, a bola sempre volta. Então eu preciso aperfeiçoar um pouco mais essa parte do meu jogo. Eu sou muito boa no fundo de quadra. E acho que a partir do momento que eu conseguir fazer essa transição um pouco melhor, talvez também com mais intenção de melhorar o saque, com certeza eu vou dar um salto muito grande.
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