Nadal: impossível de replicar, mas eternamente alguém a imitar
É um tanto difícil replicar o tênis jogado por Rafael Nadal. Falar sobre o auge do espanhol é falar sobre um canhoto com a capacidade de gerar uma quantidade extraordinária de spin na bola, um poder defensivo quase inigualável, uma habilidade magistral para contra-atacar e uma técnica refinada para executar curtinhas e voleios precisos.
O parágrafo acima, caro leitor, trata apenas da parte técnica. Tem a ver com biomecânica, força física, velocidade, explosão e um par de outros atributos. Juntar isso tudo em um único atleta, como a história do tênis nos mostra, é praticamente impossível. Se considerarmos que canhotos são cerca de apenas 10% da população mundial, Nadal deve ser, estatisticamente falando, o atleta mais difícil de reproduzir no tênis de hoje.
Ao mesmo tempo, Rafa é o queridinho dos professores de tênis. Muito do que é "ensinável" a um jovem tenista também está ali no conjunto de atributos do espanhol. Força mental. Resiliência. Vontade de aprender e evoluir a cada dia. Coragem para sair de sua zona de conforto sempre que necessário em busca de um passo à frente. Leitura de jogo. A capacidade de analisar, entender o que acontece na quadra e fazer os ajustes necessários. Qualidades em abundância no Pacote Rafa.
Rever partidas antigas de Nadal é entender todos os porquês de sua genialidade. Sempre sugiro o seguinte exercício: primeiro, voltar à semifinal de Roland Garros/2005, contra Federer, no torneio em que Rafa venceu seu primeiro slam.
Em seguida, assistir com atenção ao jogo contra Djokovic pelas quartas de final de Roland Garros/2022, quando o espanhol venceu seu último slam.
Outras opções - em pisos diferentes - são a final do US Open de 2013 - também contra Djokovic - ou o jogo de quartas de final de Wimbledon/2018 contra Juan Martín del Potro. Depois dessa sequência, fica óbvio: trata-se de um tenista assustadoramente diferente daquele garotão de 2005. Suas versões de 25 e 35 anos são incrivelmente superiores, apesar dos tantos obstáculos físicos que surgiram pelo caminho.
Nadal talvez seja o tenista que, na história do tênis, mais evoluiu desde seu primeiro título de slam até o último. Entre os que vi nos meus 47 anos, é o #1 no quesito, sem margem para dúvida. E está justamente aí seu maior legado: o ensinamento de que é sempre possível evoluir. Como atleta e como pessoa. É um recado que sua carreira manda de maneira cristalina e que o próprio Rafa destacou em seu discurso de despedida ao afirmar que gostaria de ser lembrado - além dos números - por seu simplesmente "uma boa pessoa".
Watch Rafa's full retirement ceremony here 🥹❤️https://t.co/DmngCudtud
-- Tennis Channel (@TennisChannel) November 20, 2024
Mesmo que não consigamos duplicar tudo que Rafa fez dentro de quadra, sua trajetória estará para sempre armazenada nos Halls da Fama, nos documentários e nos YouTubes da vida. Para sempre, poderemos reviver e aprender com alguém que nunca quebrou uma raquete; que nunca se enxergou como um ser humano superior a ninguém; que não teve um ego grande o bastante para fazer um tour de despedida; e que saiu de sua zona de conforto ao ponto de igualar Andre Agassi (8) e conquistar mais slams do que John McEnroe (7), Boris Becker (6) e Stefan Edberg (6) contando apenas seus títulos fora de sua superfície preferida (foram oito fora de Roland Garros).
Rafa encerra sua carreira como o segundo maior campeão de slams em simples na história do tênis masculino. Venceu 22, dois a mais do que Federer e dois a menos do que Djokovic. Poderia até ser o maior dos campeões não fossem as tantas lesões sérias - mais de uma dúzia - que frearam sua caminhada (veja uma lista delas aqui). Porém, como ele mesmo já disse inúmeras vezes, "o 'se' não existe" (eis outra lição!).
E se a condicional não existe, voltemos à afirmação do começo deste texto, que para este jornalista não dá margem a questionamentos. Sempre que alguém perguntar quem é o melhor tenista para observar e usar como exemplo, a resposta estará na ponta da língua, rolando rápido com todas RPMs "daquele" forehand: Rafa.
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