Saque e Voleio

Saque e Voleio

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Novo técnico é outra prova de que Bia Haddad pensa grande

Certo dia, em uma conversa qualquer num torneio qualquer, uma pessoa importante no tênis brasileiro me disse: "Se você quer ser grande, tem que pensar grande e estar cercado de pessoas grandes. Você é número 1 do mundo? Então seu técnico tem que o melhor. Seu preparador tem que ser o melhor. Seu fisioterapeuta tem que ser o número 1 do mundo na área dele. Sua equipe tem que ser a equipe número 1."

O que o tênis viu nos últimos anos não foi muito diferente disto. Atletas de elite formando supertimes, viajando com delegações de meia dúzia de pessoas, cercando-se de todo tipo de especialistas. Quem não tinha um "supertécnico" contratou um para atuar ao lado de seu treinador habitual. Becker e, depois, Ivanisevic, juntaram-se ao time de Djokovic. Moyá foi trabalhar com Nadal. Murray teve Lendl, Federer teve Roche e, mais recentemente, Holger Rune teve Becker e Severin Luthi (ex-Federer) por algum tempo.

Por isso, quando Beatriz Haddad Maia anuncia a contratação do francês Maxime Tchoutakian, ex-Azarenka, a notícia precisa ser vista com bons olhos, mesmo que o jovem treinador de 30 anos não tenha o currículo laureado de outros. Afinal, a mensagem importante é a seguinte: Bia não está mais satisfeita sendo top 15-20. Ela quer mais. Ela já se sente pronta para ganhar um slam - e disse isso com todas as letras em entrevista a Fernando Nardini e Fernando Meligeni nesta segunda-feira - e vai fazer o que for preciso para dar esse passo a mais.

Na mesma conversa, Bia disse que ainda não sabe como será a atuação de Tchoutakian junto a Rafael Paciaroni, com quem a paulista trabalha há quatro temporadas, o que não é tão animador assim. Por outro lado, empolga como Bia fala do novo integrante de seu time e de seu perfil. "Ele (Tchoutakian) viveu com a Azarenka, ele tem esse lance da mentalidade dela de insatisfação. Isso é uma coisa que eu vejo em todo mundo do meu time. Eu estou num momento em que agora, ser top 10 e me consolidar ali dentro, é o que está me movendo."

Mais do que a experiência de quatro anos ao lado de Vika (e alguns tantos anos como tenista profissional, vivência que Paciaroni não tem), talvez o mais importante seja justamente essa "insatisfação", essa vontade de buscar sempre algo a mais. Até porque Paciaroni enfatiza que sempre busca desconforto na equipe, instigando todos a buscarem uma constante evolução. Não me parece que alguém sem essa característica sobreviveria neste time.

Coisas que eu acho que acho:

- Teria sido melhor contratar um supertécnico, campeão de slam, como um Brad Gilbert ou uma Conchita Martínez? Talvez. Esse tipo de relação exige mais do que um currículo recheado. Em um time como o de Bia, é bem possível que um figurão mais velho, menos disposto a viajar o ano inteiro e sem a "fome" de um Paciaroni, não encontrasse a melhor sintonia para se encaixar e contribuir do jeito que a número 1 do Brasil precisa hoje em dia.

- Deixo aqui a escalação completa do Time Bia: Rafael Paciaroni (treinador), Maxime Tchoutakian (treinador), Rodrigo Urso (preparador físico), Paulo Cerutti (fisioterapeuta), Fernando Alves, o Fernandinho (fisioterapeuta), Gilbert Bang (médico), Carla Di Pierro (psicóloga), Humberto Nicastro (nutricionista), Diana Gabanyi (assessoria de imprensa), Luiz Fernando Butori (empresário) e Juan Acuna (empresário).

- No podcast de Nardini e Meligeni, Bia só tropeçou quando voltou a falar sobre doping. Embora tenha levantado questionamentos válidos (como o tratamento diferente a tenistas da elite e o timing da suspensão de Iga), a paulista voltou a mencionar seu caso e dizer que provou sua inocência. Porém, quem é suspenso por 10 meses não é considerado inocente. A ITF aceitou que Bia não tentou se dopar com a intenção de melhorar seu rendimento, mas a entidade considerou que ela teve, sim, responsabilidade na ingestão (ainda que acidental) da substância proibida.

Continua após a publicidade

- Tampouco cabe fazer uma comparação muito próxima com o caso de Iga. Ainda que tenham sido duas ingestões por contaminação, a polonesa tomou um remédio vendido em farmácia e produzido por um laboratório de boa reputação. Bia tomou um suplemento feito em farmácia de manipulação. Há uma diferença abissal aí, até porque quando Bia testou positivo, a ITF alertava contra os perigos da ingestão de suplementos feitos em farmácias de manipulação da América do Sul. Lembre aqui.

.

Quer saber mais? Conheça o programa de financiamento coletivo do Saque e Voleio e torne-se um apoiador. Com pelo menos R$ 15 mensais, apoiadores têm acesso a conteúdo exclusivo, como podcast semanal, lives restritas a apoiadores, áudios exclusivos e de entrevistas coletivas pelo mundo, além de ingresso em grupo de bate-papo no Telegram, participação no Circuito dos Palpitões e promoções.

Acompanhe o Saque e Voleio também no Threads, no Bluesky e no Instagram.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.