No torneio dos prodígios, Fonseca mostrou-se o mais completo (e encantador)
Na estreia, um triunfo importante sobre o número 20 do mundo, Arthur Fils. Um jovem consistente, que já passou um ano inteiro no top 40, já soma três vitórias sobre top 10 (Fritz, Zverev e Hurkacz) e tem dois títulos de ATPs. Um francês que sofreu quando precisou do segundo saque contra Fonseca, fez mais duplas faltas do que deveria e acabou sucumbindo diante do maior poder de fogo e do melhor serviço do brasileiro.
Na segunda rodada, um velho conhecido: o americano Learner Tien. Os dois duelaram como juvenis em Roland Garros (Tien venceu nas quartas) e no US Open (Fonseca venceu na final). O americano é consistente e consegue impor-se taticamente diante de rivais com maior poder de fogo. Não foi assim diante de Fonseca, que venceu os dois primeiros sets de zero. O carioca distribuiu winners e fez do oponente uma marionete.
Na terceira rodada, um teste: entrar em quadra já classificado, sem precisar vencer algo que raras vezes acontece na carreira de um tenista. Do outro lado da rede, Jakub Mensik, belo sacador, já eliminado, jogando pela honra, para não voltar zerado para casa. Fonseca ficou em quadra por cinco sets e venceu. Tivesse dado apenas 70-80% de seu melhor, teria perdido. Quis dar o máximo quando não precisava - o que no meu livrinho já deixa alguns tenistas acima do resto - e brilhou quando precisava em um jogo de margens mínimas. Foram, afinal, cinco tie-breaks, a maior praga desse set curto (mas isso é papo para outro momento).
class="twitter-tweet">lang="en" dir="ltr">The moment Joao Fonseca announced himself as NEXT 👑
-- Next Gen ATP Finals (@nextgenfinals) twitter.com/nextgenfinals/status/1870905160664539561?ref_src=twsrc%5Etfw">December 22, 2024
The 🇧🇷 edges past Tien 2-4 4-3(8) 4-0 4-2 to secure the biggest title of his career 🙌twitter.com/hashtag/NextGenATPFinals?src=hash&;ref_src=twsrc%5Etfw">#NextGenATPFinals t.co/Zc3VNiZGvg">pic.twitter.com/Zc3VNiZGvg
Nas semifinais, a melhor atuação do começo ao fim, deixando Luca Van Assche sem ação e resolvendo a questão em três sets. Fonseca fez devoluções que pressionaram o francês o tempo inteiro e, quando o terceiro set começou, Van Assche já estava mentalmente derrotado.
A final, novamente um duelo com Tien, foi surpreendente, mas trouxe à tona um teste ao qual João ainda não havia sido submetido em Gidá. O americano foi melhor taticamente durante um set e meio. Conteve o poderoso forehand do carioca. Teve um set point para abrir 2 sets a 0. Fonseca não só salvou esse set point com um grande saque como encontrou uma maneira de voltar a disparar sua direita com o poder destrutivo de sempre. Quando o fez, esfacelou o backhand do rival canhoto e tomou conta do jogo. Dominou até levantar a taça.
Em cinco jogos, Fonseca mostrou, um dia após o outro, as características que lhe tornam tão perigoso. Saque. Forehand. Cabeça. Poder de recuperação. E fez isso enquanto encantava o (escasso, é verdade) público que compareceu para ver os jogos em Gidá, na Arábia Saudita. Inquestionavelmente, foi Fonseca quem mais esteve presente nos pontos espetaculares. Tanto nos ralis, saindo da defesa para o ataque (algo um tanto difícil na quadra dura indoor do torneio), quanto "apenas" com a direita matadora, que foi quase perfeita nas semifinais (veja a avaliação abaixo).
FOREHAND 🔥#NextGenATPFinals | #ShotQuality | @tennis_insights pic.twitter.com/FVOKtl6IxD
-- ATP Tour (@atptour) December 21, 2024
Outra qualidade que ficou evidente durante toda a semana e que será essencial no sucesso da carreira de João: adaptabilidade. Em vez de se queixar dos sets curtos, de cada game perdido em um no-ad ou dos pontos que escaparam com no-let, o carioca abraçou a causa. Fez o que a semana pedia: concentração máxima por causa dos sets curtos e jogo agressivo para tirar o máximo das condições da quadra indoor de Gidá. Nota máxima para o brasileiro.
Coisas que eu acho que acho:
- Momentos como o do vídeo abaixo valem muito. Muito mesmo. E não acontecem por acaso. Parabéns, João.
Nothing but love for Joao in Jeddah ❤️#NextGenATPFinals pic.twitter.com/dkeVkCzH5U
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- Respeito a quem passou por sua profissão antes de você. Algo cada vez mais escasso nos dias de hoje. Pois vejam João Fonseca:
Fonseca 🤝 Rafa@RafaelNadal | #NextGenATPFinals pic.twitter.com/J2djKdicyW
-- Next Gen ATP Finals (@nextgenfinals) December 22, 2024
- A pergunta que todo mundo se faz no momento é "até onde pode chegar" João Fonseca. Existe uma boa dose de futurologia nesse tipo de previsão, mas vale citar o que sempre respondo quando me jogam essa questão. Os sinais dados por Fonseca, seu time e sua família são todos positivos. Um tênis moderno, com muita potência e um belo saque; uma boa cabeça, pouco propensa a salto alto; personalidade para jogar um tênis corajoso quando necessário, buscando sempre a vitória em vez de apenas esperar que os rivais cometam erros; uma família que não age como se soubesse de todas as verdades do tênis; e um treinador que trabalha mais do que procura aparecer. Poucos atletas em todo o circuito têm uma equação tão favorável assim.
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