Consistência na liderança: qualidade que a maturidade trouxe a João Fonseca
Em 2023, quando entrou na quadra central do Rio Open, aos 16 anos, para estrear na chave principal de um ATP 500, João Fonseca fez um set inicial ruim, cometendo todo tipo de erros não forçados, atacando e dando pontos de graça o tempo todo. Fez um segundo set melhor, mas acabou derrotado por 6/0 e 6/3 por Alex Molcan.
Naquele mesmo ano, seus slams juvenis viram mais desse Fonseca atirador que ainda errava demais. Já havia sido um pouco assim em janeiro, na derrota para Alexander Blockx, nas quartas de final do Australian Open. Foi parecido contra o consistente e paciente Learner Tien em Roland Garros. Em setembro, quando conquistou o US Open diante do mesmo Tien, Fonseca já dava sinais de estar mais perto de um tênis equilibrado - agressivo, mas menos errático.
A temporada 2024 foi de grande evolução para o carioca. Desde o surpreendente Rio Open, com vitórias sobre Arthur Fils e Cristian Garín, até a conquista do Next Gen Finals, Fonseca fez um calendário inteligente. Não buscou torneios caça-níqueis. Não peneirou em busca de chaves fracas. Foi aos torneios que fariam dele um melhor jogador no futuro. Fez quatro semanas na grama. Jogou o circuito indoor de quadras duras no segundo semestre.
Houve, sim, oscilações. Normais, é bom que se diga, para um jovem de 17/18 anos encarando ATPs pela primeira vez. Perdeu um jogo ganhável diante do britânico Jan Choinski no ATP de Estoril. Fez um primeiro set muito ruim contra Cameron Norrie em Madri. Caiu na primeira rodada do quali em Wimbledon, onde sacou muito abaixo de seu melhor. No meio disso tudo, porém, Fonseca cresceu. Evoluiu vários aspectos de seu tênis. Um deles ficou mais nítido recentemente, tanto em Jidá quanto em Camberra: sua consistência. Quando abriu vantagem, não deixou nenhum jogo escapar. No torneio australiano, não perdeu um set sequer.
Sim, era "apenas" um Challenger o torneio de Camberra, o que precisa ser levado em conta. Na capital australiana, Fonseca não encarou rivais que vêm frequentando ATPs toda semana (Mackenzie McDonald foi um top 40, mas hoje é o #131 e não disputa uma chave principal de nível ATP desde agosto). No entanto, é preciso destacar que o carioca não teve problemas para confirmar em quadra a superioridade do papel, o que não é tão simples assim para um jovem de 18 anos.
É mais uma amostra de que Fonseca vem, passo a passo, trilhando o caminho correto, sem se deixar levar por distrações, contratos publicitários ou a badalação muitas vezes desproporcional das redes sociais. Na Arábia, mostrou poder de reação, concentração e adaptação. Em Camberra, a consistência ficou nítida. De torneio em torneio, o brasileiro vem mostrando as características necessárias para, um dia, ser um dos grandes. Mais aplausos para João.
Coisas que eu acho que acho:
- Em Camberra, foram cinco jogos e nenhum set perdido. No único jogo em que perdeu uma vantagem - contra Harold Mayot, #116 - Fonseca ficou uma quebra atrás no segundo set, mas reagiu quebrando o saque do francês três vezes seguidas. Saiu de 1/3 para fechar o jogo por 6/3.
- Fonseca teve o saque quebrado quatro vezes durante o torneio. Duas por Mayot, no segundo set citado acima, e outras duas por Ajdukovic (#142), também no segundo set. Contra o croata, porém, João jamais esteve uma quebra atrás.
- O momento, com dez vitórias e dois títulos em sequência (ATP Next Gen Finals e Challenger 125 de Camberra), saindo de uma semana em que evitou partidas longas, não poderia ser melhor para Fonseca encarar o quali do Australian Open e alcançar sua primeira chave principal de slam como profissional (enquanto escrevo, ainda não há chave nem programação de jogos).
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