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Diante de tudo, feito de João Fonseca na Austrália é colossal

Na frieza do livrinho de regras, João Fonseca avançou à segunda rodada de um torneio, o que vale 50 pontos no ranking. Financeiramente falando, chegar a essa fase vale 200 mil dólares australianos (cerca de R$ 750 mil).

Sob um olhar um pouco mais generoso, João Fonseca derrotou Andrey Rublev, um tenista que não tem lá um grande histórico em slams nem é o mais consistente dos atletas, mas é um top 10 há cinco anos.

Com um pouquinho a mais de contexto: a vitória sobre Rublev aconteceu no Australian Open, um dos quatro torneios do Grand Slam, que são os eventos mais importantes do circuito masculino.

E mais uma pitada: o jogo foi disputado na sessão noturna, em horário nobre, na Margaret Court Arena, a segunda quadra mais importante do Australian Open. Cabem 7.500 pessoas lá. Foi a maior arena em que Fonseca já atuou.

Outra: João Fonseca, hoje, tem 18 anos. Nunca tinha disputado uma partida na chave principal de um slam. Não tinha sequer enfrentado um top 10.

E mais outra: entre brasileiros, ninguém venceu um jogo de simples no Australian Open com essa idade. O recorde anterior era de Maria Esther Bueno (sempre ela!), que tinha 20 anos e 3 meses quando venceu pela primeira vez no torneio, em 1960.

Sob um olhar tático: João colou na linha de base, tirou o tempo de Rublev e anulou a direita do russo. O brasileiro se impôs diante de uma das melhores direitas do circuito e não aliviou durante as 2h23min de jogo.

Sobre o nível de jogo: o carioca foi mais agressivo do que um dos melhores tenistas agressivos do mundo. E mais preciso. Fez 51 winners contra 33 de Rublev.

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Sobre força mental: Fonseca resistiu à pressão exercida pelo russo em diversos games. Quase sempre achou um winner, um ace ou forçou um erro do oponente. Só teve seu saque quebrado uma vez no duelo (e quebrou Rublev duas vezes).

Sobre coragem: nos dois tie-breaks, momentos decisivos da partida, João tomou a iniciativa e foi ao ataque com ousadia, buscando as linhas. No terceiro set, com o placar em 5/5, disparou duas paralelas vencedoras para matar o jogo.

Sobre números que assustam: a direita vencedora mais potente de Fonseca na partida alcançou 181 km/h.Até agora, é a direita vencedora mais rápida de todo este Australian Open.

Sobre números que assustam, II: até a metade do segundo set, Fonseca registrava 175 km/h de média (de média!) de velocidade em seus segundos serviços. A média do circuito masculino é de 158 km/h. A média final de Fonseca no quesito na partida de hoje foi 166 km/h.

Conclusão? Juntemos os 12 parágrafos acima para formar um cenário completo e entender quem, o quê, onde, quando e como. Com tudo isso, é fácil concluir que o feito de João Fonseca nesta terça-feira, na Austrália, foi colossal. O bastante para acordar a pequena parte do mundo do tênis que ainda não lhe observava com a merecida atenção.

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Coisas que eu acho que acho:

- Só vale para quem viu do começo ao fim o Fonseca x Rublev de hoje. Foram poucas vezes na história que um brasileiro - qualquer brasileiro - atuou nesse nível no circuito profissional.

- Fonseca é favorito contra o italiano Lorenzo Sonego na segunda rodada, e a chave do Australian Open é generosa na seção do brasileiro. Se passar à terceira rodada, João vai encarar Frances Tiafoe ou Fabian Marozsan, que não são nada imbatíveis. Medvedev é favorito para encontrar o brasileiro nas oitavas, mas o russo fez um pré-Australian Open aquém do ideal porque esperava o nascimento de seu segundo filho. Será?

- Mais duro que repetir o nível de tênis mostrado nesta terça talvez seja administrar todas as sensações novas que vai viver até quinta-feira, quando voltar à quadra. O desgaste emocional é grande, e João só passou por algo remotamente parecido no Rio Open, quando venceu diante de seu público. Em um slam, porém, tudo ganha outra dimensão.

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Opinião

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