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De Fonseca a Sinner, 25 opiniões sobre o que rolou no Australian Open

Enquanto tento recuperar o sono perdido e fazer o devido ajuste ao fuso horário normal de Brasília, deixo aqui um resuminho em 25 parágrafos sobre o que vi de mais interessante nas últimas duas semanas, durante o Australian Open.

1. A grande história feliz do Australian Open foi o título de Madison Keys. A americana conquista seu primeiro slam aos 29, quase sete anos depois de perder sua única final de slam anterior. Uma campanha que impressiona não só pelo peso das vitórias (Rybakina, Svitolina, Swiatek e Sabalenka em sequência), mas pela coragem que Madison mostrou diante de dificuldades. Primeiro, quando viu Iga sacar para o jogo e precisou salvar match point. Depois, jogando atrás no placar durante quase todo tie-break. E, por último, resistindo à forte pressão de Sabalenka no terceiro set da final.

2. A história ganha ainda outra faceta comovente quando Keys revela que passou muito tempo colocando em seus ombros, por conta própria, uma pressão enorme para conquistar um slam até que enfim passou a entender que sua carreira não seria definida por ter ou deixar de ter uma conquista desse porte. Quando livrou-se do fardo, conseguiu, finalmente, jogar um tênis mais leve, solto e corajoso em momentos delicados. Foi justamente o que fez a diferença em Melbourne.

3. Na chave masculina, Jannik Sinner sobrou mais uma vez. Soma 21 vitórias seguidas em quadras duras em slams e terminou a final sem ceder um break point sequer. Sacou nove vezes em 30/30 ou 40/40 e venceu todos esses pontos, seguidamente frustrando Alexander Zverev, que nem fazia uma apresentação ruim. O italiano jogou um nível altíssimo, como vem fazendo desde o fim de 2023, e nada indica que seu ritmo vai "esfriar" em breve.

4. Um desses grandes pontos de Sinner foi o do vídeo acima, sacando pressionado em 5/6 e 30/30 no segundo set.

5. Alexander Zverev sentiu fortemente a derrota. Foi, afinal, sua terceira final de slam perdida. O alemão chorou e mostrou-se bastante abalado, falando coisas como "talvez eu não seja bom o bastante." Acho que Sascha ainda não se mostrou um tenista extraordinário, capaz de jogar seu melhor tênis nos maiores cenários. Dito isto, repito: não foi uma apresentação ruim neste domingo. Zverev apenas encontrou um adversário muito superior, como aconteceu na final de Roland Garros do ano passado.

6. Ben Shelton chegou a Melbourne pouco badalado, sem resultados recentes de destaque, mas foi vencendo jogos apertados até que alcançou a semifinal. Sai mais forte, ainda que tenha perdido chances de vencer o primeiro set contra Sinner e dar uma cara diferente à semifinal. Quando o italiano venceu o primeiro set depois de quebrar Shelton (que sacou para a parcial), o caminho se abriu totalmente para o número 1 do mundo.

7. Novak Djokovic saiu de quadra sob vaias um tanto injustas (e que, felizmente, acabaram abafadas por aplausos) quando abandonou sua semifinal após perder o set inicial contra Zverev. Chateado, postou até o resultado de um exame que comprovava sua lesão. Há, contudo, uma dose de ironia que precisa ser apreciada aqui. Quando foi campeão do Australian Open com uma lesão no abdômen - uma lesão questionada e com que muitos diziam ser impossível jogar naquele nível - Djokovic disse que contaria tudo sobre o problema físico. Não contou. Nunca mostrou exame algum.

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8. De fora, é difícil jugar o quanto (e onde) Andy Murray contribuiu mais para Novak Djokovic durante essa campanha australiana. Foi, contudo, interessante vê-los juntos, com Andy vibrando em pontos de Novak. O sérvio, aliás, sempre falou do escocês com muito respeito, lembrando que Murray não precisava do emprego, mas abriu mão de estar com a família para se dedicar 100% a ajudá-lo na Austrália. É, de fato, muito admirável por parte de Sir Andy Murray.

9. Carlos Alcaraz deixa o torneio com sabor amargo e sensação de decepção. Não pelo resultado, já que uma derrota diante de Djokovic nas quartas de final seria mais do que normal. No entanto, da maneira que a derrota veio, com um Nole combalido e atrás no placar, foi dolorido. Assim como em Cincinnati/2023, o espanhol se perdeu mentalmente e deixou o veterano renascer. Em Melbourne, porém, Carlitos se perdeu também taticamente.

10. Na chave feminina, Coco Gauff chegou forte e não correspondeu. Já havia sofrido diante de Bencic (que não manteve o nível físico em um dia quente) e acabou tombando diante de uma renovada e empolgante (e empolgada!) Badosa. Coco saiu de quadra e foi para a sala de coletivas falar dos haters e dos "técnicos de internet", como se eles tivessem culpa. Gauff, certamente, vem passando mais tempo nas redes sociais do que o que parece saudável para ela.

11. Iga fazia um torneio brilhante até a semifinal contra Keys, quando todos seus pesadelos de quadra dura voltaram à tona. O saque perdeu eficiência e os muitos erros não forçados ressuscitaram. A polonesa tentou encordoamentos diferentes e jogou com mais spin para ganhar margem de segurança no terceiro set, mas seu tênis foi hesitante até o fim - mesmo quando quebrou Keys e teve a chance de sacar para o jogo. No tie-break, a coragem da americana fez diferença na reta final.

12. Um dos grandes assuntos da primeira semana do torneio foi a sequência de belos resultados da "Geração Fonseca". O brasileiro, 18 anos, derrotou o top 10 Andrey Rublev. Jakub Mensik, 19, derrubou o top 10 Casper Ruud. Learner Tien, 19, eliminou o top 10 Daniil Medvedev. E Alex Michelsen, 20, tirou o ex-top 10 Stefanos Tsitsipas. Além disso, Nishesh Basavareddy, 19, fez um belíssima apresentação contra Novak Djokovic enquanto resistiu fisicamente, e Arthur Fils, 20, alcançou a terceira rodada. É uma turma boa, cada um com suas qualidades, e que em breve deve ameaçar (resta saber o quanto!) a geração de Sinner e Alcaraz.

13. Vale ficar de olho também no jovem Henry Bernet, suíço que foi campeão juvenil do Australian Open no dia de seu 18º aniversário. O garoto joga um tênis agressivo, tem um belo backhand de uma mão só e jogou vestindo On, a marca que tem Roger Federer como investidor. Bernet, aliás, nasceu na mesma cidade e treina no mesmo clube de Roger. Seu backhand lembra mais o de outro suíço: Stan Wawrinka (o que é ótimo, não?).

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14. Sobre os brasileiros, Fonseca foi quem mais empolgou, ainda que sua campanha tenha parado na segunda rodada. Wild pegou uma estreia chata (ainda que ganhável) e perdeu, e Monteiro fez dois belos sets contra Nishikori, mas levou uma virada que poderia ter sido evitada com devoluções melhores. No feminino, Bia chegou à terceira fase, mas mostrou muito pouco tênis para o seu nível. Nas duplas, Luisa é, no momento, uma sombra da tenista que já foi.

15. O Brasil vai à Davis com Fonseca, Wild, Pucinelli, Matos e Melo. A escalação mostra que Oncins acredita que a ausência no ano passado foi punição o bastante para Wild, que agora retorna como número 1. Monteiro pediu para não jogar e buscaria pontos no saibro de Piracicaba, mas acabou desistindo do Challenger alegando uma lesão sofrida em Melbourne.

16. Não gosto das marcas virtuais que a transmissão do Australian Open vem incluindo nas quadras, na área de jogo, durante os pontos. Nada contra os logos ou alguma empresa específica (Marriot Bonvoy, Google Pixel e Stella Artois foram algumas). Incomodam mais a monetização desnecessária e a poluição visual. "Ah, Cossenza, mas é um logo pequeno e só de um lado da quadra." Concordo. Mas daqui a alguns anos, alguém vem com o discurso de "não atrapalha em nada" a transmissão (porque, na prática, não atrapalha mesmo) e resolve colocar outra marca do lado oposto da quadra. E quando argumentarem que essa outra marca não atrapalha, vão incluir outro logo na outra lateral. E mais um na lateral oposta. E mais um aqui, outro ali... É assim, sorrateiramente, que muitas coisas acontecem no tênis.

17. Lembram de quando permitiram o coaching? A "regra" (que nunca até hoje nunca virou regra-regra escrita porque não entrou no livro de regras) permitia apenas diálogos curtos quando técnico e atletas estivessem do mesmo lado da quadra. Hoje, vemos treinadores e tenistas debatendo com tanto afinco que parecem tratar de temas complexos como aquecimento global e opções de hospedagem durante o verão em Riviera de São Lourenço. As coisas saem de controle fácil no tênis.

18. Nick Kyrgios perdeu em mais uma primeira rodada e disse que não sabe se voltará a disputar o Australian Open nas simples. É uma pena. Fora de quadra, Nick se tornou uma caricatura do que já foi um atleta com opiniões fortes. Hoje, suas versões de "opiniões fortes" são apenas opiniões sem fundamento algum sobre qualquer tema em voga. É sua maneira de se manter relevante, já que seu corpo, que nunca recebeu a manutenção que merece um atleta de ponta, ameaça dar perda total para a carreira profissional.

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19. Ainda no tema grego, Stefanos Tsitsipas tornou-se uma sombra do tenista que encantou públicos e fez apresentações magistrais, derrubando Roger Federer e Rafael Nadal no Australian Open ou ficando a um set do título de Roland Garros em uma final contra Novak Djokovic. Hoje, em quadra, o grego parece jogar sem propósito e não consegue mais comandar e construir pontos como fazia. Limita-se a trocar bolas até o momento em que resolve dar uma pancada para destruir o ponto - para o bem ou para o mal. Muito pouco para quem já fez muito.

20. Adoro acompanhar veteranos que curtem a competição pela competição. Dá para sentir, a milhares de quilômetros de distância, a paixão deles pela luta, mesmo quando já não estão vencendo tantos jogos. Laura Siegemund, 36 anos, é uma dessas atletas, e foi emocionante sua entrevista em quadra logo depois de eliminar Qinwen Zheng, número 5 do mundo. Foi a primeira top 10 eliminada na chave feminina deste ano, e alemã falou sobre sua personalidade brigadora e a relação com o marido-e-técnico, com quem divide todos os bons e maus momentos no circuito. "Como deve ser" com os casais, ela destacou. Está certíssima.

21. Você não vai ver vídeo mais fofo produzido neste Australian Open. Obrigado, Carlos Alcaraz, pelo momento.

22. Perguntaram a Monfils, que acabara de se classificar para as oitavas de final, sobre sonhos e se ele acreditava que podia vencer o torneio. O francês deu a melhor resposta possível: "Não é nem um sonho vencer o torneio. Meu sonho é envelhecer com um monte de crianças e com saúde." ... "Meu sonho é ter uma família incrível. Tênis é legal. É claro que queremos ter objetivos, sonhos, o que for, mas seu sonho está lá fora."

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23. Já escrevi um bocado sobre Fonseca, suas vitórias e sua derrota neste Australian Open. Uma coisa, contudo, ainda precisa ser dita. Parem com o "eu acredito", por favor. Não existe grito de torcida mais zicador.

24. Todo mundo errou no episódio envolvendo Tony Jones, o apresentador do Channel 9 australiano, e Djokovic. O jornalista fez piadinhas de mau gosto com o tenista e seus fãs sérvios. O tenista resolveu punir o canal e Jones ao não dar a protocolar entrevista pós-jogo, ainda dentro de quadra, depois de derrotar Lehecka. Mirou em um lugar a atingiu milhares de inocentes. Privou fãs que compraram ingressos e que queriam vê-lo pela TV. Podia ter encontrado uma solução melhor e mais simples como abrir a entrevista criticando Jones publicamente, diante do mundo inteiro, e defendendo seus fãs. Em seguida, daria a entrevista e deixaria seus fãs felizes. Dito isto, não surpreende que Djokovic opte por criar e aumentar um atrito quando algo lhe desagrada.

25. Vale a pena rever: Jannik Sinner vinha mal fisicamente e, pouco depois de perder o segundo set para Holger Rune, já teve o saque ameaçado. Foi aí que os dois jogaram o melhor ponto da partida (e um dos melhores do torneio). Veja abaixo:

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Opinião

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4 comentários

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Andre Rocha

Eu vi o seguinte: Alcaraz é  c a g ã o, Djoko é bilionário e multi campeão mas nunca terá o carisma de Federer e Nadal, e isso incomoda demais ele, e Sinner é um bloco de gelo jogando tênis.

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Denilson Aparecido da Silva

O Monfils precisa combinar com a mulher essa coisa de ter muitos filhos, pois a carreira dela ainda vai longe e não dar pra ser mãe tão cedo 

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Jane Tadeu da Silva

O que faz, um telespectador como eu, deixar de ver esse Torneio um dos mais famosos do circuito do Tenis, não vi os jogos, nem os de João, só vi os flash quando ganhou do Mevedev, tudo porque os que eu curtia podia ser de madrugada, de manha, a noite, a tarde Serena Willians, Rafael Nadal e Roger Federer pararam de jogarem e pra mim parece que já não devia mais assistir esses torneios, nem vi a final femenina e nem a masculina, e antes não la estava eu deitado ou sentado no sofá, talvez agora em 2025 que o João Fonseca aparecendo e indo bem vou assistir de novo os torneios que tera sua participação, parece que vem ai um novo Guga, como era bom assistir esse Catarinense que não esta na ala dos sulistas racistas, vide esses dias no PR no futebol com o Léo Pelé, uma vergonha. Tomara que isso não chegue no Tenis.  

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