Léo Azevedo e as promessas do tênis: método estrangeiro e badalação caseira
É justo afirmar que Léo Azevedo fez parte do projeto que mais gerou tenistas de elite nos últimos 30 anos. Quando integrou a equipe da USTA, a federação americana de tênis, então comandada por Patrick McEnroe e seu time encabeçado pelo espanhol José Higueras, o técnico brasileiro acompanhou o "nascimento" de muitos dos jovens que hoje estão brigando no top 50. Nomes como os top 10 Taylor Fritz e Tommy Paul, o ex-top 10 Frances Tiafoe (atual #18), Sebastian Korda (#22), Reilly Opelka (ex-#17), Cici Bellis, Claire Liu e outros.
Hoje, Léo chefia o alto rendimento do grupo Rede Tênis Brasil (RTB), uma evolução do antigo Instituto Tênis e que tem em sua equipe dois dos juvenis mais badalados do Brasil: Nauhany Silva, a Naná, de 14 anos, que em setembro do ano passado era a mais jovem integrante do ranking profissional feminino; e Luiz Augusto Miguel, o Guto, de 15 anos, que já é o #35 no ranking mundial até os 18 anos.
Toda a experiência de Azevedo agora joga ao lado dessa dupla de promessas, e o treinador tem como objetivo aplicar os mesmos princípios utilizados com sucesso nos Estados Unidos para transformar ambos - e os demais atletas do RTB - em belos profissionais. Conversamos em dezembro, durante a Procopio Cup, aqui em São Paulo, sobre o crescimento desses jovens, mas também sobre as dificuldades peculiares do cenário brasileiro, carente de atletas, em que cada destaque ganha apelidos exagerados como "nova Sabalenka" ou "novo Guga". Leiam!
Vocês têm a responsabilidade de conduzir duas das maiores promessas do tênis brasileiro: a Nauhany Silva, a Naná, que tem 14 anos; e o Luiz Augusto Miguel, o Guto, que tem 15. Se não são as maiores depois do João Fonseca, são as mais badaladas. Tem alguma semelhança entre o trabalho feito com eles hoje e o que você fazia na USTA, naquela época com a Cici Bellis, o Sebastian Korda e outros?
Gostei que você falou que são os mais "badalados", mas muito vem da cultura que a gente tem no Brasil.
Vou chegar nessa parte daqui a pouco...
Eu estou no dia a dia com a Naná, e o Guto fica em Brasília. No geral, posso falar mais do dia a dia da Naná. Eu tento replicar, junto com o Danilo [Ferraz, técnico do RTB], que está com ela, basicamente o que a gente fazia lá (na USTA). Quando eu comecei no programa, eu desenhei uma filosofia - um documento com 60 páginas - desde o que fazer antes do jogo, no dia do jogo, valores inegociáveis, exemplos de drills que a gente quer, formar jogadores independentes, formar jogadores que saibam jogar na quadra inteira... O meu norte é o trabalho que eu fiz na época de USTA. Não é porque eu estava lá, mas o tempo mostrou que nos últimos 30-50 anos, nenhum programa fez tanto jogador. Houve países que fizeram. Tem jogador que sai da Espanha, da Argentina... Mas programa? A gente pega o ranking: Tiafoe, Fritz, Korda, Tommy Paul, Opelka. Todos saíram de lá. As mulheres? A maioria esteve lá. O trabalho que você falou da Cici Bellis. O trabalho que eu fiz com a Cici e a Claire Liu, eu tento replicar muitas coisas com a Naná. O tênis vai evoluindo e vai mudando. A Cici e a Claire, eu estive com elas há dez anos. O tênis evoluiu em algumas coisas, mas os valores e a maneira, a gente tenta replicar bastante. Para mim, a grande diferença que existe nos dois processos é justamente essa badalação que existe em torno. Lá, não existia badalação nenhuma. Aqui, é uma coisa difícil de lidar você tendo 14-15 anos. Eu sempre falo: a gente olha para a Naná e para o Guto, tem corpo de adulto, joga como adulto, mas às vezes a gente até esquece a idade. A Naná tem 14 anos! Às vezes, acho que existem algumas situações em que a idade dela é esquecida. Eu sempre dou um exemplo: quem conhece a Julieta Pareja [tenista americana de 15 anos]?
Eu, não.
Ninguém conhece. Só que ela fez final do quali profissional do US Open com 15 anos. Ela está #500 na WTA [#558 do mundo no dia da publicação desta entrevista]. Ela tem seis meses a mais só do que a Naná. Ela tem uma vida de jogadora de tênis e uma vida de adolescente de 15 anos normal. O que a gente vive aqui, na minha opinião, com a experiência que tive em outros lugares, é anormal. Isso é um grande desafio para quem está, como eu, na frente do projeto.
Aí é que tá. Eu cubro tênis há 20 anos já e nunca vi uma badalação em torno da Naná, da Victoria [Barros], do Guto e do João Fonseca, evidentemente. Como é que se administra isso nessa idade? Como a família leva? Isso é consequência só do talento deles ou é um sinal dos tempos, com as redes sociais tomando o negócio...
Sinal dos tempos. Porque nessa idade, o [Sebastian] Korda era tão bom ou melhor do que o Guto é agora. Eles são muito bons. A Claire Liu, com 14 anos, ganhou um torneio de US$ 10 mil. Foi a jogadora mais jovem do mundo a ganhar. A Cici, com 15 anos, ganhou da Dominika Cibulkova no US Open. São duas coisas: sinais dos tempos e nós, culturalmente, vivemos num país carente de ídolos, e quando aparece alguma coisa, é a "próxima salvação". Todo mundo é o "próximo não-sei-o-quê". Como lidar com isso? Nós, como treinadores, gastamos muito tempo para tentar tirar o jogador desse oba-oba. O treinador da Julieta Pareja não precisa falar sobre isso. É direita, esquerda, tática. A gente precisa ter um trabalho de proteção tão importante quanto... Acho que "proteção" é uma palavra ruim porque, como dizia Erasmo Carlos, proteção desprotege. Mas uma blindagem boa porque o que eles estão vivendo não é normal na idade deles. Se fosse em outro lugar, seria menos. E é o que tem. Não estou reclamando, é o que tem. Isso traz algumas coisas boas para eles. Traz apoio, não sei o quê... Mas o que eu vejo é: uma menina de 14 anos e um menino de 15 não estão preparados para essa exposição tão grande, esse assédio tão grande. O que eu tento com a Naná é expô-la ao mínimo do mínimo do mínimo. Ela tem os compromissos dela, a imprensa é parte importante do business, mas as pessoas não têm dimensão do que acontece com ela. Eu falo: a gente tem o dever cívico de proteger uma criança. É uma criança. Eu fui para Ribeirão Preto agora, e o jogo de quartas de final dela tinha mil pessoas na quadra. Tinha gente amontoada vendo o jogo. Não é normal.
Tem gente até influente em rede social que a gente vê dizendo "essa menina vai ser top 50", "vai ser isso", "vai ser aquilo". Isso chega na família? Chega na Naná? E como é que chega?
Chega. Chega! Você pode controlar a quantidade de horas [que a pessoa fica nas redes sociais], só que chega. Aquela uma hora que ela vai entrar no Instagram, vai chegar. Como para o Guto também chega. Eu sei que eles controlam o tempo no Instagram, mas lógico que chega. Se não chega via ela, chega via alguém que leu os influencers. Ah, "Naná é a nova Sabalenka". Putz, se você tem 14 anos e gosta da Sabalenka, lógico que isso vai te influenciar de alguma maneira. Só que ninguém vê o que a Sabalenka trabalhou para chegar onde ela está. Ninguém vê o que ela trabalha hoje para manter o que ela tem. Eu falei isso para a Naná. O que a Sabalenka melhorou no último ano? Ela melhorou a deixada, um monte de coisa. Então o que chega na Naná, no Guto, na Pietra, é o seguinte: você é isso, você é aquilo. É a nova Sabalenka, é "metralhadora não sei o quê", é "matadora de profissional". Ao mesmo tempo, a gente vive numa democracia. Cada um escreve o que quiser. Não posso chegar no cara e falar "por favor, não chama ela de nova Sabalenka".
Sim, sim.
Agora... Eu sou adulto. Você é adulto. Se chegarem para mim todo dia e falarem "você é o novo Higueras", chega um momento em que meu ego vai... Imagina com 14 anos! Não tem muito como controlar isso. Por isso que eu falo: é um dever de todo mundo que está no meio. Quem está no meio? O entorno mais próximo: família, treinador e tal; depois são os incontroláveis, que são a imprensa - e eu divido bem o que é a imprensa e quem são os influencers, que são coisas distintas; e o público em geral, que a gente não tem controle nenhum. Mas eu acho que se um dia alguns desses que fazem isso pararem um pouquinho pra pensar "Pô, se eu tivesse um filho de 14 anos, será que eu gostaria de ter essa exposição?" Eu não gostaria. Agora... De novo, como dizem os espanhóis, es lo que hay. E a gente tem que educá-los. A família da Naná é super legal. Família humilde, escuta muito a gente. Em nenhum momento, subiu à cabeça isso que falam. Eles mantêm a vida normal e corrente como era antes e como tem que ser.
Eu ia te perguntar algo nesse sentido. Porque às vezes me perguntam sobre o João Fonseca e chegam "você acha que ele vai ser número 1?" Vai ganhar slam?" E eu acho um exercício de futurologia meio besta. Eu não gosto de fazer. O que eu respondo sempre é isso: há sinais que você percebe e que te indicam coisas boas ou ruins. Por exemplo: se o garoto está com a cabeça boa, se está focado naquilo, se a família orienta bem, se o técnico está preparado, etc. E os sinais que o João dá são ótimos. Você vê isso na Naná e no Guto?
Vejo. Eu treinei bastante gente boa da idade da Naná. Se você fizer um checklist das que foram boas com o que elas tinham e o que a Naná tem, está ali. O último jogador homem bom que eu treinei foi o Korda e peguei com a idade do Guto. Eu não fico tanto no dia a dia dele como no da Naná, mas eu vejo bons sinais ali. Agora... É aquele negócio que eu falo para os pais: tem muito treinador de tênis, principalmente fora, que vende o "falo inglês fluente em 10 aulas". Isso aqui não existe. Eles têm que estar no pelotão de frente do nível deles. Não precisa ser o melhor. O melhor, com essa idade, não significa nada. Eu falo pra Naná: "a mais jovem do mundo no ranking da WTA". Isso aí é um título que não existe. Alguém tinha que ser a mais jovem. E ela entende bem porque ela diz "minha felicidade é que estou no ranking". Ótimo. Então os sinais que aparecem deles são bem animadores. Agora... Com 14-15 anos, pode acontecer um milhão de coisas. A Naná e o Guto estão no pelotão de frente da idade deles no mundo. Jogam tênis moderno, que é outra coisa que pra mim é animador. Às vezes, com 14 anos você ganha tudo...
Empurrando bola lá do fundo da quadra!
[Naná e Guto] são jogadores que jogam um tênis moderno. Têm que melhorar, evidentemente, como todos têm. Vejo a equipe da Naná aqui bem focada. A família é boa. Mas, de repente, daqui a dois anos, eu vou te falar "Lembra daquele checklist? Algumas coisas a gente não conseguiu." A mesma coisa com o Guto. Isso eu fazia com todos os jogadores que eu tive. O Korda, ali, era difícil que ele não jogasse bem. Podia acontecer. A carreira da Cici, por exemplo, durou três anos. Ela teve uma lesão que era incontrolável.
Mas isso é muito louco, né? Tudo nessa idade é muito delicado.
É volátil.
Frágil, né?
Lógico. Não vou falar da Naná ou do Guto, mas um adolescente que tem 14 anos fala pro pai: "Quero ser jogador de basquete". Vai no clube um dia, chega na lanchonete, olha pra uma menina, a menina olha pro menino... "Quer saber? Eu não quero mais isso. Eu quero namorar, quero ir pra faculdade e ter uma família". E eu tive um jogador chamado Mikhail Karpol, que era o melhor da Europa de 14 anos, e aconteceu exatamente isso. Neto do Karpol do vôlei! Ele foi para a Croácia de férias uma vez, e quando voltou falou para a gente: "Putz, acho que vou voltar para a Croácia para morar lá e treinar lá". Nada! Com 18 anos, ele estava trabalhando de advogado. Então você não tem controle. Vamos bater na madeira, mas de repente tem uma lesão... A da Cici deu tempo de ela ter uma carreira de certo sucesso, ser top 30, mas menos do que ela poderia chegar. Lesão. A Cici hoje tem 25 anos e trabalha num fundo de investimento há três anos. Então existem os incontroláveis. A parte que eu consigo ver como experiência, eu acho que o Brasil hoje tem três jogadores - quatro contando o João Fonseca - quatro adolescentes que são top no mundo na idade deles. A Naná, a Victoria [Barros], o Guto e o João. A gente tem alguns na América do Sul: a Pietra [Rivoli] e o Livas [Damazio]. Mas as coisas mudam muito nessa idade, por isso que o ideal seria prudência, canja de galinha não faz mal a ninguém. Não é fácil, mas a gente tem que lidar com isso. É a cultura. Não vai mudar. É um país muito emotivo. É o que tem.
Falando especificamente da Naná... Pelo pouco que eu vi, fiquei impressionado com saque e direita. O que é que precisa ser mais trabalhado com ela hoje em dia? Para, de repente, alcançar o saque e a direita?
O que ela mais precisa é de tempo. Ela precisa melhorar tudo. Só que nessa melhora de tudo - depois eu posso até ser mais específico - o que mais vai ajudá-la é a maturidade, e a maturidade vem com o tempo. Eu não posso acelerar alguém a ser maduro. O tênis acelera bastante. Você viaja, joga bastante, não sei o quê. Uma menina de 15-16 anos, jogadora de tênis, talvez possa chegar num grau de maturidade maior do que uma menina que está na escola todo dia. Pelas experiências vividas, por vitória e derrota... Para mim, maturidade vai dar para ela ganhos em todos os níveis. Ela trabalha bem, mas sendo madura ela vai trabalhar melhor. Trabalhando melhor, ela vai melhorar as coisas que tem que melhorar. Para mim, ela saca muito bem. Os golpes de fundo são muito bons, os dois. A gente está melhorando um pouquinho o slice dela. Pelo jeito que ela joga, ela pode chegar mais na rede. Talvez abrir um pouco mais a quadra. Ela ainda joga bastante reto. São coisas que ela já vem melhorando. Se a gente pegar a Naná seis meses atrás e pegar agora, eu vejo muita melhora. Ela está mostrando evolução, mas eu converso isso com o pai e o Danilo. A grande evolução vai vir com a maturidade. A gente tem que ter calma no processo. A gente não pode ficar esperando só ela crescer e amadurecer. Eu gostaria que nesse último jogo, um 7/6 no terceiro set [quartas de final do W15 de Ribeirão Preto, em novembro do ano passado, contra a australiana Kaylah Mcphee], que ela ganhasse. Nitidamente, é um jogo que daqui a um ano, nessa mesma situação, ela vai lidar muito melhor.
O que é mais fácil de trabalhar com ela? E o mais difícil?
O mais fácil é que ela é uma menina encantadora. Respeitosa, com uma família que não se mete em nada... É uma menina fácil de trabalhar. E esse fácil vem entre aspas porque nunca é fácil trabalhar com adolescente. O difícil, que eu te falei, é esse entorno de oba-oba que tem muito em volta. Na verdade, não afeta o trabalho, mas às vezes pode afetar a realidade que ela vive. É uma coisa que a gente tem que tomar muito cuidado.
Como é que monta calendário para alguém de 14-15, não sei se posso chamar de "precoce", mas que já está fazendo ponto no circuito profissional? Qual é o parâmetro para decidir onde jogar, quando vai jogar um torneio juvenil, quando vai jogar um evento profissional?
Eu sempre sou a favor - e isso em qualquer nível. Se você tem 13 anos, você pode jogar ITF [circuito juvenil]. Tem que jogar ITF. Se tem 14 anos, já pode jogar profissional. Tem que jogar profissional. Falando de um nível até abaixo do da Naná porque isso te dá um parâmetro de onde você está e não está e o que você precisa. Então a Naná já provou que pode jogar profissional. Eu acho que o tênis juvenil serve muito como experiência e ranking para você jogar Grand Slam. Grand Slam te dá...
Exposição.
E outra: você está num ambiente que faz você querer voltar lá outro dia, de outra maneira. Você está andando num corredor, e passa a Iga [Swiatek, #2 do mundo], passa o Djokovic... Você está no refeitório, está lá o Alcaraz... Ali estão os melhores do mundo. Você vê que o calendário do João Fonseca nunca foi feito para ele ser número 1 do mundo juvenil. O calendário dele sempre foi muito bom. Isso eu falo para a Naná: não é tão difícil você fazer um calendário para chegar a top 10 juvenil para alguém que joga bem. Você vai pegar ponto em um monte de lugar, faz um monte de coisa...
Pega ponto de dupla também!
É! Um monte de coisa. O calendário da Naná, como ela tem nível, este ano vai ser metade-metade. A questão é que ela, com 14 anos, tem limite de torneios profissionais para jogar. Acho que ela pode jogar oito. E no juvenil ela pode jogar 14 ou 15, uma coisa assim. Essa é a maior dificuldade. Só em um [juvenil ou profissional], não tem semanas suficientes. Mas, para mim, tem que jogar tudo. Tem que tomar cuidado com, por exemplo, chegar muito... "a gente vai te dar wild card não sei onde". Para mim, tem que respeitar os degraus. Mas vai jogar bastante profissional, vai jogar os principais juvenis, mas eu diria que o foco é ela melhorar as duas frentes. Não é "focar aqui para ela ser número 10 do mundo juvenil."
Minha segunda parte dessa pergunta... Já que a gente está aqui [no Harmonia, durante a Procopio Cup], por exemplo, o Guto tomou 6/0 e 6/0 do Danielzinho anteontem. Faz mal para a cabeça dele? Porque você falou agora há pouco que jogar profissional te dá o norte, te faz saber o que você precisa. E ele entrou aqui, pegou um cara cascudo e num momento bom. O placar abala?
Eu acho que para quem é do tênis, desde o cara que está jogando aqui no clube até o profissional, um 6/0 e 6/0 é um placar que ninguém gosta. Agora... Estou falando de mim, se eu fosse ele. E acho que ele vai conseguir ver dessa maneira. Isso tem que servir como combustível para dizer "ano que vem vou vir aqui e não vou tomar 6/0 e 6/0. Vai ser diferente". Na hora, acho que ninguém gosta de tomar 6/0 e 6/0. Nem o amador do clube nem o Guto nem ninguém. Mas quando você tem 15 anos e jogou com o Danielzinho, que com 35 anos está na melhor fase da carreira dele, num dia com condições lentíssimas... "Amigão, acontece e aprenda com isso!". Tanto que ontem, no treino, eles conversaram sobre o jogo. Foi muito legal, o Danielzinho chegou e foi bater um papo com ele. O Guto tem que ver isso como aprendizado. Ainda não é o lugar dele. Ele foi convidado. Olha quem está aqui: o Danielzinho, 300 do mundo, 35 anos; o João Lucas Reis, 24 anos, 400 do mundo... O Guto ainda está no processo, e essas experiências são importantes para ele. Por exemplo: hoje, ele perdeu do Bonini, que é três anos mais velho, mas é um jogo que você tem menos a aprender.
E ele podia ganhar.
Ele podia ganhar, mas mesmo ganhando, talvez o jogo que vá dar o melhor norte para ele vai ser o jogo do Danielzinho. O que eu preciso aqui? Preciso ser mais sólido, preciso jogar todos os pontos, precisa tomar cuidado com a porcentagem de primeiro saque... Então acho importante essa mescla, e sempre falei isso para os treinadores. Sem ter a loucura de atropelar o processo - porque o jogador tem que aprender a jogar com pressão. A Naná joga com a menina que é 300 do mundo, ela não tem pressão. Pressão é importante. Sem atropelar, às vezes a gente tem um quê de proteger jogador e, de novo, proteção desprotege. Vai lá e joga, vamos ver como é que você está. A Naná mostrou que está preparada para jogar nesse nível, com menina 300-200 do mundo. Ganhar ou não é um fator que não dá para controlar. Jogou com a 300 na semana passada e tomou 7/6 no terceiro set. Jogou com a Giovannini, que estava 400 do mundo, e tomou 6/4 no terceiro set. Ela, para mim, já está preparada para fazer mais coisa no profissional.
Com o Guto, dentro da ressalva que você já me deu de que não está com ele no dia a dia, daria para dizer o que é mais fácil ou mais difícil do trabalho com ele?
O Guto é um cara que escuta bastante. Qual é minha relação com ele? Eu, como head coach do RTB, eu monitoro todos os jogadores. Fora isso, eu me dou muito bem com o Santos Dumont, que é o treinador dele, e em muitas semanas eles jogam junto com os outros meninos do RTB. No final, em 2024, eu acabei estando junto com eles umas dez semanas, então eu estou próximo, mas quem comanda é o Dumont. Eu ajudo como posso e quando eles requerem minha ajuda. O que o Guto tem de bom? É um bom menino. Escuta. Tem uma arrogância boa, que para mim vai ajudar bastante ele.
É aquela linha tênue entre confiança e arrogância, eu te entendo.
Ele tem muito confiança nele mesmo, mas vou voltar para a questão da Naná. A maturidade vai ensinar para ele que isso, em excesso, machuca mais do que ajuda. Tem que tee confiança alta, mas controlável. Acho que ele está aprendendo a lidar com isso.
Eu sempre falei isso do Thiago Wild.
Mas por que o Thiago Wild vai lá em Roland Garros e ganha do Medvedev?
Sim, ele acredita.
Mas às vezes, com o perfil do Guto, ele vai jogar com o Alcaraz e vai achar que vai ganhar do Alcaraz. Estou falando "perfil Guto", não o Guto. Mas, de repente, no outro dia joga com um cara que é mais fraco e não se prepara igual. Então eu gosto muito desse lado do Guto, que ele realmente acha que pode ganhar de qualquer um. Isso é muito bom.
Isso é muito difícil de ensinar, né?
Isso não se ensina. Tem cara que chega aqui na quadra e, na hora de entrar, "não vou ganhar". O Nadal passou a vida inteira falando que o Federer é melhor que ele. Só que quando os dois entravam na quadra, era "eu sou melhor que ele", "eu vou ganhar dele". Então é muito difícil de se ensinar. Ele tem isso natural, o que é muito bom. E a maturidade vai ensiná-lo a usar isso mais vezes a seu favor. Mas são dois meninos bons de se trabalhar. É uma geração boa.
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1 comentário
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Jose Claudio dos Santos
Ótima entrevista, como é difícil construir atletas de ponta (ainda mais num país onde um pingo, muitos confundem com oceano)