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Blum: De Medina ao estreante Chumbinho; quem é quem na elite em 2022

Gabriel Medina comemora seu terceiro título mundial de surfe em San Clemente, na Califórnia - Pat Nolan/World Surf League
Gabriel Medina comemora seu terceiro título mundial de surfe em San Clemente, na Califórnia Imagem: Pat Nolan/World Surf League

Colunista do UOL

18/01/2022 04h00

A nova temporada da divisão principal da World Surf League começa em menos de duas semanas. É o fim da espera de mais de 4 meses, desde as finais em Trestles, na Califórnia.

Como aconteceu nos últimos anos, o Brasil está na linha de frente entre os homens. Em 2021, pela primeira vez na história, atletas brasileiros terminaram nas 3 primeiras posições do ranking mundial de um esporte individual. Em 2022, Gabriel Medina, Filipe Toledo e Italo Ferreira estão mais uma vez na lista dos principais favoritos. Às vésperas da largada, marcada para a temida bancada de Pipeline, no Havaí, é hora de projetar o que vem por aí.

Depois do arquipélago mais famoso do mundo do surfe, o tour irá passar por Portugal, Austrália, Indonésia, El Salvador, Brasil, África do Sul e Tahiti. Em setembro, os 5 melhores da corrida disputam o WSL Finals, mais uma vez confirmado para as ondas de Trestles, em San Clemente.

Do atual campeão aos estreantes, então, uma análise do que espero para as 10 etapas previstas no calendário.

Nome a nome.

Gabriel Medina - WSL - WSL
Gabriel Medina voa durante as finais da WSL 2021
Imagem: WSL

FAVORITOS

Se abrirmos uma pesquisa com especialistas, competidores, fãs e jornalistas, dificilmente a relação dos candidatos ao título não seria a que inclui 4 nomes: Gabriel Medina, Filipe Toledo, Italo Ferreira e John John Florence.

Gabriel Medina (Brasil) - há muito o que falar sempre sobre ele, mas, desta vez,... pouco a acrescentar. No ano passado, o fenômeno provou que não usa a camisa 10 por acaso. Dominou o circuito e se sagrou tricampeão, um sonho que carregava desde a infância. Para Medina, que nos últimos anos nunca ficou fora do top 3, só surgiria uma dúvida se o próprio atleta não tivesse interesse em mais um troféu. O que cá entre nós, é impossível para um cara tão preparado e tão faminto pelas vitórias.

filipe toledo - WSL - WSL
Filipe Toledo, durante a etapa da piscina no ano passado
Imagem: WSL

Mas a concorrência vai ser boa, muito boa.

Filipe Toledo (Brasil) - Não é de hoje que Filipe Toledo é um dos competidores mais rápidos e ferozes da elite. Soma 10 vitórias no CT. Mas em 2021, o paulista que escolheu a San Clemente como moradia, bateu na trave. Páreo duro para Medina em várias situações, principalmente nas direitas. Foi gigante nas bombas de Margaret River e alcançou também o esperado título nas ondas artificiais da piscina do Surf Ranch. Nas finais, ficou muito perto do caneco. Pra mim, essa temporada será dele.

Italo Ferreira (Brasil) - É o sinônimo de garra. A partir do momento que veste a lycra de competição, o cara de fala calma e pausada se transforma em um monstro, numa máquina, seja qual for a condição. Detesta perder. Se viveu altos e baixos no mundial passado, fechou o ano como o primeiro campeão olímpico da história. Um feito eterno. Aposto que vai estar de novo entre os finalistas da WSL.

John John Florence (Havaí) - Para muitos, o melhor surfista da atualidade. O único competidor à altura do trio brasileiro em termos de regularidade. Bom em qualquer tipo de onda, o havaiano —bicampeão de 2016 e 2017— sofreu com as lesões nas últimas temporadas. Mas com dois títulos no Havaí em dezembro, mostrou que está na "ponta dos cascos". E detalhe: os dois primeiros eventos vão rolar no quintal de sua casa.

kanoa igarashi - WSL - WSL
Kanoa Igarashi, durante etapa da WSL em 2021
Imagem: WSL

CANDIDATOS AO TOP 5

A segunda turma a ser olhada com carinho é a que vai remar e manobrar forte para alcançar uma das 5 vagas para as finais. Aposto aqui em quatro nomes.

Yago Dora (Brasil) - Pra mim, um candidatíssimo a fazer parte do rol dos campeões mundiais. Provou que está a altura dos citados na primeira lista. Se encontrar o equilíbrio correto durante todo o ano, somado ao talento e a variedade de manobras (principalmente os aéreos), se torna um adversário praticamente imbatível. Pena que, por causa de uma lesão, vai perder as etapas havaianas. Terá de se recuperar o quanto antes para não sofrer com o corte previsto na metade da temporada.

Kanoa Igarashi (Japão) - Único representante que carrega a bandeira do Japão no Championship Tour. Tem uma vitória na elite, em Keramas, na Indonésia. Talentoso, tem aprimorado demais as manobras aéreas. Faltou um resultado forte para ir às finais no ano passado, mas agora vem embalado pela medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Griffin Colapinto (Estados Unidos) - Americano que chegou ao CT com esperança de levar o troféu de volta ao país. Logo no primeiro campeonato, em 2018, um 3º lugar na Gold Coast, Austrália. Depois, apresentações de deixar adversários e torcedores de boca aberta, misturadas com derrotas inesperadas. Fechou 2021 com 3 semifinais e em 6º na classificação geral.

Jack Robinson (Austrália) - Na minha opinião, esse é o cara quando o tema do debate é a nova geração australiana. Aos 24 anos, é o nome que pode devolver as glórias ao país que dominou o planeta no passado. Estreante em 2021, Jack mostrou que é excelente em ondas pesadas, mas que vai muito bem também quando precisa fazer o jogo completo, com tubo combinado com manobras fortes. Foi assim que venceu a etapa de Barra de La Cruz, no México. Olho neste aussie aí!!!

Deivid - WSL - WSL
Deivid Silva, vice-campeão da etapa do México
Imagem: WSL

HORA DA CONFIRMAÇÃO

A próxima galera é onde coloco minha maior expectativa. Surfistas que já mostraram alto potencial, e que podem (ou devem) dar um salto ainda maior na carreira. Um brasileiro, dois americanos e três australianos.

Deivid Silva (Brasil) - DVD desabrochou em 2021. Aos poucos foi encontrando seu surfe e fechou a corrida soltando a fera que todos sabiam existir. E depois de avançar apenas uma vez até as quartas de final e de amargar inúmeros 17º, encaixou o bombardeio para chegar até a decisão no México. O ataque nas direitas valeu até o elogio do craque Kelly Slater, que disse que o paulista tem o melhor backside do tour (quando o atleta surfa de costas para a onda). Para 2022, Deivid se reforçou ainda mais, trabalhando com Luiz Pinga, o "mago" dos técnicos brasileiros.

Conner Coffin (Estados Unidos) - Habilidoso, sim... mas, às vezes, me parece meio "sem sangue nos olhos". Local de Santa Bárbara, tem um surfe clássico, de linhas bem definidas, e fez a melhor campanha da carreira na última temporada. Venceu a "bateria mais polêmica" do ano, contra Italo Ferreira em Narrabeen, onde chegou pela 1ª vez numa final. Aí, parou em Gabriel Medina. No WSL Finals, passou pelo primeiro duelo, mas não conseguiu superar os brasileiros e terminou em 4º no geral.

Kolohe Andino - WSL - WSL
Kolohe Andino
Imagem: WSL

Kolohe Andino (Estados Unidos) - Surfista completo. Experiente e com todos os tricks no pé. Mas vive o drama de nunca ter vencido um campeonato na divisão principal. Ficou fora no último ano por lesão e é um dos que ganharam a vaga na elite por esse motivo. Se for constante, tem tudo para chegar às finais.

Morgan Cibilic (Austrália) - Melhor australiano e "Rookie of the Year" em 2021. Estreou entre os melhores chutando a porta, sem medo de enfrentar os gigantes. Derrotou John John Florence duas vezes, fez frente a Gabriel Medina, disputou uma final e fechou a temporada com a 5ª posição no WSL Finals. Agora, como 2º anista, vai ter que provar que é um dos líderes da nova geração de seus país, que não conquista um mundial há uma década.

Ryan Callinan (Austrália) - Dono de um surfe pesado, principalmente de backside. Só que é mais um exemplo de competidor que oscila entre ótimos e maus resultados. Fechou 2021 em 15º no geral. Tem potencial de sobra para subir na tabela.

Ethan Ewing (Austrália) - Um dos meninos dos olhos da Austrália. Já esteve no tour mais jovem, caiu de divisão, voltou e agora se garantiu para outra temporada. Estilo refinado, parecido com o compatriota e tricampeão mundial Mick Fanning. No ano passado, chegou em duas quartas de final.

Miguel - WSL - WSL
Miguel Pupo fechou o CT 2021 na 20ª posição
Imagem: WSL

MAIS UMA CHANCE

O quarto ítem que separei reúne surfistas bem diferentes. Uns bem cascudos, os únicos europeus da turma... além de possíveis surpresas. Pra começar, uma dupla brasileira de responsa.

Jadson André (Brasil) - Com a aposentadoria de Adriano de Souza, passou a ser o mais velho do time verde e amarelo. Mas perto de completar 32 anos, Jaddy ainda tem muita lenha pra queimar. Atirado, raçudo e com manobras personalizadas, é muito respeitado. No ano passado foi regular. Tem mais uma chance de repetir o título histórico de 2010, quando venceu Kelly Slater na final em Santa Catarina.

Miguel Pupo (Brasil) - Mais um representante cheio de histórias para contar. Mestre do estilo, que não fica atrás de nenhum dos melhores do planeta. Tem tudo para vencer uma etapa do tour pela primeira vez.

Frederico Morais (Portugal) - Português com jeitão brasileiro. Quando as baterias acontecem nas direitas, Kikas se torna um competidor voraz. Já disputou final nas perfeitas ondas de J-Bay. Tem sido o melhor europeu no tour, e começa a temporada como número 10.

Leonardo Fioravanti (Itália) - Outro regular (quem surfa com o pé esquerdo na frente). Dono de um power surf, que cresce demais quando o mar sobe. Levou a Itália à principal divisão e lá permanece.

Seth Moniz (Havaí) - Havaiano, com sobrenome pesado nas ilhas. Um dos pouquíssimos que conseguiu bater Gabriel Medina numa bateria no ano passado. Justamente em Margaret River, quando o swell foi enorme.

Matthew McGillivray (África do Sul) - A África do Sul tem tradição e sempre coloca atletas no mundial. Matthew estreou em 2021 em 24º lugar, justamente fora da linha de corte corte da reclassificação. Por isso, será o primeiro suplente a ser chamado em caso de alguma ausência. Nas etapas do Havaí, vai substituir o brasileiro Yago Dora.

Kelly - WSL - WSL
Kelly Slater entocado em Teahupoo, no Tahiti
Imagem: WSL

VETERANOS

Kelly Slater (Estados Unidos) - Ídolo de 10 entre 10 amantes do surfe. O maior de todos. Um highlander. O mestre... o 11X campeão mundial. Em 2022, Kelly completa 50 anos. Há 30, ganhava o primeiro título. Desde então, quando não foi imbatível, encarou de frente todos os tipos de adversários. O cara estreou na elite em 1989... faz as contas aí. Mas ele terá que se vacinar contra a Covid, senão vai perder algumas etapas, em países que não estão liberando a entrada de não-imunizados.

Jordy Smith (África do Sul) - Mais um cracaço. Perto dos 34 anos, o sul-africano que já foi vice-campeão mundial, segue no ritmo de anos atrás. Só não entrou na lista dos 5 melhores no ano passado, porque precisou fazer uma cirurgia e perdeu os dois últimos eventos. Se as lesões não voltarem a atrapalhar, vai brigar na parte de cima da classificação.

Owen Wright (Austrália) - Um dos caras mais bacanas do tour... e também um dos melhores nos tubos. Depois de várias temporadas e vitórias históricas - como em Fiji quando marcou 20 pontos na decisão - o australiano não conseguiu a reclassificação via ranking e ganhou o convite da liga para seguir entre os tops.

Nat Young - WSL - WSL
Americano Nat Young, durante a etapa do Marrocos em 2020
Imagem: WSL

DE VOLTA AO TOUR

Três dos 35 atletas que vão disputar o campeonato mais sonhado para os surfistas, já sentiram esse gostinho, perderam o posto e estão de volta.

Ezekiel Lau (Havaí) - Havaiano, dono de power surfe. Se garantiu ao vencer o Challenger Series de Ribeira D'Ilhas, Ericeira, Portugal.

Connor O'Leary (Austrália) - Australiano, sem grandes atuações na elite. Assim como Lau, se garntiu via CS, com vitória na etapa de Hossegor, na França.

Nat Young (Estados Unidos) - Dos 3, o mais técnico. Mas terminou a divisão de acesso na 10ª posição. No currículo, 3 vices na elite. Em dois deles, derrotado por brazucas: diante de Adriano de Souza em Bells Beach, na Austrália em 2013, e contra Gabriel Medina em Fiji, no ano seguinte.

Chumbinho - Divulgação/WSL - Divulgação/WSL
João Chumbinho, surfista brasileiro
Imagem: Divulgação/WSL

ESTREANTES

Fazia muito tempo que não se via tantas caras novas. Nove novatos vão encarar a dor e a delícia do Dream Tour. Com um detalhe interessante: dois países terão representantes pela 1ª vez na história, Peru e Costa Rica.

Samuel Pupo (Brasil) - Irmão mais novo da família Pupo. Ao contrário de Miguel, surfa com o pé esquerdo na frente. Mas assim como a referência, é talentoso, ousado e tem o jogo aéreo no pé.

João Chumbinho (Brasil) - Acostumado com as pesadas ondas de Saquarema, é o responsável por recolocar o estado do RJ na elite. Mais um que vem de uma família 100% surfe. O irmão, Lucas Chumbo, já conquistou o mundo, pegando as maiores ondas do planeta.

Jake Marshall (Estados Unidos) - Mais um nome que gera esperança para os Estados Unidos. Regular no mini-circuito do Challenger Series, conseguiu a vaga sem grandes sustos.

Imaikalani deVault (Havaí) - Único havaiano que vai estrear no tour. Nome difícil, surfe fácil.

Liam - WSL - WSL
Liam O'Brien, Austrália
Imagem: WSL

Liam O`Brien / Jackson Baker / Callum Robson (Austrália) - A Austrália aposta (e não é pouco) neste trio, todos na casa dos 20 anos. Liam já provou que merece estar entre os maiores. No ano passado, como convidado, chegou até as semifinais do campeonato em Rootnest Island, na Austrália. Inclusive vencendo Filipe Toledo e Miguel Pupo. É esperar pra ver, mas a expectativa aussie é grande.

Carlos Muñoz (Costa Rica) / Lucca Mesinas (Peru) - Duas bandeiras novas vão tremular ao lado do palanque. E os torcedores costa-riquenhos e peruanos tem um motivo a mais para acompanhar os duelos da WSL. Ambos são bem experientes, há anos disputando o WQS, tentando vaga. A chance chegou... basta ver se terão bala na agulha para enfrentar campeões mundiais e nomes de peso.

Contagem regressiva acelerada!! O tour dos sonhos de 2022 começa dia 29.

por @thiago_blum / @surf360_

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL