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O que o mundial perde sem Gabriel Medina? Surfistas e especialistas opinam
O campeão Gabriel Medina vai dar um tempo para cuidar do corpo e da mente. Pelo menos nas duas primeiras etapas, marcadas para o Havaí, o tour da World Surf League não vai contar com a maior estrela, com o personagem mais midiático do esporte.
Em setembro passado, logo após o brasileiro conquistar o tricampeonato nas ondas da Califórnia, escrevi nesta coluna levantando a hipótese dele deixar o circuito de lado por um tempo para um "ano sabático". Naquele texto, como parte do próprio título comprova, a "viagem" no tema era correta... mas errei no palpite.
Na reportagem, tentei deixar claro porque a ausência do camisa 10 seria ruim para todos: WSL, adversários, patrocinadores, fãs e o próprio Gabriel.
Só que no primeiro texto, a análise tratava de uma suposta ausência das competições por opção, não para se cuidar e tratar da saúde mental, justificativa oficial para a pausa nos próximos meses.
O fato é que Medina não vai estar na largada do calendário. A temporada 2022 da WSL começa no próximo sábado (29), em Pipeline. A 2ª etapa também está programada para o Havaí, em Sunset Beach.
Em seguida, o tour dos melhores do planeta vão passar por Portugal (Peniche), Austrália (Bells Beach e Margaret River), Indonésia (G-Land), El Salvador (Punta Roca), Brasil (Saquarema), África do Sul (Jeffreys Bay) e Tahiti (Teahupoo).
Os campeões serão conhecidos no WSL Finals, com os 5 melhores dos rankings masculino e feminino. A decisão vai acontecer mais uma vez em Lowers, Trestles - Califórnia, entre os dias 8 e 16 de setembro.
Surfistas e especialistas analisam decisão de Medina
Italo Ferreira, principal adversário nos últimos anos, prontamente prestou apoio ao amigo: "Você é gigante. Um grande exemplo para todos os outros. Fica bem e eu vou ficar com saudade".
O @surf360_ foi atrás de opiniões. O que pensam surfistas, representantes da liga e especialistas? Quanto o mundial perde com a ausência de Gabriel Medina nas primeiras etapas? Confira as respostas abaixo:
WILLIAN CARDOSO (surfista profissional / ex-integrante da elite da WSL)
"O surfe todo perde, o Gabriel é grande uma necessidade para o surfe, um grande atleta. Mas se ele não está 100% não tem porque fazer parte. Ele merece esse tempo, merece esse descanso. Principalmente por que vem surfando em alto nível há 10 anos, então é o momento certo de dar essa respirada, grandes atletas já passaram por isso. A gente perde uma referência, mas ao mesmo tempo temos outros grandes nomes, que tem tudo pra fazer um grande circuito e brilhar. Então, vamos torcer pra que seja um grande evento."
IVAN MARTINHO (CEO da WSL para a América Latina)
"Sem dúvida gostaríamos de iniciar o CT de 2022 com o atual campeão mundial. Gabriel Medina é um dos ícones do nosso esporte e adorado por fãs no mundo inteiro. Porém a saúde mental e física dele devem vir em primeiro lugar e apoiamos a decisão do atleta, como Liga, o que também é apoiado pelo patrocinador principal dele, a Rip Curl. Estaremos de braços abertos quando ele estiver pronto."
RENAN ROCHA (ex-surfista profissional / comentarista do canal Série ao Fundo)
"Todo mundo perde, tanto a parte de publicidade, audiência, os confrontos que a gente poderia ver durante essas duas primeiras etapas, principalmente com o John John Florence, que está andando muito. O fã também, que vai perder essas grandes baterias com o Gabriel. Ele é o carro-chefe do Brasil, todo o resto do time brasileiro acaba indo atrás dele. Vai ser interessante ver se o Italo e o Filipe vão conseguir puxar essa fila, porque com esse formato e o Gabriel fora, do jeito que está a temporada havaiana, os gringos vão jogar mais pesado neste início. Vai ser um começo diferente, bem legal, pena que sem o Gabriel. Mas ele fez bem, profissionalmente fez o correto, tem que descansar e ter férias."
LUIZ PINGA (manager / técnico, com várias décadas no tour)
"É muito difícil mensurar. Ele é um cara que tem um grau de competitividade super alto, que alinhado à técnica e o talento, com certeza é um dos surfistas que mais eleva o nível. Com as performances dele, puxa o nível do Filipe, do Italo, do John John e do Jordy Smith. É um cara que a gente tem que entender também um ponto, vem vivendo isso desde muito cedo. Lembro do Gabriel aos 13, 14 anos, já super concentrado e focado, buscando ganhar campeonatos e uma evolução constante. Então são pelo menos uns 15 anos lidando com isso. E desde que entrou no circuito mundial, em 2011, vem com essa pressão de ser campeão mundial, o que não é fácil. É uma perda bem grande. Falo pelos meus atletas, que competem contra ele... e é sempre muito bacana enfrentá-lo e ter a chance de tentar ganhar dele, porque a gente sabe que é sempre duro."
IAN GOUVEIA (surfista profissional / ex-integrante da elite da WSL)
"Com certeza tem um impacto. Ele é o melhor surfista-competidor da atualidade e último campeão mundial. Vai fazer falta, mas o circuito tem excelentes surfistas que podem garantir um show de alto nível. Acredito que é boa oportunidade para as outras pessoas do circuito ir bem em Pipeline, porque o Gabriel nos últimos anos foi o mais constante lá. Vai abrir uma vaga aí pra galera ir bem neste evento. Quanto ao Gabriel, vai perder essas duas etapas, mas caso retorne às competições não vai afetar muito, pelo fato de ter esse novo ranking, novo formato de competições da WSL, permitindo que ele volte e disputar o título tranquilamente."
BRUNO BOCAYUVA (jornalista especializado)
"Perde muito. Se a gente olhar pro retrospecto recente do evento de Pipeline, das últimas 7 edições, o Gabriel fez 5 finais, vencendo em 2018. É um cara que tem uma relação de extrema intimidade e sintonia. O circuito perde muito, a perna havaiana perde muito. Espero que ele volte já pra Portugal (3ª etapa), para que consiga conquistar um lugar no corte do meio do ano. A gente sempre quer o circuito com os melhores surfistas, as melhores disputas, melhores ondas... e é raro ter todos os elementos. Mas no caso do Gabriel. é lógico que uma ausência muito sentida. No ponto de vista midiático também se perde muito... no Instagram, por exemplo, tem 9,5 milhões de seguidores. Pra alcançar esse número, tem que juntar a própria liga, o Kelly Slater, o John John Florence... e ainda fica faltando um troco de um milhão e pouco. Ele é poderoso sob todos os aspectos. Torço pra que ele volte em breve, mas com paz de espírito, bem de saúde física e emocional. A gente tende a enxergar caras como o Gabriel como super-heróis né... com poderes superiores aos seres humanos normais... mas de tempos em tempos, eles nos mostram que são humanos também. Mas temos aí, John John no esplendor da sua técnica, Italo Ferreira sobrando energia, atitude e positividade... e todas as estrelas da elite vão fazer um belo espetáculo."
ADRIANO VASCONCELLOS (head da ALMA SURF e analista na Rádio CBN)
"O Mundial perde muito. Foi uma ducha de água fria para todo mundo; fãs e aficionados, patrocinadores, WSL e principalmente para TV Globo, que vai estrear com o surfe em sua programação, ainda mais em um lugar paradisíaco com as melhores ondas do planeta, o que garante o show. Acredito que até para os competidores foi um anticlímax, porque o Gabriel é o top a ser batido. A etapa de Pipeline também poderia materializar um novo tira-teima entre o ouro olímpico Ítalo Ferreira e o atual tricampeão mundial Gabriel Medina, uma rivalidade que ainda pode contar muitas histórias."
por @thiago_blum / @surf360_
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