Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
10 motivos provam que o sucesso do surfe brasileiro vai além de Medina
Sexta-feira, 24 de junho... mais ou menos 3 da tarde.
O que deveria ser um show do maior nome do surfe brasileiro, se transformou em decepção e preocupação.
Ao ser eliminado pelo australiano Callum Robson na repescagem, sem acertar praticamente nada, Gabriel Medina teve um dos piores resultados da carreira desde que entrou na principal divisão da World Surf League.
Mas o pior ainda estava por vir.
O tricampeão mundial saiu do mar mancando, com dores no joelho. Tensão no ar.
E a má notícia veio no dia seguinte: lesão séria, que vai deixar Medina de 4 a 6 semanas de molho.
Nas areias, muitos diziam: "Gabriel nunca vai vencer um evento no Brasil".
Só que o sentimento de tristeza que pairou, não demorou para ser deixado de lado.
Em um ano que nosso maior astro das ondas optou em se ausentar por vários meses para se cuidar, a despedida precoce não foi sentida e lamentada.
Quando demos conta, Gabriel Medina já havia pego o helicóptero e ido embora de Saquarema.
Sobram motivos para afirmar que ele tem muito a ver com o crescimento do esporte por aqui na última década.
Mas que o sucesso do surfe brasileiro hoje, vai além... bem além do 'fator GM'.
Nos dias que passei na praia de Itaúna, encontrei 10 motivos para a galera "esquecer" o craque da camisa 10.
1) SHOW DO LÍDER
Filipe Toledo é o cara nesta temporada.
Faz final atrás de final. No RJ, Filipinho chegou à 5ª decisão, a terceira seguida. 2º título. Lidera o ranking faz tempo.
Além disso, quando se fala em etapa brasileira, o monstro da lycra 77 se agiganta ainda mais.
Não sente pressão, se alimenta da vibe que vem da areia.
Um exemplo? Na bateria de estreia, a 1ª manobra dele foi um aéreo full-rotation.
Ele entrega o espetáculo que se espera, ao mesmo tempo competitivo, divertido... e deixando a emoção aflorar.
Não se conteve ao saber que havia garantido antecipadamente uma das 5 vagas para o WSL Finals.
Comemorou com os seus... os mais próximos da família... e uma legião que só aumenta.
Resultado de simpatia, educação e companhia de gente competente, que o permite apenas se preocupar com a obrigação de seu trabalho.
O 'bônus track', ele deixou para a bateria decisiva. Um aéreo monstro de backside, que valeu um 10 perfeito (quando todos os juízes avaliam igualmente).
Foi a 14ª nota máxima na carreira dentro do CT. De quebra, o maior somatório do campeonato (18.67).
12º título de etapa da divisão de elite. Apenas 4 atrás de Gabriel Medina.
Tetracampeão em provas realizadas no Brasil (2015,2018, 2019 e 2022).
Ver Filipe Toledo surfar ao vivo, ali pertinho, é uma experiência para a vida toda.
Ruim mesmo, só para a concorrência. Vai ser complicadíssimo tirar o título mundial dele em 2022.
2) ASTRAL DO BRABO
Estar perto dos melhores atletas faz parte do dia a dia de um jornalista esportivo.
No meu caso, cobrir o surfe é prazer... é privilégio.
Não é todo dia que se pode estar próximo de um campeão mundial e olímpico.
Italo Ferreira dá boas entrevistas e sempre... sempre tem tempo para os fãs.
Foto pra tudo quanto é lado. Mortal de costas na praia, mesmo com dores nas costas. Autógrafos... e claro, muito energia dentro da água.
O cara só transmite coisa boa.
3) 10 DO CAIO
Quando uma etapa do mundial começa, a expectativa das maiores notas vão para Medina, Italo, ou Filipe.
Em Saquarema não era diferente.
O trio se destacou. Mas o único score máximo foi do cara que começou o ano fora da elite do tour, entrou como suplente, teve grandes performances e tem tudo para fechar a temporada no top 10 do ranking.
Caio Ibelli é um exímio tube rider. Mas nem ele mesmo imaginava que viveria um momento do tamanho daquela 2ª bateria do round de repescagem.
Atrás de Jadson André no placar, Caio dropou uma direita e colocou pra dentro. Nos 5 segundos seguintes, o silêncio tomou conta... e quando enxergou a 'luz no fim do tubo'... se encontrou com a gritaria da torcida.
Ele sabia que seria um 10! Ele pediu o 10! E ganhou o 10!
O primeiro dele na divisão principal da WSL... justamente no Brasil.... e com a família toda presente.
Caio demorou para realizar o feito. Chegou no palanque quase sem ar... e deve estar 'preso' naquele cilindro até agora.
Uma imagem que segue na cabeça de muita gente.
4) ALEGRIA DOS PUPO
O sorrisão na foto resume a semana desta 'Ohana'. Ou melhor, o ano.
2022 tem sido pra lá de especial para Miguel, Samuel, Wagner e companhia.
Pela 1ª vez juntos no Championship Tour. Pela 1ª vez se enfrentando do CT. Pela 1ª vez dividindo os holofotes.
Ambos superaram o corte do meio da temporada. E puderam sentir o sabor de competir lado a lado no Brasil... e ficaram perto de um confronto direto.
Melhor na classificação geral, Miguel parou antes. Foi eliminado sem perder, no critério de desempate após placar igual diante de Italo Ferreira.
Samuel mostrou desde o início do calendário que merece estar aonde está.
No RJ bateu forte no peito para dizer: 'o meu ligar é aqui". Fez uma das maiores notas do campeonato.
Garantiu presença numa decisão logo na temporada de estreia.
Emocionante vê-lo vibrar após bater o campeão mundial e olímpico na semifinal.
O surfe está no sangue desta turma.
Uma família com a alma salgada, que inspira pais e filhos ao longo da imensa costa brasileira.
5) 100 VEZES JADSON
Ele se orgulha em dizer que é o novo capitão do time. O dono da braçadeira que foi por vários anos do campeão Adriano de Souza.
Uma herança merecida.
Jadson André está há 12 anos girando o mundo atrás de pontos, vitórias e troféus.
A recompensa vem de várias maneiras... e o 'Oi rio Pro' em Saquarema foi especial.
Jaddy não foi longe, mas completou a absurda marca de 100 etapas na divisão principal da liga.
O cara mais raçudo e guerreiro da tropa está no rol de pouquíssimos.
Ah... e tem mais, viu? A vaga para 2023 está garantida.
6) YAGO E SAQUAREMA
Se existe um cara tranquilo na turma, é Yago Dora.
Sim... fala mansa quando está seco fora da água. Um animal feroz quando se molha.
Se 2022 começou difícil por causa de uma lesão grave, vai terminar excelente.
O moço dos aéreos variados e complicados voltou a competir só na 6ª etapa. Fez a readaptação que precisava na Indonésia e El Salvador, para atacar as ondas de vez em casa.
E olha que a relação dele com o pico de Itaúna é antiga. Em 2017, Yago entrou no evento principal como convidado e fez estrago na chave.
Bateu em sequencia Gabriel Medina, John John Florence e Mick Fanning... e só parou na semifinal, contra outro campeão mundial, Adriano de Souza.
Desta vez, recebeu outro wildcard e atropelou a concorrência.
Só parou numa semi épica diante de Filipe Toledo, com somatórios altíssimos.
YD gosta mesmo deste lugar.
7) CONVIDADOS ILUSTRES
O nível do surfe atual - principalmente quando se trata de Brasil - que um convite de última hora pode se transformar a história de um torneio.
E se existe um 'intruso' que adora 'bagunçar' a festa alheia, o nome dele é Mateus Herdy.
No ano passado, chamaram o figura para competir no México, e ele foi até a fase semifinal.
Para Saquarema, a 'pulseira' para a sala dos atletas saiu em cima da hora. Herdy chegou na cidade no dia de abertura e foi direto para a praia.
Gostou tanto da 'balada', que foi um dos últimos a se despedir. Ficou em 5º lugar, após tirar dois dos melhores surfistas da temporada: o japonês Kanoa Igarashi (5º) e o australiano Jack Robinson (vice-líder).
O outro convidado conhece a festa do CT. Michael Rodrigues, ex-integrante da elite, também pôde saborear o delicioso gostinho de estar entre os melhores do mundo... ficou na 9ª posição.
8) ESPORTE INDIVIDUAL, COMPETIÇÃO EM EQUIPE
Esse ítem não é novidade, mas fica ainda mais evidente quando o circo da WSL desembarca na 'terra brasilis'.
No surfe, é cada um por si... não quando se trata do time verde e amarelo.
Como dá gosto vivenciar o apoio mútuo de todos os atletas que participam do tour.
Em Saquarema foram vários do duelos caseiros. Batalhas que começaram e terminaram na água.
Antes e depois delas, troca sincera de respeito e admiração.
Bonito de se ver!!!
9) TORCIDA
Saquarema é o 'Maracanã do Surfe'.
E a galera faz questão de transformar o lugar numa verdadeira arena.
Em nenhum lugar do mundo existe loucura e sinergia tão grandes entre público e surfistas.
Claro que a torcida é pelos brazucas, mas nenhum gringo é hostilizado, pelo contrário.
Recepção de gala para americanos, havaianos, australianos, europeus e sul-africanos.
E a recíproca é verdadeira, afinal de contas, aí daquele que não for até a grade tirar uma selfie. Vai ficar escutando o nome ser gritado cada vez mais alto!!!
10) RESULTADO HISTÓRICO
Essa edição jamais será esquecida.
Por quem esteve na praia ou acompanhou a distância.
Uma festa nos tons da nossa bandeira.
Pela primeira vez desde 1963 - ano de criação do circuito mundial - o Brasil contou com todos os representantes entre os semifinalistas.
Uma história que foi sendo escrita fase a fase na chave masculina,
11 no round 1.
8/16 nas oitavas.
6/8 nas quartas.
4/4 na semi! 100%!!!
Os estrangeiros que me desculpem... é tudo nosso, não tem pra ninguém.
A questão foi só saber quem vai ocupar que degrau do pódio.
Domínio absoluto, como vem acontecendo há alguns anos.
11) E TEM MAIS...
Essa lista merece um bônus.
E ele tem nome: Tatiana Weston-Webb.
Vice-campeã mundial de 2021, em busca da vaga para o WSL Finals mais uma vez.
Uma mulher que nunca foge da briga, e que soube absorver a força da massa para brilhar no Rio de Janeiro.
Uma estrela solitária, que não vê a hora de ganhar companhia de outras brasileiras no line-up do CT da Worls Surf League.
É bom que fique claro.
Gabriel Medina é parte de tudo isso. Todo esse cenário fica mais rico com sua presença.
Mas é ótimo comprovar e sentir que sem ele, as coisas vão bem, obrigado.
Vai, Brasil!!!!!!!
Que venha mais um título mundial!!!
por @thiago_blum / @surf360_
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