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Nova estrela? Conheça Coral, neta de astro olímpico e filha de bicampeão

Filha do bicampeão mundial Phil Rajzman, pequena é fascinada por surfe - Acervo pessoal
Filha do bicampeão mundial Phil Rajzman, pequena é fascinada por surfe Imagem: Acervo pessoal

Colunista do UOL

17/09/2022 04h00

Neta de medalhista olímpico e filha de bicampeão mundial: a pequena Coral, de 2 anos, tem inegavelmente DNA de atleta.

A pequena é fruto do relacionamento de Phil Rajzman, um dos maiores surfistas do Brasil, com Julli Roldão. A influência do pai é direta e, desde os oito meses, ela pratica natação.

O surfe também entrou cedo na vida de Coral. "A primeira onda dela foi com dez meses. Ela pegou onda antes de andar", revelou a mãe. Desde então, a criança não dispensa uma sessão com o pai.

Mas antes de cair no mar e se aventurar com a Coral, é preciso voltar algumas décadas no tempo e contar um pouquinho da caminhada desta família.

Dependendo da sua idade, o sobrenome Rajzman pode dizer alguma coisa — ou muito, se você conhece um pouco das histórias do vôlei e do surfe no Brasil.

Bernard Rajzman, o avô da pequena, foi craque... mas em outro esporte: ele foi um dos principais nomes da chamada "Geração de Prata", primeira seleção do vôlei brasileiro a subir no pódio em uma Olimpíada.

Ao lado de Willian, Renan, Xandó, Montanaro, Amauri e Bernardinho, Bernard marcou época nas quadras. Sob o comando de Bebeto de Freitas, foi vice-campeão mundial em 1982 e olímpico em 1984, nos Jogos de Los Angeles.

Caso ainda você não tenha ligado o nome à pessoa, vale lembrar que Bernard é o criador de um dos lances mais icônicos de todos os tempos: o saque "Jornada nas Estrelas", que fazia a bola ir ao "espaço" antes de cair com tudo para atrapalhar a recepção adversária.

Depois do ouro no Pan de 1983 e de seis títulos sul-americanos, o atleta foi colher as vitórias também na praia e se tornou o primeiro brasileiro indicado para integrar o Hall da Fama nos EUA. Hoje, ele é membro representante do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Bernard e Phil Rajzman, ex-jogador de vôlei e surfista de longboard, são pai e filho - Arquivo pessoal/Phil Rajzman - Arquivo pessoal/Phil Rajzman
Bernard e Phil Rajzman, ex-jogador de vôlei e surfista de longboard, são pai e filho
Imagem: Arquivo pessoal/Phil Rajzman

Metade praia, metade quadra

Phil, o primeiro filho de Bernard, cresceu em meio ao universo do vôlei... Mas a paixão foi a água. Ele tem o perfil clássico de quem chamamos de "waterman".

Surfista brasileiro Phil Rajzman durante o Longboard Classic New York, em 2019 - Jackson Van Kirk/WSL - Jackson Van Kirk/WSL
Imagem: Jackson Van Kirk/WSL

Diferente do pai, escolheu o surfe. Igual a ele, porém, ganhou o respeito e admiração dos rivais, cravou o "Rajzman" para sempre e coleciona troféus.

Se hoje falamos muito de Gabriel Medina, Adriano de Souza, Italo Ferreira e Filipe Toledo, foi Phil o primeiro brasileiro campeão mundial nas ondas: conquistou, em 2007 e em 2016, a WLT (World Longboard Tour).

Diferente dos ídolos de hoje, o carioca de 40 anos desbravou o planeta com pés nos pranchões, os longboards. O início, no entanto, foi pegando jacaré no pescoço do pai. Aos quatro anos, ganhou um bodyboard; aos sete, a primeira prancha própria. E nunca mais parou...

Próxima geração

O legado deve continuar com Coral, parceira frequente do pai nas ondas. A mãe, Julli, nasceu em Goiás e foi criada em fazenda nadando em rios. Ela só passou a ter contato com o surfe, de fato, ao conhecer o marido. Uma ligação definitiva na formação da filha.

Coral nasceu em Búzios (RJ), e a casa pé na areia foi o convite ideal para a paixão pela praia. Como a mãe, também incorporou o surfe na rotina. Tudo ficou mais fácil.

"A gente sempre teve isso em mente, que ela tivesse o contato com a água da forma mais natural e o mais rápido possível. Começou na natação aos oito meses: foi a imersão dela no universo aquático. Essa conexão com o oceano sempre ficou pro Phil por ter essa história de vida com o surfe", lembrou Julli.

Julli e Phil são pais da pequena Coral, de 2 anos e 8 meses - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Julli e Phil são pais da pequena Coral, de 2 anos e 8 meses
Imagem: Acervo pessoal

A maioria das crianças tem os primeiros contatos com a arte pintando ou desenhando. Mas para a Coral, o lápis de cera e o pincel foram substituídos pela ferramenta fundamental para poder se manter em pé nas pranchas.

"Ela ama passar parafina. Ela acha que é como um quadro, o giz no quadro. Se o Phil estiver passando longe e ela ouve o barulhinho, vai correndo... desde pequenininha. Está sempre rodeada de coisas do surfe... sempre brincando em cima das pranchas e com o estrepe [cordinha que vai no pé]", disse a mãe.

Passatempo de Coral é surfar ao lado do pai, que é bicampeão mundial - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Passatempo de Coral é surfar ao lado do pai, que é bicampeão mundial
Imagem: Acervo pessoal

"Quando ela tinha dez meses, fomos para Jericoacoara (CE). Já tinha coletinho, estava entrando mais na água e a gente sabia que ali poderia ser o lugar perfeito para o Phil fazer a primeira sessão de surfe com ela. Ela pegou onda antes de andar. Depois, a gente foi fazendo disso um hábito em Búzios, sempre que está tranquilo e com as condições favoráveis".

Mas com criança a gente sabe: diversão nunca é demais. E como em qualquer educação, é preciso colocar limite, senão a Coralzinha se joga mesmo.

"Ela ama ver o pai surfar, mas fica louca para ir, associa que sempre tem que ir. Às vezes o mar está grande, não dá e ela chora, fica chateada. Fica ali esperando a hora que vai ser chamada. Eles treinam muito isso em casa e ela adora ginástica olímpica, então eles fazem o 'tanden', que é quando homem e mulher surfam juntos. Assim que começaram, Coral passou a ter o hábito de ficar em cima da prancha e dar tchauzinho. Então, quando está na praia, todo mundo fica dando tchauzinho pra ela", contou Julli.

"Coral é artista, puxou os pais e os avós, adora uma plateia", completou Phil.

Do Brasil para os EUA

Por causa das competições do mundial da World Surf League, a família Rajzman voltou para a Califórnia. Com a mudança para a famosa Newport Beach, a areia e as ondas deixaram de ser uma extensão da casa, e a Coral sentiu um pouco no começo. Mas a cada ida para a praia é uma curtição.

"Aqui, ela fica encantada porque tem muito mais gente de várias idades surfando e ela adora ver todo mundo na água. Outro dia, observando uma pessoa, me disse: 'mamãe, ele rema direitinho'. Acha muito legal quando eu vou também, e fica gritando:'uhu, mamãe... uhu, papai'. Sempre quer ir surfar".

Famílias que aumentam os laços salgando o corpo nas ondas brotam com frequência nos litorais daqui e do exterior. Os irmãos Miguel e Samuel seguiram os passos de Wagner Pupo e estão juntos no top 10 do ranking da elite da WSL.

Neco e Teco Padaratz brilharam no circuito; tem o trio Paulinho, Neno e Amaro do Tombo... Picuruta e Almir Salazar... Chumbo & Chumbinho.

Campeão mundial de 2022, Filipe Toledo é filho e irmão de surfistas.

Agora... está surgindo a segunda geração dos Rajzman. Ops... a terceira, né? Afinal, o vovô foi o responsável por transformar os mergulhos do pai da Coral nas águas cariocas, em paixão. E aí... foi só o talento encontrar o destino.

Por @thiago_blum