Depois do explosivo Maradona, Argentina agora perde o 'zen' Sabella
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Arquiteto do melhor resultado da Argentina em Copas nas últimas três décadas, o ex-técnico Alejandro Sabella morreu nesta terça-feira, em Buenos Aires. Ele tinha 66 anos. A informação foi confirmada hoje à tarde pelo jornal "Clarín".
Sabella estava internado desde o fim de novembro após sofrer uma arritmia a partir de um quadro de retenção de líquidos. Ele vinha apresentando piora em seu quadro clínico e chegou a ficar um período em coma.
Ele foi o treinador da azul e branca na Copa de 2014, realizada no Brasil e que terminou com a seleção em segundo lugar depois de perder para a Alemanha na prorrogação. Se Diego Maradona treinou a Argentina com toda sua típica explosão em 2010, Sabella, seu sucessor, apostou na diplomacia e nos estudos para se destacar na profissão.
Melhor aluno de suas turmas no colégio, estudou advocacia por dois anos na Universidade de Buenos Aires, a mais concorrida da capital.
Sabella atribuía a calma ao exemplo que teve na família. Sua mãe, Nelly, era professora, e seu pai, Jorge Luis, um estudioso do futebol que lhe incentivou desde a infância. Era observador e obsessivo, como o pai. Enquanto a mãe de Alejandro se trocava nos vestiários do clube no domingo à noite, o pai acendia os faróis de seu jipe para iluminar o gol onde brincava. Brincadeira no clube, seriedade na escola. Sabella não abandonou os livros nem quando jogava profissionalmente pelo River Plate - embora o coração, quando criança, fosse do Boca Juniors.
"Gosto de ensinar e de passar as ideias que aprendi. Me alegra mais que o dinheiro", costumava dizer. Por isso, não se importou em ficar à sombra de Daniel Passarella durante os anos como técnico do River Plate e no ciclo do ex-zagueiro na seleção, de 1994 a 1998.
Naquele Mundial, Passarella era onipresente, mas Sabella era quem raciocinava, como quando reorganizou a seleção, que estava prestes a ser eliminada pela Inglaterra em uma decisão só vencida nas cobranças de pênaltis.
O Estudiantes de La Plata - seu ex-clube como jogador, meia elegante também de River e Grêmio, entre outros - foi o único que dirigiu. Logo na primeira competição, ganhou a Libertadores da América de 2009 derrotando o Cruzeiro em pleno Mineirão. No Mundial de Clubes, esteve a dois minutos de bater o Barcelona de Messi. Seguiu na equipe até 2011, quando assumiu a seleção argentina no lugar de Sérgio Batista.
Na infância, seu apelido era "Cabeção", pela inteligência. Adulto, virou o "Pachorra", o "soneca", pela tranquilidade. Depois da Copa de 2014, afastou-se do trabalho para recuperar-se de um problema no coração. E nesta terça, deixou o futebol argentino ainda mais triste.
No Corinthians com Tevez
Sabella passou pelo Corinthians, em 2005, quando assumiu boa parte das responsabilidades do chefe Daniel Passarella. A dupla argentina foi demitida na esteira de uma goleada por 5 a 1 para o São Paulo. Passarella não deixou nenhuma saudade no Parque São Jorge, mas o "Alê", como era conhecido dentro do elenco corintiano, ganhou muitos amigos e admiradores.
Curiosamente, um dos poucos que não se mostravam fãs de Sabella era ninguém menos que um dos principais valores argentinos de sua geração, Carlos Tevez. E a recíproca era verdadeira: o então auxiliar de Passarella tinha paciência de monge budista com Betão e Gustavo Nery, mas torcia o nariz para o Apache, um atleta que considerava superestimado e cuja conduta
extracampo o desagradava.
Sujeito educado, discreto e tranquilo, Sabella jamais se esqueceu das dores de cabeça com o complicado Carlitos na concentração corintiana - e, na hora de montar seu grupo na seleção, isso ficou mais do que claro. Mesmo vivendo ótima fase no futebol europeu, Tevez ganhou poucas oportunidades e seria esquecido na lista dos convocados para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
Esquecimento
Sabella, que lamentou o "sabor amargo" do vice mas se disse orgulhoso da campanha argentina, passaria os anos seguintes bem longe da bola, aparecendo muito mais magro e aparentando chocante fragilidade numa imagem divulgada no terceiro aniversário da final do Maracanã.
Seus parentes nunca entenderam o pouco caso dos ex-jogadores. Conduzidos à final pelo afável Sabella, os vice-campeões mundiais jamais entraram em contato com a família ou foram visitar o ex-técnico em La Plata.
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