Luto e isolamento: como a aposentadoria de Tevez comove a Argentina
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A carreira de Carlitos Tevez pode terminar nesta quarta-feira (23). Depois de perder do Racing por 1 a 0 na semana passada em Avellaneda, o Boca Juniors precisa reverter o placar amanhã às 21h30 na Bombonera para avançar às semis da Libertadores e permitir que o camisa 10 siga atuando aos 36 anos.
Embora Tevez despiste publicamente, nos bastidores do Boca é dado como certo que ele vai pendurar a chuteira assim que terminar sua Libertadores e seguir no clube como dirigente para trabalhar com Román Riquelme, Patrón Bermúdez e outros ex-jogadores que hoje compõem diferentes comissões.
Vindo nesta quarta, o adeus de Tevez seria novo motivo de tristeza em uma Argentina já golpeada pelas mortes de Diego Maradona e Alejandro Sabella e pelas aposentadorias de Fernando Gago e Javier Mascherano neste 2020.
Até os rivais mais ferrenhos (leia-se "torcedores do River") concordam que Carlitos deveria encerrar sua trajetória no futebol com a Bombonera lotada - como esteve, aliás, quando ele voltou da Juventus para o Boca, em 2015, e nem jogo era. Um adeus melancólico, isolado, como o do colega D'Alessandro pelo Inter, é tudo o que o efusivo futebol argentino não quer.
A outra questão que faz o país seguir com ares de novela a sua aposentadoria é a imensa tristeza que abala Carlitos, cujo pai está internado em estado muito grave há 45 dias. Ele já admitiu que chorou em alguns intervalos de jogos desde então, e o técnico Miguel Ángel Russo já cogitou tirá-lo da equipe justamente por falta de condições emocionais. Tevez ficou muito abalado também com a morte do amigo Maradona. O luto pela perda do Diez ainda é pesado e persistente aos mais próximos, e não há ninguém no Boca atual, jogador ou dirigente, que tenha sido tão ligado a ele como Carlitos.
Com esta soma de tristezas, não se descarta que, contra o Racing, Tevez comece entre os reservas mediante uma nova conversa com o comandante xeneize. Quem convive com o jogador - que ainda é capitão do Boca - relata que ele anda abatido, cabisbaixo, falando pouco, preferindo ficar sozinho, com a cabeça longe de qualquer concentração esportiva (o que é plenamente natural em tamanha agonia).
Outra razão para Russo tirar o veterano e golpeado Tevez e colocar um atleta mais jovem e de mente fresca? A atuação do Boca na vitória por 2 a 1 de virada sobre o Independiente pela Copa Diego Maradona no último domingo.
O time atuou sem Tevez, poupado para o confronto contra o Racing, e rendeu melhor justamente no ataque. Soldano, autor do primeiro gol, com um feroz cabeceio, é o típico camisa 9 de área, algo que o time precisa e que Tevez nunca foi, nem em seus melhores momentos.
Entre os reservas de uma Bombonera sem público. Sendo este o ponto final da carreira de Tevez, nada mais triste, um retrato digno das letras mais amargas de Enrique Discépolo, o inigualável poeta do tango.
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