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Tales Torraga

Campeão mundial no Santos: as brigas de Almir Pernambuquinho pelo Boca

Almir (centro) salta e briga no Boca x Chacarita de 1962 na Bombonera - Reprodução El Gráfico
Almir (centro) salta e briga no Boca x Chacarita de 1962 na Bombonera Imagem: Reprodução El Gráfico

Colunista do UOL

11/01/2021 12h00

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O Santos recebe o Boca Juniors nesta quarta (13) com seu imaculado uniforme levando duas estrelas acima do escudo - e uma delas veio graças a Almir Pernambuquinho, substituto de Pelé e grande nome da finalíssima contra o Milan no Mundial de 1963, no Maracanã. Poucos sabem, porém, como foi sua passagem pelo Boca, o adversário da vez na semifinal de Libertadores.

Dos jogadores mais rebeldes e agressivos do futebol brasileiro (sua história está bem contada neste especial do UOL Esporte), Almir deixou o Corinthians e desembarcou em Buenos Aires em maio de 1961, contratado pessoalmente por Alberto Jacinto Armando, maior presidente da história do Boca (seu nome batiza oficialmente a Bombonera). Atacante, tinha só 23 anos e já era chamado pelos portenhos por um apelido que impressiona até hoje: "Pelé branco".

"O futebol argentino tentava se reerguer depois de fracassar na Copa de 1958, e uma das soluções foi contratar muitos jogadores do Brasil, país campeão daquele Mundial", conta à coluna Pablo Galeno, historiador que trabalha no museu xeneize. "O Boca teve cinco titulares brasileiros (Maurinho, Édson, Almir, Orlando e Paulo Valentim), além do técnico Vicente Feola."

Almir estreou no Boca em 14 de maio de 1961 - foi titular e autor do segundo gol do 2 a 0 sobre o Independiente na Bombonera. Atuou mais duas partidas, machucando o joelho e ficando quatro meses fora. O gélido inverno portenho chegava, e Almir, acostumado às praias e ao calor do Rio, pediu para ser operado no Brasil, o que foi negado pelo Boca. Sua estratégia para forçar a saída? Distribuir socos e chutes até nos treinamentos.

"Tem o perfil de boxeador. Muito violento", descreveu a revista El Gráfico que relatou sua volta à equipe em 3 de setembro, derrota de 2 a 0 para o Gimnasia. O joelho piorou, Almir jogou só mais uma vez (3 a 1 para o Boca ante o Racing) e precisou parar para enfim operar. "Agora sem continuidade, ninguém sabe se ele segue no clube", analisava a revista.

Almir continuou, mas resolveu sair do Boca à sua maneira. Na abertura do Argentino de 1962, contra o Chacarita na Bombonera lotada, protagonizou uma batalha campal a dez minutos do fim.

A El Gráfico narrou: "Almir começou a mancar aos 15 minutos, não conseguia jogar bem. Como não podiam fazer alterações, ele teve uma ideia muito particular para equilibrar o encontro. Entrou muito forte em um rival e terminou expulso. Depois, discutiu com outro do Chaca que lhe deu uma cusparada, e aí tudo foi golpes e empurrões. E Almir deixou o campo ovacionado".

A briga teve seis expulsões - duas do Boca e quatro do Chaca -, e a despedida de Almir do Boca terminou com vitória: 2 a 1. Com apenas seis jogos (e um gol), o clube se rendeu e o negociou com o Genoa, da Itália, pois a AFA lhe impôs um gancho de seis meses.

O Boca terminou aquele Argentino de 1962 com o título. Almir também foi campeão, pelo Santos no Mundial de 1963, e a El Gráfico então foi bem mais elogiosa: "O verdadeiro Pelé branco apareceu".

Quem também recebeu elogios no Boca foi Ayres, irmão de Almir, que chegou igualmente em 1961 e ficou no clube até 1965. Era lateral-direito reserva. "Esforçado, educado, não parecia irmão do Almir", conclui o historiador.