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Por que a Argentina aplaude capitão do Boca que não reagiu a tapa na cara
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"Frieza em pessoa", "lição para a vida" e "exemplo de profissionalismo". Foram essas as ponderações dos estridentes programas de futebol da TV argentina ao autocontrole do zagueiro Cáli Izquierdoz. Capitão do Boca Juniors em revezamento com Carlitos Tevez (que portava a braçadeira no domingo), ele levou um tapa na cara do seu colega de equipe Frank Fabra e não reagiu à agressão sofrida ainda aos 25 minutos do primeiro tempo.
O primeiro a se analisar na postura de Izquierdoz é o que os argentinos chamaram de "pensamento avançado": se ele revidasse à agressão, o árbitro expulsaria os dois e marcaria pênalti a favor do Talleres, porque a infração ocorreu na área xeneize. O Boca perdia por 1 a 0, e a forte discussão surgiu porque o zagueiro já havia pedido a Fabra, lateral-esquerdo, que não apoiasse tanto o ataque e o ajudasse na marcação do atacante Valoyes, autor do gol da vitória por 2 a 1 do time de Córdoba no segundo tempo.
Além da consequência esportiva, haveria também o papelão institucional. "Hoje, até capa de jornal da Alemanha falaria da bagunça que está o Boca", analisou o ex-zagueiro Oscar Ruggeri, comentarista da ESPN. "O Izquierdoz está de parabéns. Eu e 99% da Argentina não teríamos a mesma atitude que ele. Contou até 100, só pode."
O bom exemplo do zagueiro se ampliou com o passar das horas e com o acompanhamento minuto a minuto sobre a eventual punição que seria aplicada a Fabra. O canal de TV TyC Sports informou ainda que ambos tiveram um intervalo tranquilo e que o momento quente no gramado ficou por ali mesmo. Fabra, Izquierdoz, o técnico Miguel Ángel Russo e os demais jogadores se concentraram em alinhar o mau desempenho da equipe - o entrevero sequer entrou em discussão.
Outro medalhão do jornalismo esportivo argentino, Horacio Pagani, do próprio TyC Sports, ponderou que a ação não merecia tantas consequências; a pobreza do time em campo, sim: "O Boca jogou mal os 90 minutos e não chutou a gol diante do Talleres que venceu por 2 a 1 fazendo os três gols, um deles foi contra. O Izquierdoz também não pode sair cobrando o Fabra com os braços erguidos da maneira que cobrou. A presença do Marcos Rojo no banco está fazendo mal a ele. E isso foi um tapa ou um empurrão no rosto? Decidam-se", falou, quase gritando, como sempre.
Com postura claramente elogiosa a Izquierdoz, a opinião da imprensa e do público argentino exige sanção exemplar a Fabra - e há quem defenda até a expulsão do clube, em que pese sua recente renovação de contrato até junho de 2023 (cláusula de saída de US$ 18 milhões).
"Se sou o Izquierdoz, digo ao técnico e ao presidente que a partir de agora sou eu ou ele, e exijo que o time o mande embora", cravou Ruggeri. Sebastián Vignolo, apresentador do F90, programa de futebol mais visto da TV argentina, ponderou o mau exemplo do lateral: "Meu sobrinho de 10 anos me perguntou por que um companheiro de time estava batendo no outro. Será que este soberbo do Fabra não pensa nessas coisas? Este é um dos times mais seguidos do mundo, como alguém pode fazer isso? Que moral o clube tem para educar os juvenis se os profissionais fazem isso?", questionou.
A diretoria não sinalizou nenhuma punição, até porque o Boca volta a campo já amanhã, às 21h10 (de Brasília), em La Plata, contra o Defensores de Belgrano pela segunda fase da Copa Argentina (versão vizinha da Copa do Brasil).
Sempre acessível à imprensa para pesadas críticas à gestão anterior nas derrotas para o River Plate, Juan Román Riquelme, vice-presidente de futebol do Boca, completou recentemente 14 meses no cargo e jamais concedeu uma entrevista. Estranho é pouco.
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