Como o técnico Gago tenta transformar a concentração em um lugar de estudos

Volante estiloso de Real Madrid, Boca Juniors, Roma, Valencia, Vélez Sarsfield e seleção, o argentino Fernando Gago, 34 anos, estreou como treinador há apenas três meses e está aproveitando a mudança de carreira para inovar. Treinador do Aldosivi, da inspiradora Mar del Plata, ele disputa a Série A em seu país e já recebe elogios. A AFA (Associação de Futebol Argentino), por exemplo, o escolheu como o treinador do país em fevereiro.

Sua campanha nem é das mais vitoriosas (2 vitórias, 1 empate e 3 derrotas), mas o estilo tem chamado atenção pela criatividade. "Desloco o adversário até surpreendê-lo", define ele, que também surpreende com suas metas: "É meu dever que os atletas usem o tempo para estudar e evoluir como pessoas".

A coluna o ouviu para conhecer suas iniciativas. Os melhores trechos:

GRUPO DE ESTUDOS NA CONCENTRAÇÃO
"Como o Aldosivi acolhe muitos talentos, todos jovens, uma das minhas preocupações com a diretoria é formar um grupo de estudos que acolha todas as necessidades de instrução. A tecnologia hoje facilita muito o ensino. Temos tempo livre e temos as ferramentas, então por que não se aperfeiçoar? Eu mesmo estou sempre estudando. Comecei agora como técnico e o que mais faço é estudar. Apoio e instruo os jogadores a fazer o mesmo. O futebol é um ambiente onde o contágio pode ser positivo e todos podem se incentivar. Mesmo quem não tem afinidades com o estudo pode mudar de opinião vendo tantos colegas se aprimorando. O futebol é uma profissão, todos aqui estão tentando melhorar, e esta evolução pode ser também humana."

LEGADO
"Não quero ser lembrado como o técnico que fez o time ganhar três ou quatro partidas. Quero que os jogadores daqui a três ou quatro anos lembrem o que eu passei para eles. E de preferência usem. Essa nossa experiência conjunta é muito valiosa para todos."

GESTÃO DE GRUPO
"O técnico hoje é um gestor. Sem a menor dúvida. No Aldosivi, no Boca Juniors ou no Real Madrid, o vestiário é formado por seres humanos. Alguns jogadores são mais calados, outros mais expansivos. Com alguém específico você precisa explicar muitas vezes, com outros você não precisa falar nada porque assim ele vai se sentir mais cômodo. É esta gestão que vai permitir que haja o trabalho técnico e tático. Tudo tem seu espaço. Não coloco uma coisa acima da outra. Os resultados também têm sua importância, isto não é discurso vazio. São as vitórias que nos dão confiança para seguir adiante."

EXEMPLOS COMO TÉCNICO
"Gabriel Heinze [seu treinador no Vélez] me inspirou demais. Sabia mesclar a intensidade e a intimidade exata para trabalhar em grupo. É um técnico e um amigo. Trabalhar com ele foi muito especial."

DIÁRIO
"São extratos de conversas e de estudos [Gago é famoso na Argentina por carregar sempre um caderno de anotações]. Seria um desperdício conviver com tanta gente interessante e perder tantas lições. Todos sabem que me lesionei demais [seis lesões graves nos últimos seis anos de carreira], e escrever era uma das formas que eu tinha de lidar com tudo o que estava acontecendo, fazendo daquilo um aprendizado."

PONDERAÇÃO
"É o meu jeito. Quando eu jogava, não gostava que ex-atletas falassem de um grupo de trabalho onde eles não viviam a rotina para opinar. Hoje faço o mesmo como técnico. Sou cuidadoso com as palavras. Você precisa convencer rapidamente seus jogadores, e uma das melhores maneiras é com boas palavras. A fala é uma atitude. E também uma das principais formas de respeito. Sempre temos formas mais inteligentes e ponderadas de abordar até mesmo os conflitos."