Enfrenta o Galo: Por que o apelido do River Plate na Argentina é "Galinha"?

Clube famoso no mundo todo por sua história, o River Plate recebe amanhã (11) o Atlético-MG, conhecido no Brasil todo como "Galo". O curioso é que a equipe portenha tem apelido semelhante, mas de origem pouco conhecida.

Foi na final da Libertadores da América de 1966 que o River passou a ser chamado pelos rivais de "galinha". O clube de Núñez era favorito ao título e tinha um timaço com craques da época como Amadeo Carrizo, Jorge Solari, Ermindo Ortega, Luis Cubilla, Daniel Onega e Pinino Más, e perdeu a final para o Peñarol de Pedro Rocha, atacante que seria depois ídolo do São Paulo.

No jogo de ida, em Montevidéu, os uruguaios venceram por 2 a 0, e o River manteve a decisão aberta com um 3 a 2 no Monumental de Núñez abarrotado. Foi disputada então uma terceira partida, em Santiago, onde o River vencia por 2 a 0 já no intervalo, gols de Onega e Solari. O Peñarol buscou o empate aos 26 do segundo tempo e levou para a prorrogação, conquistando uma vitória por 2 a 0 no tempo extra (gols de Spencer e Pedro Rocha).

Surpreendentemente derrotados, os jogadores do River contaram com uma gozação histórica no jogo seguinte na Argentina (fora de casa ante o Banfield).

Quando o River entrou em campo, um torcedor do Banfield soltou uma galinha branca com uma faixa vermelha, reproduzindo o emblemático uniforme. A ave foi chutada para longe pelo atacante Más e depois sacrificada no vestiário do Banfield, o que hoje certamente geraria um escândalo mundial.

A brincadeira teve enorme repercussão nos estádios e na imprensa argentina, a ponto de o inventor da gozação jamais ter revelado seu nome com medo de ser agredido pela torcida do River. Chegou a receber ofertas polpudas para aparecer em programas de TVs, mas sempre respondia: "Isto não paga o que vai acontecer comigo". Ele está com 80 anos e continua exigindo anonimato.

Como o River patinava nos gramados (quebrou o tabu de 18 anos sem títulos só em 1975) e somava 11 vices, o apelido ganhou fama nacional, para desespero dos torcedores da equipe vermelha e branca.

A gozação gerava cenas constrangedoras, como em um Chacarita x River em 1984. Com o River perfilado para a foto, os torcedores do Chaca soltaram uma galinha na frente do time e o goleiro Pumpido, campeão do mundo dois anos depois, chutou a ave para longe, a matando, segundo os relatos da época.

O mote perdeu a graça com as conquistas do River nas Libertadores de 1986 e 1996, e depois disso os próprios torcedores do River passaram a se auto intitular "galinhas". Nas arquibancadas do Monumental de Núñez, daí para frente, era comum ver fãs fantasiados de galinhas, e até as músicas da torcida faziam referência à ave como "Señores, yo soy del gallinero" (Señores, eu sou do galinheiro", outro apelido para o Monumental de Núñez), ou "Huevos de oro", pela valentia dos jogadores, que jogavam com "testículos de ouro".

O clube, claro, farejou até uma oportunidade de negócios, a de vender ovos de páscoa oficiais. Muitos deles foram comprados por torcedores do River e entregues a colegas fãs do Boca Juniors como gozação pela vitória na final da Libertadores-2018, principal jogo da historicamente louca rivalidade argentina.