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Choro, socos e lotação: a volta da torcida no River x Boca vista de dentro
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Com Ezequiel Galeno e Gastón Cirigliano, no Monumental de Núñez
Estamos na Sívori, arquibancada atrás do gol do Rio da Prata, abaixo do histórico placar. Gente aqui perto não para de chorar. As lágrimas aumentam no minuto de silêncio pelas vítimas de covid-19. Dizem que o Monumental de Núñez é, na verdade, a "Catedral de Núñez" pelo fervor dos súditos. Hoje, a troca de nome seria apropriada. A emoção desborda como poucas vezes.
(Depois de 582 dias, o Monumental abriu seus portões às 14h, três antes do superclássico. Os primeiros a entrar beijaram o chão e pularam as escadas como crianças. Em prantos. Pela volta à casa e pelos que não estão. A tarde portenha é esplêndida. São 17 graus e um solzinho tímido cor de milonga.)
Entrar foi difícil. Pediam para mostrar um carnê de sócio, o ingresso e os registros comprovando a vacinação no site do governo. É claro que nem tudo funcionou e muita gente ficou fora, outros forçaram a entrada e voaram um "par de piñas" entre torcedores e seguranças [gíria em castelhano que significa "sair na mão"]. Muita ansiedade e muito medo de ficar fora. Querer que os leitores das catracas funcionem sempre na Argentina é pedir demais.
(O efetivo para trabalhar neste River x Boca foi de cerca de 2.000 pessoas, somando policiais e seguranças contratados pelo clube. Os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde e pelo River exigiam o plano associado do clube em dia e um comprovante de vacinação. As máscaras eram recomendadas, mas sem obrigação. A Argentina é um dos países mais fumantes da região. O consumo de tabaco e maconha nos estádios é amplo. Pouca gente, de fato, com o "barbijo", como os portenhos chamam a máscara.)
Disseram que limitariam o público em 50% do estádio, mas tanto daqui onde estamos, como na TV, a sensação é de bem mais gente. Para entrar, com o tumulto, a aglomeração já causava medo e estranheza. Esta é uma falha grave de protocolo. Levamos mais de um ano e meio sem entrar no estádio, e há o risco sério de esse direito deixar de existir em mais uma semana, se a coisa descambar assim. De quem é a irresponsabilidade? De quem invade? Ou do clube que faz tudo para faturar?
Isso é tema de discussão no intervalo, mas é assunto secundário. O River já ganha por 2 a 0, e o Boca joga com um a menos depois da expulsão descabeçada do Marcos Rojo aos 16 minutos. Pinta uma goleada. Seria para consagrar. Voam bexigas brancas e estão acesas fumaças vermelhas.
O tema da máscara também é sério. Muita gente não está nem aí. Acham que é um acessório para gozar os jogadores do Boca. Os torcedores do River mais maldosos se referem aos rivais como "bosteros", que são sujos e cheiram mal, e a máscara vem a calhar para esta gozação, pelo menos para muitos.
(De todas as estimativas publicadas na Argentina, a mais embasada era a do jornal "Olé", que percorreu o Monumental e contou cada setor. O público permitido oficialmente era de 36.027 pessoas, e mais 5.000 sócios vitalícios. Quase 41.500 do total da capacidade atual tratada pelo River de 80.000 espectadores depois da remodelação. O cálculo do "Olé" contava como público presente total 52.000 a 53.000 pessoas, perto dos 70%. Arquibancadas abarrotadas. Entrou gente sem ingresso? Por que o protocolo não foi respeitado? As rádios portenhas invadiram a madrugada nisso.)
A goleada não veio, mas a vitória por 2 a 1 fechou perfeita. A euforia era tanta que mais gente voltou a se socar, mas não para agredir, era quase uma saudação, estilo show de rock. Os gritos de "Gallardo es de River, y de River no se va" coparam a saída em direção aos carros, táxis e ônibus. E ainda houve a despedida do supercapitão Ponzio. Os jogadores enlouqueceram e cantaram com a torcida pedindo "um minuto de silêncio para o Boca que está morto".
Li aqui nas redes sociais que é uma gozação pesada, que a brincadeira deveria ser evitada pelas vítimas da pandemia. Será? Rolo a tela e já há outra reflexão coerente. Quando estudarem a pandemia e a volta do público aos estádios, estará lá mais uma vitória contundente do River sobre o maior rival.
Ou já seria ex-rival?
E histórias não faltam...
No podcast Futebol sem Fronteiras #21, o "trio elétrico" Julio Gomes, Jamil Chade e Ariel Palacios fala sobre a grandeza do River x Boca com ótimas histórias e muita informação. Confira aqui!
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