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Filho de Rincón luta contra racismo na Argentina: 'Não tenho medo de nada'
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Era 30 de janeiro de 2020. No quente Vélez Sarsfield 1x1 Aldosivi, Sebastián Rincón —filho de Freddy Rincón, ex-Palmeiras, Corinthians, Santos e Cruzeiro— ouve insultos racistas da arquibancada do Vélez. Ele chama a atenção do árbitro, que não interrompe o jogo que dá o que falar até hoje na Argentina.
Uma das razões que fazem esta partida comum, de metade da tabela, seguir rendendo, é a postura de Sebastián, que é atacante, está com 27 anos, mede 1,80 metro e é, segundo os companheiros, "intimidador" em campo. E bem tranquilo fora dele para se expressar sobre o tema que está sempre em discussão na imprensa: o que fazer para que tais ofensas racistas não surjam mais nos gramados argentinos.
Até mesmo na apresentação do seu novo clube, o Huracán, o Rincón filho foi consultado sobre o tema que ganha relevância com o passar do tempo —a ponto de o portal Infobae, o mais importante da Argentina, dedicar ao colombiano um grande espaço.
"Não sou de me deixar levar por essas coisas. Para mim, é o jeito que as pessoas tentam me desconcentrar. E eu nunca vou permitir que alguém que eu não conheça me tire o foco", disse Sebastián ao portal. "Este dia [do Vélez x Aldosivi] estávamos perdendo, era um jogo quente, e a torcida do Vélez estava tentando empurrar o time, mas desta maneira."
Maturidade
Uma das razões de Rincón falar repetidamente sobre o racismo é a sua ponderação ao tratar do tema: "Quando aqui me chamam de negro, não vejo que tenha uma conotação negativa, porque gostam demais das pessoas de pele negra. Meus amigos e companheiros me chamam assim e está tudo bem. Senti muito carinho das torcidas do Tigre e do Aldosivi. E em casos como este do Vélez, eu tento não reagir. Ficou por isso mesmo", seguiu ele, que tem no Huracán seu quarto clube na Argentina. Antes, na ordem, foi atleta de Tigre, Aldosivi e Sarmiento.
"O racismo sempre vai existir, infelizmente. A discriminação não é só contra os negros, mas contra os homossexuais, os árabes, asiáticos e todas as minorias. Cada um tem de buscar a maneira de reagir com um sorriso ou até mesmo com ignorância esse tipo de agressão. Hoje, quando estou em campo, penso que quem me enxerga assim tem medo, porque represento uma ameaça a ele e ao time. E eu não tenho medo de nada. As agressões? Tento convertê-las em gasolina para me motivar e calar a boca, mas tudo o que servir para conscientizar e frear essas agressões sem dúvida é muito positivo."
O negro na Argentina
Em junho, uma frase do presidente argentino, Alberto Fernandez, ecoou o mito do branqueamento na Argentina, que apaga indígenas e negros. "Brasileiros saíram da selva, argentinos chegamos de barcos", bradou Fernández, lembrando que o racismo é estrutural no país vizinho.
A "Folha" publicou um excelente texto a respeito assinado por Idelber Avelar, respeitado professor de estudos latino-americanos e autor de diversas obras sobre a Argentina.
Impossível não prestar atenção neste trecho (e paramos por aqui porque a publicação completa merece leitura):
É caudalosa a documentação recolhida pela antropologia e pela historiografia argentinas sobre a vibrante vida afro-portenha no século 19 (veja-se, por exemplo, "Aspectos de la Cultura Africana en el Río de la Plata", de Néstor Ortiz Oderigo, obra já clássica de 1974).
No censo municipal de 1778, negros e negras totalizavam 30% da população de Buenos Aires (7.256 de 24.363). O censo de 1810 registrou porcentagem semelhante: os afro-argentinos eram 9.615 entre 32.558 habitantes.
Pelo censo de 1838, já na época da Confederação Rosista, os afro-argentinos eram 13.967 e representavam um quarto da população do município. Meio século depois, pelo censo de 1887, Buenos Aires já não era uma aldeia, contava com 433.375 habitantes, mas destes apenas 8.005 (ou seja, menos de 2%) eram negros e negras.
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