O que a torcida argentina cantou contra o Brasil para ser punida pela Fifa?

A Fifa anunciou ontem (7) que a Argentina será punida com um jogo com público reduzido, além de multa de R$ 300 mil, por "comportamento discriminatório de torcedores" na partida contra o Brasil, em novembro do ano passado, pela 14ª rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar. O jogo terminou empatado em 0 a 0 no Estádio Bicentenário, em San Juan.

A Fifa não explicou qual será a limitação de capacidade de público (mês que vem contra a Colômbia em Córdoba) e tampouco especificou o ato dos torcedores da Argentina diante da seleção brasileira que provocou a punição. O UOL Esporte entrou em contato com a entidade — a coluna também, e o motivo da punição será detalhado assim que houver resposta.

Dois 'cânticos'

Habituada ao fervor das arquibancadas argentinas há 12 anos, a coluna reviu a íntegra do 0 a 0 entre Argentina e Brasil com narração local e alto som ambiente para ouvir os "cânticos" (como argentinos chamam as canções de torcida) que teriam gerado a punição da Fifa. E há dois deles que ajudam a entender a sanção, mesmo com o silêncio da entidade até aqui.

Ambos são tradicionais nos confrontos entre brasileiros e argentinos no país vizinho, mas a punição atual reflete a menor tolerância da Fifa com tais comportamentos, pois cerca de 50 países já sofreram sanções semelhantes. O México, por exemplo, precisou jogar contra a Jamaica em setembro com portões fechados por gritos homofóbicos.

No primeiro tempo, a torcida incentivou a Argentina com o tradicional "Siga, siga / Siga el baile al compás del tamboril / Que esta noche nos cogemos a los putos de Brasil". Uma tradução livre seria: "Siga, siga / Siga o baile no compasso do tamborim / Que esta noite nós fodemos os putos do Brasil". Esta canção foi popularizada na Copa do Mundo de 1978, quando Argentina e Brasil também empataram por 0 a 0 na "Batalha de Rosário".

Na segunda metade de jogo de San Juan em novembro foram ouvidas também abreviações desta canção, "Nos cogimos a los putos de Brasil", e "A estos putos le tenemos que ganar", como relatou também a reportagem do UOL, que acompanhou o jogo nas arquibancadas do Estádio Bicentenário.

Terceiro jogo seguido com insultos

De acordo com a sanção disciplinar divulgada ontem (7) pela Fifa, a punição argentina pode aumentar de um jogo com público reduzido para um jogo totalmente sem público caso haja reincidência dos tais comportamentos discriminatórios dentro de dois anos.

A perspectiva de ampliação do gancho ocorre pela repetição do comportamento do público argentino, que já havia sido alertado depois do confronto contra o Bolívia, no último 9 de setembro, e punido contra o Uruguai, em 10 de outubro. Os dois jogos ocorreram no Monumental de Núñez, tratada pelos portenhos como a "tradicional casa da seleção argentina".

As então ofensas dirigidas aos uruguaios os tratavam como "provincianos", em especial o goleiro Muslera a cada cobrança de tiro de meta. Por isso, a AFA foi multada na ocasião em 33.000 dólares (cerca de R$ 185.000).

Hermanos (?)

Quem lê a coluna sabe que um dos focos da nossa cobertura é a relação entre Brasil e Argentina — em especial no futebol. Um dos mais completos materiais sobre o assunto foi publicado neste texto aqui de 3 de agosto do ano passado.