Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Galo campeão, vida em BH e Libertadores: Turco Mohamed se abre em 'resenha'
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Mais que um técnico competente, Antonio "El Turco" Mohamed é um personagem e tanto, que se abre como poucos nas conversas com a imprensa argentina. Ontem (21), à Rádio La Red, uma das principais de Buenos Aires, ele passou 18 minutos na hora do almoço rindo e contando aos portenhos como havia sido o título do Atlético-MG na Supercopa do Brasil.
Relaxado, soltando inclusive alguns palavrões no ar, Mohamed aproveitou até para cantar um tango de 1942, "El sueño del pibe" ("O sonho do menino"), com Gustavo López e Leonardo Gentili, dois dos maiores nomes do rádio esportivo argentino. "Esta vou colocar na playlist para ouvir antes dos jogos", brincou ele.
A longa "resenha" entre os argentinos rendeu interessantes análises sobre o futebol que se joga hoje no Brasil e sobre a Libertadores da América que promete ser histórica.
A coluna reproduz os principais trechos do papo de Mohamed com a La Red.
Título da Supercopa
"Não dormi quase nada. O jogo foi em Cuiabá, levamos duas horas de avião, chegamos a Belo Horizonte às 2h30, 3h da manhã, dormimos um pouco e tomamos um cafezinho."
"Começamos bem no clube. É o começo sonhado. Tínhamos um pouco de pressão, o time vinha ganhando no ano passado, e enfrentar o Flamengo, com todas as estrelas que eles têm, é um bom parâmetro. Fizemos um jogaço. Nos 90 minutos merecíamos mais, e depois, tivemos a loucura dos pênaltis."
"A gente, que já passou dos 50 anos, tem de fazer exame do coração, a decisão [por pênaltis] foi um exame constante. Nem sabia o que fazer! Por mandinga, eu olhava para o telão, para a torcida, para o chão, não sabia o que fazer. Na quinta cobrança, disse: 'essa tem que ser nossa'. Não depende de nada que eu possa fazer, estava ali sofrendo, como um torcedor. Já nem escolhia o batedor, porque depois do quinto, escolhem os jogadores."
"É difícil. Depois do sétimo pênalti [somado], gritei para não tirarem as chuteiras, porque parecia que seria longo. Você pensa: 'os brasileiros não erram tantos pênaltis'. E aconteceu."
Rivalidade
"Atlético x Flamengo é um clássico que se gerou. Há muita história, vou sabendo, com jogadores de seleção. Lembram-se de 1982 na Argentina, Estudiantes x Independiente? Algo assim. Com muita competição, muita rivalidade, mas aqui o torcedor está feliz, esperamos seguir felizes."
"Festejamos cinco vezes! As quatro que o Flamengo errou, estávamos fora. É como uma definição por pênaltis que a gente erra os quatro primeiros, você diz: 'não pode ser, não podemos ganhar'. E foi assim. Erramos todos seguidos, mas o time fez um jogaço, sempre controlamos a bola, na verdade foi um jogaço."
Elenco
"Temos um timaço. Na final entrou o Vargas, nos ajudou bastante, pena que o Zaracho se machucou, mas acho que na semana que vem ele já está disponível."
"Temos o Vargas, Hulk, muitos jogadores de bom nível. É complicado quando tenho todos e preciso armar o time. Tenho 17 ou 18 titulares. Não é fácil, mas por isso trouxeram a gente, para escolher os melhores e dar funcionamento."
Libertadores
"As diferenças que noto entre Brasil e Argentina? Aqui, pelo menos, temos um time que joga muito bem, joga muito curto, assume bastante risco com a bola, e a Argentina não está tão acostumada a isso. Isso me chama atenção. É ótimo. A equipe tem esta identidade e para mim é um aprendizado. E depois, os jogadores são iguais aos argentinos no vestiário. Sofrem, fazem mandingas, vivem igual, sofrem igual, são muito parecidos, mesmos medos, mesma vontade de ganhar."
"Se os brasileiros estão acima dos argentinos? Não acho. Hoje, com Boca e River se reforçando, está tudo parelho. No ano passado, Boca e River não tiveram público no estádio, esse 'plus' não houve na Libertadores passada. Está tudo equilibrado. Vai ser uma Libertadores bárbara. Do Brasil, além do Atlético-MG, tem Palmeiras, Flamengo, Corinthians. Todos têm timaços."
Pensa em comandar a seleção argentina?
"É uma questão de geração. E está ótimo que Simeone tenha sua oportunidade, Gallardo nem se fala, tomara que seja assim, que primeiro Scaloni vá muito bem, este é o meu pensamento [sobre sua geração já ter cedido espaço às seguintes]."
Nacho na seleção?
"Nacho é bárbaro, joga em todos lados. Tem muita dinâmica. Há muitos meio-campistas na Argentina. O Zaracho também. É completo."
Pavón
"[Diretores] Me comentaram que é uma possibilidade de que chegue em junho. Acompanhamos o que ele faz, sim, mas não me meto na inscrição pelo Boca ou não, é um tema dos diretores."
Curte a profissão ou sofre?
"A pressão quem põe sou eu. Sofri, sofri nos pênaltis, dizia 'puta que pariu', como pode ser que erramos tantos. E assim é o futebol, um tem que perder, e hoje o Flamengo diz o mesmo, como pode ser?, tivemos quatro chances de ganhar e foi o outro que ganhou, é tão fino o detalhe...Se perdíamos, era velório. E hoje é uma festa total."
"É tão fina a diferença, que a pressão é a gente que põe. Eu estou com meus colegas, tomando um café, aproveitando em Belo Horizonte, uma cidade que tem tudo e é muito linda, e já estou pensando em como armar o time para jogar na próxima partida. Por isso tirei este ano sabático [2021], para encontrar uma maneira de aproveitar, aproveitar o dia a dia, tudo."
"E se perdesse esta final, não sei se estaria curtindo. Todos nós acabamos sofrendo. Se você acerta a trave e entra, somos gênios, se acerta a trave e sai, somos idiotas. Tenho que buscar uma maneira de não sofrer."
"Hoje, com o futebol tão globalizado, o técnico tem que brigar pelo contrato 'até morrer' porque os técnicos são contratados para [a diretoria] justificar a derrota. E isso em parte é uma grande verdade, porque quando perde, o primeiro apontado é o técnico. Não o jogador. Muitas vezes, os técnicos acabam sendo responsáveis de situações que não nos correspondem. Mas é a profissão e o trabalho, e temos que assumir."
"Na final, por exemplo, iria colocar o Alan e ele disse: não bato pênaltis. Valorizo isso. Os reservas me diziam: põe o Tchê Tchê, põe o Guga, para cobrar. Coloquei o Guga e ele errou. E se perdíamos neste detalhe, o que aconteceria? Ele bateu e errou. Sorte que o Flamengo também errou. São decisões muito rápidas, às vezes se acerta ou não."
"A avaliação de um técnico deveria ser como o time joga. Você vê dez jogos seguidos e diz se tem identidade, se joga bem, pode perder ou ganhar, mas se joga de uma maneira ou de outra. Mas ainda assim tento aproveitar."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.