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Demitido do Leeds, o que Loco Bielsa vai fazer agora?
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A última loucura de Marcelo Bielsa terminou mal. Demitido ontem (27) do Leeds United que treinava desde junho de 2018, o argentino percebeu da maneira mais dura que sua filosofia ofensiva era incompatível com o modesto elenco que comandava na implacável Premier League. Depois de sofrer 14 gols nos últimos três jogos, o Leeds agora corre sério risco de rebaixamento: é o 16º e tem dois jogos a mais que o primeiro time que hoje se safaria (o Burnley, em 18º, com só dois pontinhos a menos).
A demissão de Bielsa foi recebida com resignação em Buenos Aires, que preferiu destacar o bom trabalho do argentino à frente do clube que assumiu ainda na Segunda Divisão, e que sai agora como nome de rua e com uma aceitação praticamente unânime. O próprio presidente do clube, Andrea Radrizzani, disse que esta foi a decisão mais difícil que precisou tomar em todo o seu mandato.
O contrato de Bielsa iria até o final desta temporada e seu salário era o sétimo mais alto da Premier League: 9,5 milhões de euros anuais (cerca de R$ 53,9 milhões na cotação atual), de acordo com a lista publicada semana passada pelo jornal inglês "The Sun".
Livros e família
A coluna apurou que Bielsa não vai mexer na rotina que mantém quando termina um trabalho. Ou seja: vai parar, assimilar as últimas vivências e só depois aceitar receber propostas. Muito da sua fama de "Loco" tem a ver com as excentricidades que acompanham sua vida sempre que algo vai mal.
Quando a seleção argentina foi eliminada da Copa do Mundo de 2002 na primeira fase, por exemplo, ele se trancou por dois meses em um convento sem falar com ninguém. Depois, ainda ocupou a sua chácara nos arredores de Rosário fazendo o mesmo voto de silêncio, sendo visto apenas correndo a pé ao redor da sua propriedade.
Sem pressa para definir o futuro —está afinal com 66 anos e é técnico de time profissionais desde 1990—, Bielsa desta vez quer apenas se dedicar à família, muito provavelmente em Rosário, onde fica esta sua famosa casa de campo, e se entregar a um de seus vícios mais conhecidos — a leitura.
"Devo ser a pessoa que mais leu livros de futebol no mundo", costuma repetir, brincando e sem transformar o hábito em uma ostentação.
Bielsa sabe que a Copa do Mundo do Qatar, no final deste ano, vai mexer no intrincado xadrez dos técnicos que hoje comandam clubes e seleções. O argentino tem mercado aberto em vários continentes, e uma das possibilidades que mais tem a ver com o seu atual momento é a MLS, nos Estados Unidos.
O "Loco" nas últimas décadas tem preferido dirigir equipes pequenas nas quais a ascensão é acompanhada por uma forte revolução cultural na cidade onde trabalha. Foi assim no Leeds e era o caso também no Lille-FRA (em 2017) e no Athletic Bilbao-ESP (2011 a 2013). Sua passagem pelo Olympique de Marselha-FRA (2014-2015), no entender de muitos, também segue este raciocínio, em que pese a tradição do clube e do charme da localidade.
Uma outra hipótese já ventilada entre os jornalistas portenhos é que Bielsa seja colunista de um jornal argentino nesta Copa do Mundo. Comentarista na rádio ou TV, nem pensar. Sua aversão aos holofotes é histórica, ao contrário do seu apreço à palavra escrita, especialmente impressa. Seus amigos mais próximos brincam que vão ficar milionários ao editar e publicar seus densos e inteligentes e-mails com as pensatas sobre a vida e o futebol.
Também por isso, Bielsa espera nesta semana ser convidado pela Fifa para acompanhar a Copa do Mundo como observador — a entidade tradicionalmente seleciona técnicos de peso para seguir o Mundial de perto e depois produzir extensos relatórios usados internamente pela entidade.
E o Brasil?
Entre os muitos destinos possíveis para Bielsa, especular sua chegada à seleção brasileira hoje comandada por Tite faz sentido. O "Loco" cansou de elogiar o DNA do país para o futebol e tem as ferramentas necessárias para devolver a seleção ao protagonismo que já teve.
Embora a parte técnica soe interessante, imaginar um Bielsa obcecado e ultra exigente sob os desígnios da CBF tem ares de loucura de verdade. Sua última experiência em uma seleção, no Chile entre 2007 e 2011, foi marcada pela capacidade dentro das quatro linhas e por insanos conflitos com os dirigentes — e principalmente com os políticos do país.
Quem sempre fala maravilhas da passagem de Bielsa pela equipe nacional chilena são os profissionais de apoio, como os massagistas e roupeiros. É famoso na Argentina até hoje o auxílio financeiro que Bielsa aportava a tais ajudantes.
De acordo com a apuração da coluna, a volta de Bielsa ao futebol argentino é altamente improvável neste momento. Sua última experiência por lá foi justamente na seleção, em 2004. Embora muitos o respeitem e haja até o famoso "bielsismo", corrente que vive de acordo com os ensinamentos do "Loco", uma parte barulhenta da imprensa deprecia a sua trajetória com frases como "Ele precisa ser mais normal" e "Bielsa não tem culhões para ser campeão".
A única exceção nesta possibilidade é o Newell's Old Boys, onde despontou.
Bielsa tem mais que portões abertos no clube — o estádio simplesmente leva o seu nome. Dependeria única e exclusivamente da sua vontade para ser treinador ou até mesmo dirigente por lá. Marcelo até aqui não deu sinais disso — sua retribuição às oportunidades do começo de carreira tem a ver com doações financeiras. A última delas, de US$ 2,5 milhões (R$ 12,9 milhões), em outubro de 2018, permitiu ao Newell's modernizar o CT.
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