O VAR chega enfim ao Campeonato Argentino. Será o fim da 'catimba' vizinha?

Acostumada a viver o futebol com discussões intermináveis depois dos jogos, a Argentina estabelece hoje (31) um antes e depois na história do esporte mais popular no país. Cinco depois da estreia na Libertadores da América, o VAR será usado pela primeira vez em uma competição nacional, na oitava rodada do Campeonato Argentino (versão Copa da Liga Profissional).

Apesar de ser uma das grandes ligas do continente, a Argentina adota o árbitro de vídeo com considerável atraso. Países menos tradicionais como Paraguai e Equador já usam a ferramenta, bem como Chile, Uruguai e Colômbia. O Brasileirão conta com o VAR desde 2018.

Embora o discurso oficial argentino pelo atraso insista na "capacitação dos árbitros", a grande questão para implantar o VAR foi a escassa verba destinada ao sistema, além de uma boa dose de política.

Tradicionalmente favorecidos pelos árbitros, os clubes grandes do país — River Plate, Boca Juniors, Independiente, Racing e San Lorenzo — fizeram um esforço praticamente nulo para a chegada do juiz de vídeo.

Uma das teses que favorecem este entendimento é o VAR estrear justamente depois da rodada dos clássicos — realizada há duas semanas, com os grandes enfrentando seus "inimigos íntimos" na despedida da arbitragem tradicional.

Complicação infinita

O VAR argentino tem sido testado desde janeiro de 2019. A previsão inicial era implantá-lo no primeiro semestre daquele ano, e se passaram mais de três. Foram avaliados diversos sistemas e o escolhido foi o SimplyLife, da Bélgica, associado à Reftel SRL, empresa argentina de comunicação.

O trabalho nas cabines dos vídeos contará com um nome de peso: Mauro Vigliano, responsável pelo VAR na final da última Copa do Mundo, vencida pela França contra a Croácia.

Testes foram realizados nas últimas rodadas até o aval da AFA (Associação de Futebol Argentino) para a implantação a partir desta quinta (31), com o encontro entre Colón e Aldosivi, às 21h30 (de Brasília), no Cemitério dos Elefantes, em Santa Fé.

O prédio do VAR custou US$ 8 milhões (R$ 38,17 milhões) e está localizado dentro da sede da AFA, em Ezeiza, perto do aeroporto internacional portenho. É de lá que o VAR será operado e comunicado aos estádios, em sistema similar aos de Espanha e Estados Unidos.

A ordem é que os árbitros de campo sejam os responsáveis pelas decisões finais, e não o VAR. Uma outra instrução é que a partida tenha um fluxo natural e não sofra tantas interrupções — uma preocupação é com o sistema de comunicação remoto, que pode vir a apresentar problemas.

Outra instrução aos árbitros é "procurar elefantes, não formigas". O uso do VAR a princípio será na conferência de impedimentos, pênaltis e da bola atravessando ou não as linhas do gramado.

Os socos, pontapés e simulações que caracterizam o futebol argentino estão em xeque? A resposta virá a partir deste final de semana. A AFA insiste em "horas de voo" para aprimorar o sistema. E também avaliar como funcionará o humor de uma torcida que a cada dia ratifica sua condição de ser uma das mais apaixonadas e menos pacientes de todo o mundo.

Como anda o Campeonato Argentino

O Campeonato Argentino (versão Copa da Liga Profissional) disputou sete rodadas de um total de 14 rodadas desta fase de grupos. Os 28 times são divididos em duas chaves de 14 equipes — o jogo a mais é a "rodada dos clássicos", a única com confronto entre equipes de grupos diferentes, exatamente a última.

No Grupo A, os quatro primeiros que hoje se classificariam para as quartas de final seriam, pela ordem: Racing, Unión, River Plate e Defensa y Justicia. No B, Estudiantes, Boca Juniors, Tigre e Colón.