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40 anos hoje: Como a Guerra das Malvinas mudou a vida do volante Ardiles
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No dia 2 de abril de 1982, há exatos 40 anos, começava a Guerra das Malvinas, entre Argentina e Reino Unido, pela soberania das ilhas do Atlântico Sul. O então ditador argentino Leopoldo Galtieri ordenava a invasão do arquipélago, sob domínio britânico desde 1833, numa última tentativa de recuperar o espírito nacionalista e salvar o regime militar vigente no país.
O saldo final foi desastroso para os argentinos. Os soldados enviados para as Malvinas não estavam preparados para uma guerra. No total, 903 pessoas morreram nos 45 dias de batalha — 649 argentinos, 255 britânicos e três civis.
Um dos argentinos mortos era primo de Osvaldo Ardiles, então volante da seleção argentina e do Tottenham, da Inglaterra.
É difícil até de imaginar. Seu país natal e seu país de adoção entram em guerra. E você no meio. Com um parente no front de batalha. E às vésperas de uma Copa do Mundo, a de 1982, na Espanha, quando Ardiles, 29 anos, vestiu camisa 1 (pela ordem alfabética).
Dos grandes ídolos da história do clube inglês, Ardiles deixou a Inglaterra e foi jogar em Paris. Voltou ao Tottenham meses depois. Dócil, um ser humano espetacular, seu conflito interno gerou a mais rica história esportiva daquela absurda guerra.
O drama de Ardiles virou filme da ESPN. Com Villa, amigo e parceiro de Tottenham, ambos recordaram aqueles tempos e visitaram as Ilhas Malvinas, onde ocorreu enorme surpresa. Vale demais buscar nas plataformas de vídeo — principalmente hoje, pela solenidade do aniversário e pela calma do sábado.
Produzida por Juan José Campanella, ganhador do Oscar com O Segredo dos Seus Olhos, a produção é essencial para entender a história deste enorme jogador que foi — e desta incrível pessoa que é — o pequenino e corajoso argentino Osvaldo Ardiles.
Craque dentro e fora de campo
Campeão em 1978 com cabelo engomado e um futebol elegante e rápido, Ardiles, que defendia o Huracán, chamou a atenção do futebol europeu durante a vitoriosa campanha no Mundial disputado em casa. Logo depois do título, foi contratado pelo Tottenham, que incorporou também o já citado meia Ricardo Villa, do Racing.
Depois de vencer as barreiras burocráticas que dificultavam a presença de atletas estrangeiros na liga inglesa, o volante mostrou personalidade na hora de responder aos críticos que duvidavam de seu sucesso no país. Com 1,70 metro e 66 quilos, o franzino sul-americano era visto como um atleta de perfil incompatível com o bruto futebol inglês. Mas Ardiles compensava a falta de massa muscular com força mental e inteligência de sobra.
Reverteu a lógica, foi bicampeão da Copa da Inglaterra e virou ídolo em Londres, onde a torcida o chamava de Ossie (Ricardo Villa virou Ricky).
Foi quando veio a guerra. Sua permanência na Inglaterra tornou-se insustentável.
Ardiles chegou a atuar numa semifinal de Copa da Inglaterra com o confronto armado já em andamento. O gol da vitória sobre o Leicester partiu de uma assistência sua. Tinha mais um ano de contrato a cumprir, mas deixou o Tottenham às pressas. Enquanto ingleses e argentinos se digladiavam num arquipélago no meio do nada, Ardiles deixava o campo aplaudido de pé pela torcida londrina.
No fim, ficar sem time seria o menor dos problemas de Ossie. Já concentrado com o elenco que iria à Copa da Espanha, o volante foi informado de que um primo seu estava entre as baixas da guerra. José Ardiles, tenente da Força Aérea Argentina, tinha 27 anos e foi vitimado pelo poderio da Royal Air Force (RAF).
O volante chegou a dizer que jamais voltaria à Inglaterra. O tempo ajudou a curar as feridas e Ardiles retomou seu vínculo com o Tottenham em 1983, um ano depois do encerramento das hostilidades nas Malvinas. Ardiles continuou no clube até 1988 e foi peça importante na conquista da Copa da Uefa de 1984.
A ironia final: para gravar o "White, blue and white", o excepcional documentário da ESPN. Ardiles e Villas viajaram ao arquipélago durante as filmagens e sobreviveram a um grave acidente de carro durante a produção.
Foi um helicóptero da RAF (Royal Air Force) que transportou Ossie ao hospital.
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