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O dia em que Maradona se pintou de negro para combater o racismo
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A Libertadores da América volta a campo hoje (3) depois de uma semana repleta de atos de racismo. Enquanto todo o continente debate multas, punições e razões, a Argentina abre espaço para mais uma história imperdível dele (e quem mais poderia ser?), Diego Armando Maradona, um dos deuses do futebol mundial, morto em 25 de novembro de 2020, por uma parada cardiorrespiratória.
O ano era 1993. Maradona tentava reerguer sua carreira na Europa depois de ser preso com cocaína em Buenos Aires, suspenso pela Fifa e rejeitado pelo Napoli, clube que hoje batiza o estádio onde joga com o seu nome. Diego jogava pelo Sevilla, da Espanha, e era treinado pelo compatriota Carlos Salvador Bilardo.
Em janeiro, em ação do clube com um hospital chamado "Sanatorio del Gran Poder", Maradona impôs o seu toque pessoal ao se fantasiar como um dos três reis magos para arrecadar brinquedos a crianças hospitalizadas.
O evento ocorreu no estádio do Sevilla, o Ramón Sánchez-Pizjuán, com centenas de crianças em êxtase vendo Maradona vestido de Baltasar e pintado de negro para combater o racismo. Hoje a caracterização, chamada de black face, teria um caráter ofensivo.
"Adorei ser Baltasar", disse Diego em entrevista ao jornal argentino "Clarín". "Quando me deram a oportunidade de escolher, escolhi ser Baltasar, o rei negro, porque os negros não merecem racismo, eles estão sendo discriminados. A cor do coração é que conta, a cor da pele não têm nada a ver, todos os homens são iguais."
Para arrematar, no estilo mais "maradoniano" possível, Diego emendou: "Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Era por Baltasar que as crianças tinham mais simpatia".
O que é a história do Dia de Reis?
O Tilt, aqui do UOL, trouxe em detalhes a história do Dia de Reis. Tradicionalmente, é o dia em que as árvores de Natal devem ser desmontadas. Para os cristãos, com a festa dos Reis Magos encerram-se, afinal, as comemorações natalinas. A data é celebrada em 6 de janeiro - ou, a partir da noite do dia 5.
Os reis magos eram figuras que funcionam como metáforas de que toda a humanidade estava prestando uma homenagem ao menino Jesus. De acordo com o relato bíblico, sábios do oriente levaram presentes ao Cristo recém-nascido.
"O Evangelho de Mateus é o único a relatar a vinda de sábios do Oriente - não fala em reis, nem usa o número três", afirma o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Júnior, professor do Departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
"No século 16, lhe são atribuídas etnias: Belquior (ou Melchior) passa a ser retratado como de raça branca. Gaspar, amarelo. Baltasar, negro", pontua. "Passam a simbolizar o conjunto da humanidade."
O que é blackface e por que é ofensivo?
A prática utilizada na Europa há muitos anos tomou uma nova dimensão nos Estados Unidos do século 19. Na época, atores brancos pintavam a pele com tinta escura para realizar os chamados "minstrel shows" (em português, "espetáculos de menestréis") — espetáculos de comédia baseados na ridicularização de pessoas negras.
Na época, o racismo já era apontado: em texto publicado em 1848, o autor abolicionista Frederick Douglass descreveu os espetáculos como "a escória imunda da sociedade branca, que nos roubou a pele que a natureza lhes negou para ganhar dinheiro e agradar aos gostos corruptos de seus colegas brancos".
As apresentações reforçavam estereótipos racistas utilizados para justificar a escravidão, retratando pessoas negras como preguiçosas, ignorantes, hipersexualizadas e criminosas. No entanto, o público branco assistia aos espetáculos com normalidade e humor.
Os espetáculos eram tão populares que influenciaram outras formas de arte: no século 19, quando a segregação impedia pessoas negras de acessarem os mesmos locais que os brancos, atores brancos utilizavam a mesma caracterização dos minstrel shows para retratar personagens negros.
Os estereótipos também tiveram sua influência na cultura brasileira: a Tia Anastácia, do "Sítio do Picapau Amarelo", é uma reprodução fiel da personagem "Mammy" presente em diversos espetáculos de menestréis. O arquétipo foi utilizado para criar a falsa narrativa de que mulheres negras escravizadas gostavam de realizar serviços domésticos para famílias brancas.
Diversas produções brasileiras também utilizaram o blackface nos últimos anos, sob protestos do movimento negro. Mesmo quando a intenção não é ridicularizar a população negra, a caracterização continua exagerando seus traços e reforçando os estereótipos racistas.
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