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Melhor campanha da Argentina, Fernando Gago já merece propostas do Brasil
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Entra ano, sai ano, e os times brasileiros mantêm a rotatividade de técnicos que exige um radar dos mais apurados na hora de escolher o próximo treinador. E quem resolver olhar para a Argentina vai inevitavelmente esbarrar em um ex-jogador famoso que dá sinais de poder, ao lado do gramado, repetir o sucesso dentro das quatro linhas. Estamos falamos do ex-volante Fernando Gago, de apenas 36 anos, que levou o Racing à melhor campanha da "fase de grupos" do Campeonato Argentino (versão Copa da Liga Profissional).
A Academia de Avellaneda fechou a zona de classificação com 30 pontos em 14 jogos, superando o River Plate do badalado Marcelo Gallardo, com 29. E foi justamente ante o River, no superlotado Monumental de Núñez, que o Racing transformou um 0 a 2 em 2 a 2 causando o famoso "click" tão repetido pelos argentinos. Deu tão certo que a equipe é a única invicta do país.
O que chama a atenção no Racing de Gago é a qualidade do seu futebol agressivo, mesmo sem um elenco pesado como os dos gigantes River e Boca Juniors. A boa fase gerou até um criativo trocadilho repetido inclusive pelas torcidas rivais: a Argentina está vendo a "Gagoneta", paródia da ainda mais famosa "Scaloneta", como é chamada a seleção de Lionel Scaloni.
(Explicamos: a "Gagoneta" e "Scaloneta" seriam uma espécie de veículo improvisado — kombi ou van — com todos andando felizes e chegando surpreendentemente bem ao destino.)
O clube brasileiro que resolver apostar em Gago deve se apressar. Revelado pelo Boca, onde jogou ao todo dez temporadas, o ex-volante gera muitas especulações em Buenos Aires para ser o substituto de Sebastián Battaglia no comando xeneize.
Presidente do Racing, Victor Blanco quer segurá-lo até dezembro de 2024. "Em breve vamos oferecer a Fernando uma proposta para ele seguir comigo até o fim do meu mandato."
Última linha
O Racing contratou o habilidoso meia colombiano Edwin Cardona (ex-Boca) como reforço principal nesta temporada, mas Gago tampouco tem contado com ele, de crônica má forma física. O Racing vem repetindo um compacto 4-3-3, com um ataque poderoso com os raçudos Chancalay, Copetti e Hauche (ou Fabricio Domínguez), que destroem o adversário desde a defesa.
Esta é uma das premissas da "Gagoneta": "comer cru" o rival em todos os setores do campo, para alegria do técnico que é, de longe, o mais bem vestido do país. Muitos dizem que ele parece estar a caminho de um desfile de moda, tamanho o esmero da cor e do corte de seus ternos sempre impecáveis. O traje faz jus ao apelido de "Pintita" (o "Pintinha"), pelos trejeitos de galã portenho.
O trio ofensivo comandado por Gago agride tanto que abre oportunidade para os gols dos demais: mesmo atletas de outras posições, como o lateral Mura e os meio-campistas Alcaraz, Lolo Miranda e Mauricio Martínez, vêm obtendo bons índices ofensivos. E a qualidade do ataque não compromete a defesa: o Racing levou menos gols que o River, por exemplo (10 a 12). É a retaguarda menos vazada do Campeonato Racing.
O Racing dissimula seu favoritismo tanto no campeonato nacional quando no grande objetivo deste ano: a Copa Sul-Americana na qual está também o rival Independiente. A "Academia" divide a liderança da sua chave com o Melgar, do Peru — ambos têm nove pontos conquistados e duas partidas a jogar. Somente um se classifica.
Apenas 36 anos
O que dá o que falar na Argentina também é a precocidade de Fernando Gago. Ele acaba de completar 36 anos e ostenta um conhecido currículo de peso como jogador. Volante de classe de Boca, Real, Roma, Vélez, Valencia e dez anos de seleção argentina, pendurou as chuteiras em novembro de 2020 depois de intermináveis lesões. Semanas depois de parar de jogar, estreou como técnico no nanico Aldosivi, da cidade de Mar del Plata. O time era fraco e Gago pediu demissão após nove meses, mas chamou a atenção de um grande do país como o Racing, que anunciou sua contratação poucos dias depois.
É raro encontrar um técnico tão jovem e tão brilhante como jogador. O último argentino a abraçar a prancheta tão jovem assim foi justamente o badalado Marcelo Gallardo, aos 35 (e também muitas lesões), em 2011, no Nacional do Uruguai. O zagueiro Thiago Silva, por exemplo, está com 37 anos.
O bom momento de Gago como técnico causa reflexão também pela ausência de exemplos brasileiros com sua trajetória.
Como os argentinos costumam brincar, o Brasil "pode ser a terra dos jogadores, mas a Argentina é o país dos técnicos de futebol". De fato, o interesse do país vizinho em seguir a carreira é incomparavelmente maior. E sem falar no gosto por aventuras. Gago, por exemplo, deixou para trás a vida de luxo vivida em Roma, Madri e Buenos Aires sem pensar duas vezes antes de enfrentar o calor de janeiro na modesta sede do Aldosivi, clube no qual estreou na nova profissão.
E ele cai no gosto do torcedor do Racing por outro fator ligado à juventude: para o tradicional clube de Avellaneda, há a mística de sucesso com treinadores jovens. Foi assim com Diego Cocca, Eduardo Coudet e Sebastián Beccacece, os últimos técnicos que brilharam na equipe. O exemplo contrário seria o experiente Juan Antonio Pizzi, de pobre passado recente pela "Academia", incluindo a surra por 5 a 0 do River Plate na final da Supercopa Argentina do ano passado.
Como anda o Campeonato Argentino
O Campeonato Argentino (versão Copa da Liga Profissional) fechou a sua fase de grupos no fim de semana e agora acerta a agenda para os mata-matas em partida única.
No Grupo A, os quatro primeiros que se classificaram para as quartas de final foram, pela ordem: Racing, River Plate, Defensa y Justicia e Argentinos Juniors. No B, Estudiantes, Boca Juniors, Aldosivi e Tigre.
A AFA ainda vai oficializar as datas, mas os confrontos já estão definidos: Racing x Aldosivi, River x Tigre, Boca x Defensa e Estudiantes x Argentinos Juniors.
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