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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Por que a Argentina enxerga Calleri cada vez maior no SP e menor na seleção

Calleri comemora gol marcado de pênalti para o São Paulo na partida contra o Cuiabá, válida pelo Campeonato Brasileiro - Marcello Zambrana/AGIF
Calleri comemora gol marcado de pênalti para o São Paulo na partida contra o Cuiabá, válida pelo Campeonato Brasileiro Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Colunista do UOL

20/05/2022 04h00

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Vivendo o auge no São Paulo e exibindo a melhor média de gols da carreira, o centroavante Jonathan Calleri tem seu desempenho acompanhado praticamente em tempo real na Argentina. O motivo? O futebol jogado hoje no Brasil tem sido visto como nunca em seu país.

Quem escuta as narrações das partidas argentinas nas rádios La Red e Mitre, as duas maiores de Buenos Aires, fica sabendo do andamento também do Brasileirão. O mesmo acontece com os portais esportivos do país. Assim que um gol de Calleri ou de algum outro argentino (como Zaracho, Nacho Fernández ou Silvio Romero) acaba de acontecer, o vídeo logo a seguir ocupa o respectivo espaço no site do "Olé", o principal jornal esportivo da Argentina.

Há uma interessante simetria também entre esses quatro exemplos. Enquanto Calleri deixou saudades no Boca Juniors, o mesmo pode ser dito de Nacho no River Plate, Zaracho no Racing e Silvio Romero, vá lá, no Independiente.

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Calleri jogador do São Paulo comemora o gol marcado durante partida contra o Palmeiras pelo Campeonato Paulista
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Falando de Rogério e Corinthians em Buenos Aires

Na versão impressa do "Olé" também há um espaço fixo para o Brasileirão, dividindo espaço com ligas acompanhadas na Argentina há muitos anos, como os campeonatos de Uruguai, Chile e México.

O interesse crescente pelo Brasileirão é percebido também nos programas de debates como o F90, da ESPN, na hora do almoço, com comentários corretos e pertinentes sobre a Série A brasileira, que é transmitida na Argentina justamente pela emissora.

É por isso também que Calleri tem grande espaço nos programas especializados, fazendo da sua boa fase no São Paulo um assunto frequente nas rodas (e redes) de entendidos de futebol.

Tanto foi assim que o são-paulino participou de longos bate-papos na ESPN, TNT e no canal de TV especializado TyC Sports no começo do Brasileirão.

À ESPN, Calleri disse que Rogério Ceni era um dos melhores treinadores com o qual trabalhou, e ainda projetou um Corinthians forte tanto no Brasileirão quanto na Libertadores, fala resgatada pela emissora na apresentação dos jogos do Alvinegro contra o Boca.

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Calleri em ação pela Argentina nos Jogos Olímpicos Rio-2016
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Longe da azul e branca

Calleri começou a despontar no Boca na segunda metade de 2014, quando o técnico da seleção argentina era Tata Martino. Vieram depois outros três treinadores: "Patón" Bauza, Jorge Sampaoli e o atual Lionel Scaloni. E o hoje são-paulino jamais teve uma chance na seleção principal.

Seu desempenho na seleção olímpica que disputou os Jogos de 2016 no Rio tampouco foi positivo: nas três partidas que atuou, marcou um único gol e a seleção foi embora na primeira fase, algo sempre lembrado nas reminiscências portenhas da sua carreira.

Uma das razões de Calleri sumir do radar da seleção argentina tem a ver com a sua carreira "giratória" desde a saída do São Paulo, ainda naquele 2016.

Ele defendeu a seguir cinco clubes em cinco temporadas, e nenhum de expressão: primeiro, o West Ham, da Inglaterra, e depois os espanhóis Las Palmas, Alavés, Espanyol e Osasuna.

A ótima fase no São Paulo, porém, não traz motivos que antecipem uma convocação sua na seleção de Lionel Scaloni nos próximos meses e até nos próximos anos. A sensação é de que sobra gente na fila.

A Argentina se caracteriza pela qualidade de seus atacantes, e um simples repasse nos nomes que ocuparam o setor na seleção desde a estreia de Calleri dão conta de como ele tem uma concorrência pesada.

Em 2014, ano da Copa do Mundo do Brasil, a Argentina ainda apostava suas fichas no "quadrado mágico" Lionel Messi, Ángel Di María, Gonzalo Higuaín e Sergio Agüero.

Agora, às vésperas de mais uma Copa, os remanescentes Messi e Di María ganharam a companhia de Lo Celso na armação e Lautaro Martínez na finalização.

Mesmo entre os reservas o que não falta é jogador bom.

No Mundial de Brasil, dois nomes que saíram do banco foram Rodrigo Palacios e Ezequiel Lavezzi. Agora, Nico González, Julián Álvarez, Ángel Correa e Joaquín Correa vêm fixos nas listas de Scaloni, que também já traçam uma rota definida de renovação abrindo mão até de gente do naipe de Lucas Alario, Mauro Icardi e Paulo Dybala.

Mesmo sem considerar os "sparrings", como são chamados os juvenis tradicionalmente chamados pela seleção, Scaloni prefere centrar seus convocados todos na Europa - e há atacantes na fila como Lucas Boyé e Giovanni Simeone.

Não que os atletas do futebol brasileiro estejam totalmente fora da lista de Scaloni. O zagueiro gremista Kannemann, por exemplo, teve suas chances. Mas do meio para a frente não há mesmo como imaginar algum nome do Brasileirão no Qatar.

A idade também é um obstáculo. Calleri está com 28 anos, e Nacho Fernández tem 32. Zaracho, hoje com 24, talvez consiga espaço depois da Copa do Mundo no "novo processo" da seleção.

Calleri tem passaporte italiano desde 2016. Sem presenças na seleção argentina adulta, sua convocação para a Azzurra nem seria descabida. Ele, porém, nem quer saber da possibilidade: "Meu sonho desde criança é a seleção argentina", disse à TNT em março, ao descartar qualquer chance de repetir os exemplos dos compatriotas "Loco" Osvaldo e Camoranesi, que já atuavam então no futebol italiano.