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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Alvo do Palmeiras, Rojo comemora título fumando em campo e gera discussão

Marcos Rojo comemora título argentino do Boca Juniors fumando em campo - Reprodução TV
Marcos Rojo comemora título argentino do Boca Juniors fumando em campo Imagem: Reprodução TV

Colunista do UOL

23/05/2022 09h47

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O Boca Juniors conquistou ontem (22) o Campeonato Argentino (versão Copa da Liga Profissional). Com uma vitória por 3 a 0 sobre o Tigre, a equipe treinada por Sebastián Battaglia somou nada menos que seu 50º título nacional. Os gols xeneizes foram marcados por Luis Vázquez, Frank Fabra e Marcos Rojo — e o experiente zagueiro que estava na mira do Palmeiras em janeiro acabou sendo um dos grandes personagens do domingo.

Depois do apito final, Rojo, cercado pelos familiares, comemorou o título fumando um cigarro, bebendo cerveja e comendo pizza em pleno gramado do Estádio Mario Kempes, em Córdoba. A cena que seria comum na intimidade gerou grande discussão na Argentina sobre a mensagem que um atleta profissional - de 32 anos! - emitia em seu ambiente de trabalho.

As principais rádios portenhas passaram a tarde toda analisando o episódio.

"Esses atletas recebem milhões também para cuidar da sua imagem e não podem ser tão amadores assim. Ele faria isso jogando pelo Manchester United, por exemplo?", esbravejou na Rádio La Red o comentarista Toti Pasman, de célebres desavenças na Argentina até com Diego Maradona.

"Não seja tão amargo assim, ele acabou de ser campeão, virou dias e noites em concentração...Você queria o quê? Que ele fosse campeão e tomasse chã de hortelã?", rebateu Damian Iribarren, o "Talibã", seu companheiro de bancada.

A atitude de Rojo foi vista até como sinal de desprezo ao Tigre e ao River Plate (eliminado nas quartas de final) — afinal, tudo havia sido tão tranquilo e tão pouco cansativo que sobraria tempo até para fumar um cigarrinho.

"O que ele fez foi 'vender fumaça'", disse o narrador Federico Bulos, da Rádio Mitre, aludindo a uma gíria portenha: "vender humo" seria a pessoa que fala muito e faz pouco, despistando temas mais importantes, como, por exemplo, o rendimento inconstante do defensor ao longo do Campeonato Argentino.

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César Luis Menotti, técnico da Argentina na Copa de 1982
Imagem: Reprodução AFA

Argentino como o bife

O jogo duro e a habilidade são as duas principais faces do futebol argentino. Tanto foi assim que de 2015 a 2018 atualizamos aqui no UOL Esporte o blog ''Patadas y Gambetas''.

Mas ele bem que poderia se chamar ''Tragadas y Gambetas''.

Quem nos explicou certa vez a ligação das tragadas com o futebol foi Rodolfo "Vasco" Arruabarrena, técnico que comandou o Boca Juniors: ''A maioria dos jogadores fuma. Grande parte, pelo menos. O limite cabe ao treinador''.

''Comigo, ninguém fumava no vestiário. Tínhamos vários jovens da base. Os mais velhos não queriam dar mau exemplo'', seguiu ele. ''No carro ou em casa, faziam o que queriam. Os treinadores sabem tudo. Até quem come chocolate. Vai de cada um forçar a relação ou não.''

O episódio de Marcos Rojo fumando em campo neste domingo resgatou a saída do atacante Daniel "Loco" Osvaldo do Boca. O atacante foi expulso do time em 2016 por acender um cigarro no vestiário em um mata-mata de Libertadores contra o Nacional, do Uruguai.

O treinador já não era Arruabarrena — e sim Guillermo Barros Schelotto.

A Argentina historicamente lidera o ranking de fumantes da América do Sul. Em pesquisa revelada em 2016, as metrópoles brasileiras que encabeçavam esta listagem eram Porto Alegre (16%) e São Paulo (14%), enquanto a prefeitura de Buenos Aires dizia que 32% dos adultos da capital eram fumantes.

Aplicando a média em uma partida do Argentino: dos 22 jogadores, 7 ou 8 fumariam.

A conta está longe de ser enganosa. A Argentina olha com naturalidade para os cigarros no futebol. Os mais antigos se lembram de César Luis Menotti, de cigarro em cigarro, dando instruções aos seus jogadores na Seleção do país entre 1974 e 1982.

Daniel Passarella foi outro notório atleta fumante — era ainda o "Grande Capitão".

A Argentina que eliminou o Brasil e foi vice na Copa de 1990 também estava repleta de fumantes, como repetia Diego Maradona em histórias igualmente famosas na capital portenha.

A cultura cannabica em Buenos Aires também é massiva. E como o tabaco, encarada sem grandes tensões. Há até revistas especializadas. A mais conhecida é a THC.

Caso famoso na Argentina foi o de Sandro Guzmán. Goleiro do Boca e do Vélez Sarsfield nos anos 90, ele largou o futebol em 1997 para se dedicar à cultura rastafari.